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Emissões de dívida da América Latina caminham para recorde em meio à crise

25 dez 2020, 15:02 - atualizado em 22 dez 2020, 10:33
América Latina Pobreza Periferias
Depois que os mercados de crédito descongelaram para países em desenvolvimento no final de março, a América Latina recorreu aos títulos de dívida para enfrentar a forte crise econômica provocada pela pandemia (Imagem: Reuters/Agustin Marcarian)

A onda de emissões na América Latina parece estar longe do fim.

Governos e empresas com grau de investimento devem liderar mais um ano com alto volume de emissões de títulos internacionais em 2021, após a corrida para levantar recursos destinados a programas de alívio da pandemia de Covid-19 neste ano.

Emissores captaram cerca de US$ 140 bilhões nos mercados internacionais de dívida em 2020, um aumento de 20% em relação ao ano anterior, de acordo com o Citigroup, segundo maior subscritor da região neste ano, com base em dados compilados pela Bloomberg. O JPMorgan Chase lidera as subscrições na região em 2020.

“Provavelmente subiremos no ano que vem” e, talvez, testaremos o pico de 2017, quando as vendas atingiram um recorde de US$ 150 bilhões, disse Chris Gilfond, responsável por mercado de capitais do Citi para a região. “Não há razão para acreditar que as necessidades irão diminuir materialmente.”

Depois que os mercados de crédito descongelaram para países em desenvolvimento no final de março, a América Latina recorreu aos títulos de dívida para enfrentar a forte crise econômica provocada pela pandemia. Alguns dos maiores emissores, como México e Peru, repetiram vendas e até mesmo empresas de menor porte e mais arriscadas conseguiram acessar os mercados pela primeira vez em meio à busca de investidores por rendimentos.

A pandemia deve continuar a afetar a economia regional: a maioria dos países não conseguirá retornar aos níveis de crescimento pré-vírus antes de 2023, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Isso levará governos e grandes empresas de volta aos mercados de dívida em 2021, disse Gilfond.

Embora a crise econômica tenha levado algumas empresas a pedirem recuperação judicial – particularmente companhias aéreas -, o desempenho do setor corporativo foi melhor do que alguns esperavam. Os índices de default estão sob controle, em torno de 4,4%, e devem cair para 3,6% em 2021, de acordo com analistas do JPMorgan.

O banco prevê a emissão de cerca de US$ 75 bilhões em títulos corporativos no próximo ano, um volume estável em relação a este ano, com o refinanciamento e gestão de passivos como fatores de impulso da maioria das vendas. A região oferece o maior rendimento médio entre mercados emergentes, disseram analistas liderados por Natalia Corfield em relatório sobre as perspectivas para 2021.

Empresas com grau de investimento e governos devem ser os primeiros a acessar os mercados no novo ano, disse Ricardo Navarro, responsável por renda fixa para a América Latina no Itaú Unibanco, que projeta emissões entre US$ 120 bilhões e US$ 150 bilhões em 2021.

Segundo Navarro, as necessidades de financiamento são resultado direto da lenta recuperação dos impactos da pandemia. No ano que vem, disse em entrevista por telefone, as emissões nos mercados de títulos internacionais servirão para cobrir necessidades de liquidez em meio à recuperação.