Economia

Em jantar, Gleisi garante mandato de Campos Neto e diálogo aberto com empresários

05 abr 2022, 14:40 - atualizado em 05 abr 2022, 14:40
Gleisi Hoffmann
O próprio ex-presidente já falou, em entrevista, que chamaria Campos Neto para conversar se voltar ao Planalto (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O discurso foi distante das ideias liberais desejadas pela maioria, mas o encontro entre a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e 30 empresários, na segunda-feira, terminou com duas informações que caíram muito bem aos ouvidos presentes: o PT irá trabalhar com Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central e não se pensa em controle de preços de combustíveis.

O jantar, marcado pelo Think Tank Esfera Brasil, reuniu Gleisi com alguns pesos pesados da indústria brasileira, como Abílio Diniz, o presidente do grupo Riachuelo, Flávio Rocha, Eugênio Mattar, presidente do Conselho da Localiza, e Cândido Pinheiro, do grupo Hapvida (HAPV3), e girou, obviamente, em torno das preocupações dos empresários com as políticas econômicas a serem adotadas pelo PT no caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro.

De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, na conversa Gleisi garantiu aos presentes que o partido não pretende comprar briga ou tentar tirar Roberto Campos Neto do cargo.

A presidente do PT deixou claro que o partido vai respeitar o mandato e não tem intenção inicial de tentar mudar a lei que tornou o Banco Central independente.

Como já havia mostrado a Reuters, apesar da posição tradicional do partido ser contrária a um Banco Central independente, a avaliação de Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, é que há questões mais prioritárias para o partido se voltar ao poder.

O próprio ex-presidente já falou, em entrevista, que chamaria Campos Neto para conversar se voltar ao Planalto.

“Foi uma conversa em tom absolutamente cordial”, disse uma das fontes, ligada aos empresários. “Evidentemente que eles (empresários) preferiam um governo mais liberal, mas se sentiram confortáveis com o fato de que Campos Neto vai ficar e que Lula é do diálogo, que está e continuará conversando com empresários.”

Gleisi garantiu aos presentes que o partido não pretende comprar briga ou tentar tirar Roberto Campos Neto do cargo (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Gleisi levou ao encontro o economista Gabriel Galípolo, ex-presidente do banco Fator e ex-sócio de Luiz Gonzaga Belluzzo um dos nomes da economia ainda hoje ouvidos por Lula.

Apesar de não ter ainda um papel formal na equipe de campanha que está sendo montada, Galípolo tem ajudado o partido na formação de um plano de governo, especialmente nas áreas de energia e infraestrutura, e sua presença agradou os empresários.

As propostas relatadas por Gleisi não diferem do que já foi dito e repetido pelo próprio Lula em entrevistas e discursos.

Aliás, a deputada fez questão de reafirmar que a cabeça da economia do partido é Lula, e não há nomes ainda sendo considerados para ministros.

Estão claras a intenção do PT, se eleito, revisar a reforma trabalhista, mexer com teto de gastos que Gleisi fez questão de lembrar que já é praticamente inexistente e acabar com a paridade de preço da Petrobras (PETR4) com a variação do dólar e o preço do barril de petróleo no mercado internacional e a política de aplicação dos lucros da estatal.

No entanto, a garantia de que não se está falando, hoje, em controle de preços que a deputada deixou claro que não é do agrado dela e de Lula acalmou ao menos algumas dúvidas dos presentes.

“Há uma disposição para diálogo, isso ficou bem claro. Ela lembrou que Lula tem dito que vai reativar o Conselhão e que nada vai ser feito sem conversar com os empresários”, disse a fonte. “Claro que a pauta deles (empresários) é manter reforma trabalhista, aprofundar, mas há uma disposição para o diálogo.”

Por enquanto, esse diálogo tem se dado por outros representantes do PT, mas não diretamente com o ex-presidente.

Lula tem tido encontros privados com empresários com os quais tem relações pessoais, mas não tem aceitado convites de grupos do mercado para conversas.

Esse é um movimento que virá mais tarde, tem dito o ex-presidente.

O convite do Esfera Brasil foi feito diretamente a Gleisi, que aceitou incentivada pelo ex-presidente.