Eleições 2022

Eleitor jovem brasileiro é estimulado a votar e pode beneficiar Lula

14 abr 2022, 16:09 - atualizado em 14 abr 2022, 16:10
Lula
A campanha nacional está mirando a apatia dos eleitores jovens, e pode ajudar a aumentar a liderança nas pesquisas do ex-presidente Lula (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

No pátio de uma associação evangélica com um grupo de jovens no subúrbio do Rio de Janeiro, em uma tarde de um dia de semana recente, Vitória Rodrigues, de 18 anos, abriu seu laptop e começou a registrar jovens eleitores para as próximas eleições.

Idealista e oradora vibrante, Vitória faz parte de um grupo de voluntários em todo o Brasil que, em poucas semanas, registrou centenas de milhares de eleitores que vão votar pela primeira vez.

A campanha nacional está mirando a apatia dos eleitores jovens –e pode ajudar a aumentar a liderança nas pesquisas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca derrotar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de outubro.

“Aqui onde que eu moro muitas pessoas vão votar nele (Lula), meus amigos querem que o Bolsonaro saia”, disse Evelyn Santana, de 17 anos, logo após registrar seus dados com Vitória para tirar o título de eleitor.

Pesquisas mostram que a tendência se mantém nacionalmente. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no final de março, 51% dos jovens de 15 a 24 anos prefere Lula, enquanto 22% dessa faixa etária apoia Bolsonaro.

No entanto, o voto dos jovens perdeu parte de sua força nas últimas décadas, com uma profunda crise econômica e um debate público ácido deixando muitos jovens brasileiros às margens das eleições.

O voto é obrigatório a partir dos 18 anos, mas os jovens com 16 ou 17 anos no dia da eleição têm a opção de votar se tirarem o título de eleitor até o dia 4 de maio.

Em 2012, havia quase 2,5 milhões de jovens de 16 e 17 anos registrados para votar, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No final de 2021, no entanto, havia apenas 630.165 eleitores registrados com menos de 18 anos.

Para estimular o voto jovem, voluntários como Vitória se espalharam pelo país para inscrever eleitores de primeira viagem.

A campanha, impulsionada pelo apoio de celebridades como a cantora Anitta e até o ator de Hollywood Mark Ruffalo, tem sido um sucesso. Quase 450.000 jovens de 15 a 18 anos tiraram o título de eleitor em março, um aumento de mais de 25% em relação ao número de fevereiro, segundo o TSE.

“Eu realmente acredito que o voto dos jovens vai ser super decisivo”, disse Vitória. “Esses votos, desses jovens, podem mudar o rumo da eleição presidencial.”

Lucas de Aragão, sócio e analista político da Arko Advice, se mostrava cético quanto à possibilidade de os eleitores mais jovens do Brasil definirem a eleição, já que representam uma fatia tão pequena do eleitorado. Mas com pesquisas mostrando a vantagem de Lula sobre Bolsonaro diminuindo, sua importância provavelmente crescerá.

“Em uma eleição apertada, cada voto conta”, afirmou ele.

Lula x Apatia

Entrevistas com as 18 pessoas que Vitória registrou para votar em uma tarde em São João de Meriti, nos arredores do Rio, mostraram uma forte vantagem para Lula.

Muitos se mostraram contra Bolsonaro, que apela a um eleitorado mais velho, mais rico e mais branco do que o encontrado nas regiões mais pobres do Brasil. Alguns manifestaram irritação com a abordagem do presidente em relação à pandemia de coronavírus, enquanto outros o culparam por um forte aumento na inflação que tem afetado os orçamentos de suas famílias.

Lula continua sendo uma figura divisiva no Brasil, onde muitos ainda recuam diante dos escândalos de corrupção durante os governos do PT, incluindo acusações de propina que o colocaram na prisão antes de serem anuladas no ano passado.

Mas nas áreas urbanas pobres do país, onde a violência, infraestrutura de má qualidade e política local corrupta são abundantes, muitos ignoram o passado conturbado de Lula, preferindo se concentrar em seus programas sociais que tiraram milhões da pobreza.

A nostalgia de gerações mais velhas pelos tempos de prosperidade dos anos Lula sobreviveu aos escândalos de corrupção. Como resultado, alguns eleitores mais jovens agora veem Lula, que concorreu pela primeira vez à Presidência em 1989, como um símbolo de renovação política.

“Não me lembro do governo Lula, mas me disseram que era bom”, disse Evelyn Santana, citando o Bolsa Família, que ajudou a sustentar milhões de famílias.

Mas o apoio a Lula não foi total.

Tiffany Tainara de Oliveira, esteticista de meio período que sonha em ser dentista, afirmou que é minoria entre seus amigos e familiares que planejam votar em Bolsonaro. A jovem de 18 anos disse que as políticas sociais progressistas de Lula, que incluem o apoio às comunidades LGBTQ, o tornaram popular entre os eleitores mais jovens.

Mas, para ela, a apatia do eleitor, mais do que o apoio a Lula, é a característica política definidora de sua geração.

“Os jovens de hoje estão muito perdidos”, declarou. “Eles não têm nenhum pensamento sobre o futuro do país.”

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