Política

Em reação ao STF, Câmara articula votar PEC que dificulta prisão de parlamentares

24 fev 2021, 19:11 - atualizado em 24 fev 2021, 19:11
Arthur Lira
Arthur Lira determinou a apreciação da PEC em plenário “excepcionalmente” pelo fato de a CCJ não ter sido instalada (Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), incluiu na pauta de votações do plenário nesta quarta-feira uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que, ao ampliar prerrogativas e imunidades de congressistas, dificulta a prisão de parlamentares.

A iniciativa tem sido considerada uma reação da Câmara à detenção determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).

O texto foi formalmente apresentado no final da manhã desta quarta-feira com o apoio de 186 deputados e teve um rito de tramitação acelerado e incomum: já entrou na pauta do plenário sem passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e por uma comissão especial.

Arthur Lira determinou a apreciação da PEC em plenário “excepcionalmente” pelo fato de a CCJ não ter sido instalada.

Em publicação no Twitter no início da noite desta quarta, Lira fez uma defesa da atuação parlamentar.

“Quando se contrapõe à democracia, a ‘inviolabilidade’ do mandato parlamentar não é absoluta, como bem demarcou o STF e, com 364 votos, a Câmara. Mas a inviolabilidade não foi revogada e sua autoria é dos mesmos que inscreveram as atribuições da Suprema Corte na mesma Constituição”, disse ele.

“Sou a favor, sim, que o Congresso faça sua autocrítica e defina um roteiro claro e preciso para o atual vácuo legal para lidar com situações desse tipo”, acrescentou.

Pela íntegra da PEC, vista pela Reuters, o parlamentar que for preso em flagrante por crime inafiançável ficaria sob a custódia do Congresso e não em uma unidade prisional como é o caso de Daniel Silveira, por exemplo.

O texto proíbe o afastamento cautelar de um membro do Congresso Nacional por decisão do Judiciário e também determina que somente o STF possa tomar decisões de busca e apreensão, “quando cumprida nas dependências das respectivas Casas ou residências de parlamentares”.

A medida cautelar, conforme a redação, precisa ter o aval do plenário do Supremo. Atualmente essas medidas têm sido decretadas apenas por decisão individual dos ministros.

A articulação da Câmara tem causado forte reação nas redes sociais e em meios jurídicos e legislativos.

Uma fonte do STF disse ter se surpreendido com a iniciativa da Câmara de pautar o assunto e destacou que o assunto deve parar na Corte “em breve”.

O deputado Fábio Trad (PSD-MS) criticou a proposta. Disse que a redação da PEC não está adequada.

“Precisa de aperfeiçoamentos. Não se sustenta proibir a prisão em flagrante por crimes contra a administração pública. Esta pressa não condiz com a importância de uma mudança constitucional. Votarei contra”, afirmou.

Segundo Trad, a proposta “contém um dispositivo de natureza penal que, se for aprovado, retroagirá beneficiando Daniel Silveira com a extinção da ação penal e consequente liberdade”.