Internacional

Emissão de títulos de 100 anos do Peru desafia caos político

24 nov 2020, 10:58 - atualizado em 24 nov 2020, 10:58
Congresso do Peru
Os investidores olham além da turbulência política, já que a combinação de juros baixos globais, dólar mais fraco e grandes pacotes de estímulo fiscal aumenta o apelo de alguns ativos (Imagem: Facebook/ Congresso do Peru)

O Peru, que neste mês já teve três presidentes, convenceu investidores sobre a solidez das instituições financeiras do país.

O governo vendeu US$ 4 bilhões em títulos na segunda-feira, incluindo dívida com vencimento em 100 anos. A emissão de títulos foi realizada poucos dias após protestos na esteira do impeachment de Martín Vizcarra, o que levou a moeda sol a uma mínima histórica e à renúncia de seu sucessor Manuel Merino.

“Independentemente dos eventos políticos, existe a confiança que investidores depositam nas instituições financeiras de nosso país”, disse José Olivares, responsável por dívida pública do Ministério das Finanças. “Quando comentam sobre os títulos do Peru, dizem que é um ativo livre de risco”, afirmou em entrevista.

Os investidores olham além da turbulência política, já que a combinação de juros baixos globais, dólar mais fraco e grandes pacotes de estímulo fiscal aumenta o apelo de alguns ativos de países em desenvolvimento.

A emissão do Peru incluiu títulos de 12 anos que foram colocados com 100 pontos-base em relação aos Treasuries dos EUA, bem como títulos de 40 anos e notas de 100 anos com spreads de 125 e 170 respectivamente, disse uma pessoa a par do assunto que pediu anonimato.

Nesse nível, os títulos de 100 anos do Peru são os de menor rendimento já vendidos por um governo de mercado emergente. Argentina, México e Irlanda também venderam títulos de 100 anos recentemente. Os títulos da Argentina, emitidos em 2017, foram reestruturadas neste ano.

Olivares disse que a equipe viu uma “janela de oportunidade” quando os ativos do país se recuperaram na semana passada, depois que o Congresso aprovou o centrista Francisco Sagasti para completar o mandato presidencial que acaba em julho do ano que vem. Ele disse que a demanda pelas emissões de títulos em três partes foi de US$ 15 bilhões.

“O Peru tem uma posição externa forte e um baixo nível de endividamento”, disse Shamaila Khan, diretora de dívida de mercados emergentes da AllianceBernstein, em Nova York. “Esperamos que o país seja um crédito sólido de grau de investimento, apesar da volatilidade política.”

O Peru ainda é um dos países mais seguros da América Latina para investimentos, com um spread soberano de 149 pontos-base sobre os títulos do Tesouro dos EUA, de acordo com o JPMorgan Chase.

Os recursos das emissões ajudarão o Peru a combater uma das piores taxas de mortalidade de Covid-19 do mundo e o impacto financeiro da pandemia. O governo vendeu US$ 3 bilhões em dívida em abril para financiar o que era então um dos pacotes de estímulo mais ambiciosos da América Latina. Olivares disse que o governo planeja outras emissões de títulos no próximo ano, principalmente em moeda local.

O Peru já passou por oito defaults da dívida externa e reestruturações desde sua independência em 1821, de acordo com o livro “This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly (Desta vez é diferente: Oito séculos de loucura financeira)”.

O Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, Citigroup, Goldman Sachs, Itaú BBA e Morgan Stanley ajudaram a coordenar a emissão.

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