Eletrobras voltará a ser uma “estatal ruim”? Veja o que fazer com as ações
Nada é certo no Brasil. E, quando se fala em expectativas construídas com base em fatores políticos, é ainda pior. É com base nesta percepção que alguns analistas do mercado financeiro ainda mantêm a recomendação de compra das ações da Eletrobras (ELET3; ELET6). Isso mesmo com a chance muito menor de sua desestatização.
“Não esperamos mudanças significativas para a empresa no curto prazo e, consequentemente, reiteramos nossa recomendação de compra para ELET6“, explicam Thiago Silva, André Sampaio e Guilherme Ferreira Lima, especialistas do Santander.
Os papéis da estatal caem forte nesta terça-feira (26) após um dia de queda superior a 10% na véspera em Nova York, quando a B3 (B3SA3) estava fechada por conta do feriado do aniversário da cidade de São Paulo.
A maior empresa de energia da América Latina já havia sofrido um forte impacto na semana passada na Bolsa. Os papéis caíram forte após o candidato favorito a levar a presidência no Senado, Rodrigo Pacheco, afirmar que é a favorável a privatização, mas que a pauta não é uma prioridade no momento.
A notícia também teria motivado a saída precoce do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior. O argumento oficial foi “motivos pessoais”. Ele, que assumiu o cargo em julho de 2016, continuará no posto até 5 de março para garantir uma transição adequada para seu sucessor.
O analista Daniel Travitzky, do Banco Safra, vê uma chance de apenas 20% para a privatização. Esta percepção o levou a cortar as estimativas para as ações ordinárias (ELET3) de R$ 53,80 para R$ 35,10 e das preferenciais de classe B (ELET6) de R$ 55,30 para R$ 36,70. A recomendação caiu de compra para neutra.
“Apesar do potencial de alta ainda sobre a mesa, esperamos que o mercado precifique riscos de perdas de eficiência após o Sr. Ferreira deixar a empresa”, aponta Travitzky.
Estatal ruim
Para Francisco Navarrete e Ricardo França, da Ágora Investimentos, dado o cenário atual de incerteza e deterioração nas perspectivas de privatização, o mercado provavelmente começará a precificar com uma probabilidade maior de que a Eletrobras se tornará uma estatal ‘ruim’, “o que, a propósito, ainda não é certo (levaria tempo para desfazer toda a governança corporativa / melhorias operacionais feitas nos últimos anos)”.
A manutenção de uma visão de “estatal boa”, com a continuidade das melhorias operacionais introduzidas pela administração de Wilson, o valor justo atual da ação seria de R$ 35,00, explicam. Mas se voltar a ser uma empresa “ruim”, esta projeção cairia para R$ 27.
“Notadamente, existem algumas melhorias feitas pelo governo Wilson que são irreversíveis, como a venda das seis distribuidoras que drenam dinheiro na região Norte e Nordeste”, destacam Navarrete e França. Eles mantêm a indicação neutra, com preço-alvo de R$ 41 e 90% de chances de a Eletrobras permancer uma empresa “boa”.