Elétricas devem ter cortes e rever planos com destruição de demanda pós-Covid, diz PwC
A destruição da demanda por eletricidade gerada pela pandemia de coronavírus e suas consequências econômicas no Brasil devem exigir ajustes na estratégia de empresas do setor elétrico, como revisão de planos de investimento e cortes de custos e equipes, apontou estudo de uma consultoria do grupo PwC.
Por outro lado, impactos da crise decorrente do vírus podem também abrir espaço para operações de fusões e aquisições e forçar a aceleração de processos de digitalização entre as elétricas, disse o consultor Ricardo Pierozzi, da Strategy&, empresa da PwC focada em estratégia corporativa.
A avaliação leva em conta cenários que preveem desde uma volta mais rápida na demanda, em formato de “V”, até uma recuperação lenta, em “U”, passando também por uma alternativa “drástica”, na qual poderiam ser necessárias novas quarentenas contra o vírus no país, o que empurraria a indústria para uma temida retomada em “L”.
“Pode levar quatro, cinco anos para que o mercado recupere o nível de consumo que ele apresentou no ano passado… é uma situação extremamente atípica, não tem no passado nenhum momento que a gente possa olhar que seja análogo a esse”, disse Pierozzi.
“As empresas vão ver uma redução na sua linha de receita e manutenção do custo, portanto um achatamento de margens e rentabilidade. Quem não fizer essa revisão estratégica vai ver a rentabilidade caindo”, acrescentou.
O cenário mais drástico projetado pela consultoria envolveria uma retração de 11% no PIB do país, mais acentuada que as atuais previsões de economistas.
Numa visão de crise “severa”, o PIB cairia 8,5%, com alta de 1,8% m 2021. Já uma visão mais otimista, de crise moderada, envolveria recuo de 5,5% no PIB em 2020.
Economistas de mercado projetam retração de 6,54% do PIB brasileiro em 2020, de acordo com boletim Focus, do Banco Central. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta recuo maior, de 9,1%.
O consumo de energia elétrica no país recuou quase 12% em abril e cerca de 10% em maio, primeiros meses totalmente sob impacto de quarentenas decretadas por governos e prefeituras para conter a disseminação do vírus.
Em junho, a queda de demanda era de cerca de 6% até dia 19, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Ajustes
Com a menor demanda, as elétricas precisarão rever custos gerenciáveis e planos de investimentos, além de possivelmente reduzir equipes devido à desaceleração econômica geral, apontou o estudo da Strategy&.
Nos aportes, os cortes devem envolver desde a reprogramação dos gastos previstos em expansão, devido ao crescimento mais lento esperado agora para o mercado, quanto a readequação de investimentos em melhorias ou modernização, até para não gerar pressões adicionais sobre as tarifas dos consumidores, explicou Pierozzi.
Como aportes feitos por distribuidoras na rede são levados em consideração pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para definição das tarifas, eles poderiam se somar a pressões tarifárias já decorrentes da crise do coronavírus.
Dada a redução no consumo e a maior inadimplência de clientes decorrentes da pandemia, o governo estruturou um grupo de bancos que providenciará empréstimos de 16,1 bilhões de reais às distribuidoras de energia, que deverão ser quitados em cinco anos com repasse de custos aos consumidores.
Segundo o Ministério de Minas e Energia e a Aneel, a medida evita aumentos tarifários mais pesados que poderiam ser necessários neste ano para equilibrar as operações das distribuidoras, aliviando consumidores em momento de fragilidade econômica devido à pandemia.
Oportunidades
Apesar dos impactos negativos esperados, as turbulências geradas pela Covid-19 podem abrir oportunidades para empresas de energia, principalmente as mais sólidas, uma vez que grupos menores ou que já enfrentavam dificuldades podem se ver obrigados a se desfazer de ativos, segundo a consultoria.
Além disso, o câmbio desvalorizado no Brasil aumenta o poder de fogo de grandes grupos internacionais neste momento, apontou a Strategy& no estudo.
“Essa reconfiguração momentânea pode gerar movimentos rápidos de fusões e aquisições, tanto para consolidação quanto para diversificação. Esses movimentos devem ser rápidos, pois as oportunidades podem não durar muito.”
Esses negócios poderiam envolver a troca de mãos de ativos de geração, transmissão e distribuição, a aceleração de privatizações no setor ou até movimentos de consolidação entre fornecedores e fabricantes, disse Pierozzi.
“Momentos como esse separam mais as empresas. Quando está tudo muito bem, está todo mundo muito parecido, os múltiplos de mercado vão ficando mais próximos. Quando acontece uma ‘chacoalhada’ dessas, isso abre, a dispersão aumenta e você identifica mais facilmente quem são os vencedores e os perdedores”, afirmou.
Outro fator que deve ser positivo para as elétricas é a aceleração da inserção de tecnologias em suas operações, como o uso de processos digitais e aplicativos para leitura e pagamentos das contas, por exemplo, disse ele.