Em ato de generosidade, Copom avalia que pacote da Fazenda pode atenuar risco fiscal; veja ata na íntegra
O Banco Central divulgou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à postura adotada pela autarquia.
Sem grandes surpresas, o documento manteve o tom firme do comunicado da última quarta-feira (1), apontando para uma preocupação com o risco fiscal e a piora nas expectativas de inflação.
“Tal deterioração pode ter ocorrido por diversas razões”, afirma o Copom. “Dentre esses fatores, uma possível percepção de leniência do Banco Central com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional, uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas”, diz a ata.
Embora o Banco Central destaque que a revisão do arcabouço fiscal diminui a visibilidade sobre as contas públicas para os próximos anos, a autoridade monetária também ressalta que alguns membros acreditam que o pacote econômico apresentado pelo Ministério da Fazenda pode atenuar o risco fiscal.
Isso pode até ser considerado o ato de generosidade pedido pelo ministro Fernando Haddad. Ontem, ele disse que os alertas do Banco Central sobre a situação fiscal se referem ao legado deixado pelo governo de Jair Bolsonaro.
“Existe realmente uma situação fiscal que inspira cuidados, mas isso é uma herança que temos de administrar […] Nosso compromisso é com o equilíbrio das contas. Anunciei no dia 12 que nós vamos perseguir resultados melhores. Nesse particular, eu penso que a nota poderia ser um pouco mais generosa com as medidas que nós já tomamos”.
As projeções de inflação do Copom situam-se em 5,6% para 2023 e 3,4% para 2024. Vale lembrar que as metas de inflação para 2023 e 2024 são de 3,25% e 3%, nesta ordem, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Cenário internacional
Em relação às perspectivas globais, o Copom destaca que o crescimento econômico segue abaixo do potencial e o ambiente inflacionário ainda é desafiador. No entanto, já é observada alguma moderação em diversos países com a normalização nas cadeias de suprimento e uma acomodação nos preços das principais commodities.
Já o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho e as pressões inflacionárias no setor de serviços devem demorar a se dissipar.
“O processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas de forma sincronizada […] após o processo de alta de juros, se delineia um período prolongado de juros elevados, o que requer maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de países emergentes”, diz o Copom.
Comitê vigilante
O Banco Central reafirmou seu compromisso em conduzir a política monetária para atingir as metas estabelecidas e que seguirá atento e perseverará até que a ancoragem das expectativas se consolide.
“O Comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz.
Na semana passada, o Copom optou pela manutenção da Selic em 13,75% ao ano, sem indicar quando devem acontecer os primeiros cortes nos juros.
“O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta.”