Money Times Entrevista

Elena Landau: “Tudo que Bolsonaro faz na Petrobras, vai querer fazer na Eletrobras” sem privatização

18 maio 2022, 14:46 - atualizado em 16 jun 2022, 13:53
Eletrobras
Landau argumenta que a desestatização da Eletrobras é “indipensável” (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

A economista, ex-diretora de privatização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-presidente do conselho da Eletrobras (ELET6) Elena Landau conversou com o Money Times sobre o que está em jogo na possível desestatização da companhia elétrica, prevista para ser aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nesta quarta-feira (18).

Landau argumenta que a desestatização é “indipensável” para garantir a eficiência operacional da empresa e a sua blindagem contra interesses políticos, como também critica a inserção de jabutis na Medida Provisória responsável pela operação.

Eletrobras com maior eficiência operacional

Landau acredita que o processo de desestatização tem grande potencial de aumentar aa eficiência da empresa.

“O que se quer com a privatização da Eletrobras é desfazer o que foi feito com a MP 579 — um retrocesso regulatório que mal remunera a operação. Então, se visa modernizar o sistema elétrico, com o mesmo tipo de concessionárias competindo entre si”, explica.

A economista se refere à Medida Provisória aprovada em setembro de 2012, que determinou a redução média nas tarifas de energia em 20% a partir do corte do custo da geração das hidrelétricas.

“[A privatização da Eletrobras] É um passo muito importante, porque a empresa tem capacidade de redução interna de custos muito grande. Pode trazer preços mais baratos, uma operação mais barata”, acrescenta.

“A companhia passa por problemas para investir e tem potencial enorme de aumentar a participação de renováveis na matriz brasileira, e tudo isso ajuda a melhorar o preço na origem, na tarifa da geração. O problema é que junto com a proposta vieram os jabutis, que anulam os potenciais ganhos”, alerta.

Conta de luz vai aumentar?

Quando questionada se a privatização da empresa poderá encarecer a conta de luz, como os contrários à proposta apontam, a economista afirma que o impacto final para o consumidor ainda não pode ser dimensionado.

Mas, para Landau, é certo que o repasse da tarifa será pressionado pela aprovação dos chamados “jabutis” – no jargão político, “jabuti” é um trecho, sem relação com o objetivo original da proposta, colocado no meio do texto para uma aprovação por tabela.

“Parte dos recursos da Eletrobrás estava indo para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para compensar o aumento que você teria da transição das usinas por cotas para o mercado livre. Mas agora você está usando o CDE para compensar os jabutis”, pontuou.

Junto com a MP que viabilizou a privatização, passaram propostas como a contratação de 8 mil megawatts de usinas termelétricas movidas a gás que, segundo estimativas, podem custar até R$ 100 bilhões.

“Se a privatização não sair, você fica com os jabutis e ainda fica com a empresa na mão do governo, que tem capacidade de investimento limitada em comparação com o mercado. E, se resolver investir, vai investir de maneira errada, como foi feita nos governos do PT“.

Uma nova Petrobras?

Landau também cita que a privatização é um caminho para blindar a Eletrobras de interesses políticos, como os do presidente da República, Jair Bolsonaro.

“Ao que tudo indica, tudo o que Bolsonaro faz na Petrobras, ele vai querer fazer na Eletrobras. Então, a privatização virou fundamental, independentemente dos erros iniciais, para compensar os jabutis e proteger a estatal do avanço de interesses políticos”, sublinha.

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