Coluna do João Baptista Peixoto Neto

Embedded finance é uma das molas propulsoras do mercado de capitais; entenda

25 jan 2025, 13:00 - atualizado em 24 jan 2025, 14:37
crédito privado - debentures - cri - cra -lci-lca
Atualmente, 76% do crédito está nas mãos dos bancos, mas estudos mostram que até 2039 os bancos representarão apenas 32% deste segmento. (Imagem: Edson Souza / iStock)

O patrimônio líquido dos FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) encerrou o ano de 2024 em R$ 589 bilhões. No ano, a captação líquida somou R$ 113 bilhões, quase o triplo dos R$ 40 bilhões de 2023. O movimento fez os FIDCs superarem o PL dos fundos de ações (R$ 584 bilhões) pela primeira vez na história.

Esse forte crescimento ilustra como a transformação do mercado de capitais é um caminho sem volta. Minha projeção é que o PL dos FIDCs atinja R$ 2,8 trilhões em 2030. A onda do Embeded Finance fará com que toda grande empresa tenha seu próprio FIDC nos próximos anos e esse é só mais um sinal da revolução pela qual está passando o mercado financeiro do Brasil, especialmente o mercado de crédito.

Daqui a dez anos teremos gestoras de fundos de investimento maiores que bancos médios em ativos sob gestão. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado de capitais é quatro vezes maior que o bancário e a tendência é que o Brasil siga esse caminho por intermédio da securitização de créditos.

Outro dado interessante é que, atualmente, 76% do crédito está nas mãos dos bancos, mas estudos da Ouro Preto baseados em dados da Anbima, do Banco Central e da B3 mostram que até 2039 os bancos representarão apenas 32% deste segmento. Produtos como FIDCs, debêntures de infraestrutura ou incentivadas, CRI (FII), CRA (Fiagro), CR e outros valores mobiliários com lastro em carteiras de créditos concentrarão os outros 68% movimentados pelo mercado de crédito.

O mercado está dando uma guinada e isso é bom porque empresas e pessoas físicas estão tendo cada vez mais acesso a formas diferenciadas de crédito e, mais do que a diversificação, é também um movimento de desconcentração do setor.

Vários fatores contribuíram para essa transformação que estamos vivendo, como diversas mudanças regulatórias, como o Marco da Securitização, a Resolução 175 da CVM, popularização do investimento em crédito privado, crescimento das plataformas de investimentos, aumento da digitalização, open finance, surgimento do “banking as a service” e do “credit as a service” e inúmeras fintechs, SCDs, entre outros exemplos. Dessa forma, a securitização de créditos está se tornando uma tendência irreversível.

E neste grupo de fatores que beneficiam o mercado de capitais não se pode esquecer de um que tem sido essencial: o embedded finance, que é a inclusão de soluções financeiras entre os produtos ou serviços oferecidos por uma empresa de um setor não financeiro. Por exemplo, quando uma loja de roupas oferece um cartão de crédito exclusivo ou um fabricante de automóveis abre uma linha de crédito própria para financiamento de seus veículos, o modelo em si é o embedded finance.

Os grandes aliados para essas operações são os fundos de investimentos em direitos creditórios e, claro, as empresas de banking as a service e/ou credit as a service, pois fornecem a tecnologia de interface para tornar o processo ágil e seguro.

Para facilitar o entendimento, no modelo de embedded finance, sócios, controladores ou empresas coligadas, assim como investidores profissionais, qualificados ou não, poderão investir em FIDCs, com retornos mais atrativos que outros produtos do mercado.

Assim, fornecedores poderão vender a prazo e receberem à vista por meio da cessão de duplicatas para o FIDC. Os clientes passam a contar com uma linha de crédito (CDC, Vendor ou Compror), aumentando as vendas da empresa, os colaboradores da companhia que adotou o modelo, passam a ter acesso a uma linha de crédito consignado privado com taxas melhores do que as ofertadas por bancos e, por fim, a empresa pode antecipar os seus próprios recebíveis a uma taxa melhor do que aquela oferecida pelo setor bancário.

Isso tudo já é uma realidade. Empresas de grande porte como C&A, iFood, Magazine Luiza, Havan, Hyundai, Honda, Renault Nissan, Fiat, Quinto Andar, e muitas outras, já adotaram o modelo. Em breve, como o avanço tecnológico, o embedded finance se tornará mais acessível e simples para empresas de médio porte. O crescimento será exponencial e quem for rápido, como as companhias citadas foram, vai capitalizar muito daqui para a frente. Bom para o mercado de capitais, para a economia e para o Brasil.

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Fundador e Diretor Presidente da Ouro Preto Investimentos
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.
joao.neto@moneytimes.com.br
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Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.
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