Em tentativa de “cessar fogo” entre cofundadores, Bitmain poderá se fragmentar
Espera-se que a Bitmain passe por um grande processo de divisão em uma tentativa de pôr fim à longa luta interna de poder.
No início de dezembro, uma fonte contou ao The Block que Jihan Wu e Ketuan Zhan, os cofundadores da Bitmain, estão negociando desde setembro. Segundo a fonte, uma cessão comercial pode ser a decisão mais viável.
“Quem vai ficar com tal parte depende do resultado das negociações, mas a divisão é uma conclusão previsível”, disse a fonte. “Qualquer que seja o resultado, a separação será inevitável.”
Em 2 de dezembro, a Bitmain Technologies Holding, empresa-mãe da Bitmain com sede nas Ilhas Cayman, enviou um pedido a Hong Kong para cessar seu registro como uma entidade estrangeira.
Essa decisão, semanas antes de a Bitmain precisar envia um relatório anual da empresa a Hong Kong, sugere que uma possível reestruturação pode mudar sua estrutura e seus membros do comitê.
Colin Wu, ex-assessor de imprensa da Bitmain, publicou, em seu perfil do WeChat neste sábado (19), que ambos os lados chegaram a termos temporários na última quarta-feira (16).
Segundo o artigo, Zhan concordou em conceder sua participação da Bitmain para tomar US$ 600 milhões emprestado e comprar a participação de governança de Wu.
Como resultado, a Bitmain irá desmembrar sua plataforma de mineração em nuvem BitDeer, seu conhecido pool de mineração BTC.com e suas fazendas estrangeiras de mineração de sua empresa de fabricação de máquinas com chips ASICs (circuitos integrados de aplicação específica).
Wu ficará com BitDeer, BTC.com e as fazendas estrangeiras de mineração, segundo a publicação. Zhan voltará a ser responsável pelos negócios de fabricação e inteligência artificial da Bitmain, além das fazendas nacionais de mineração.
Dito isso, parece que ambos ainda serão competidores sob esse acordo. A fonte afirmou que Zhan recontratou Haiyi Lu, ex-cofundadora da BitDeer, que será responsável por uma oferta de mineração em nuvem junto com o Antpool, a fim de competir com BTC.com e BitDeer.
A publicação também afirma que, com base em acordos temporários, Zhan se compromete a listar a Bitmain em bolsa nos EUA até o fim de 2022. Porém, disse que, agora, o limite de valoração qualificada de uma oferta pública inicial (IPO) é de US$ 5,5 bilhões.
Se for esse o caso, investidores externos poderão obter um desconto significativo em seus investimentos, pois a valoração mínima e qualificada da IPO da Bitmain é de US$ 18 bilhões, segundo a versão mais recente de seu estatuto.
Quando a empresa arrecadou mais de US$ 700 milhões em uma rodada de financiamento “series B” e “series B+” (para a expansão de seu alcance de mercado) em julho e agosto de 2018, a valoração estava em US$ 12 bilhões e US$ 14,5 bilhões, respectivamente.
Na época, Bitmain assinou termos de reembolso que shareholders externos podem obter caso precise comprar suas ações reembolsáveis e conversíveis com juros, se houver um efeito adverso e material à gestão da empresa ou se não for capaz de anunciar uma IPO em até cinco anos.
Uma IPO foi incluída no estatuto de empresa da Bitmain Technologies Holdings como uma arrecadação pública de até US$ 500 milhões a uma valoração de US$ 18 bilhões em uma das cinco bolsas de valores em Shanghai, Shenzhen, Hong Kong ou na Cidade de Nova York.
Ainda não se sabe se a Bitmain já alterou seus estatutos de empresa para alterar o valor mínimo de uma IPO. A publicação afirma que a Bitmain irá realizar uma reunião em 28 de dezembro para obter a aprovação dos shareholders sobre a grande mudança.
A saga com um ano de duração
A mais recente reviravolta vem três meses após Wu ter tomado de volta, de Zhan, o status de representante legal da Beijing Bitmain, a operadora da fabricante de mineração de bitcoin em Pequim.
Em setembro de 2020, Bitmain disse que Wu recuperou o status de representante legal enquanto Zhan permaneceu sendo um gestor-geral, dando a entender que ambos os lados haviam dado uma trégua a curto prazo, visando apresentar uma solução sustentável a longo prazo.
Na época, a Bitmain disse que a briga entre Wu e Zhan, desde outubro de 2019, causou sérios danos à sua participação e imagem no mercado de mineração de bitcoin enquanto seus clientes e funcionários estavam no fogo cruzado.
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Toda a situação datou para março de 2019, quando Wu e Zhan renunciaram seus cargos de codiretores executivos e copresidentes após a solicitação de IPO da Bitmain não ter sido aceita em Hong Kong. Ambos chegaram a escolher um novo CEO enquanto Zhan continuou sendo o único presidente.
Em um motim em outubro de 2019, Wu de repente restringiu Zhan da empresa e revogou seus direitos como representante legal, presidente e diretor executivo, apesar do fato de Zhan ser um grande shareholder da empresa.
Em uma reunião geral com seus funcionários após o motim, Wu disse que ele deveria voltar para “salvar o barco” e acusou Zhan de arruinar a empresa. Bitmain teve um prejuízo de US$ 60 milhões em 2019, segundo um advogado da empresa.
Em seguida, Zhan abriu processos judiciais contra a Bitmain e venceu parcialmente em maio, a fim de recuperar seu status de representante e diretor executivo.
Desde então, a tensão entre ambas as partes veio a público, quando cada um lançou sua própria linha de vendas e operações de cadeia de fornecimento, praticamente bifurcando a produção de máquinas de mineração de bitcoin da empresa.