Brasil

Eleições: Onda bolsonarista de 2018 pode virar marola em 2022, dizem especialistas

01 maio 2022, 17:00 - atualizado em 29 abr 2022, 19:54
PL Jair Bolsonaro Eleições 2022
Outsiders: Em 2018, Bolsonaro ajudou a eleger candidatos conservadores  e anti-sistema; e agora? (Imagem: REUTERS/Andressa Anholete)

Com as eleições se aproximando, a dificuldade de o presidente Jair Bolsonaro deslanchar nas pesquisas de intenção de voto alimentam dúvidas crescentes sobre suas reais chances de se reeleger. Mas não é apenas o futuro político do ex-capitão que está em jogo – a de seus aliados também.

Como se sabe, Bolsonaro foi eleito, em 2018, na esteira da Operação Lava Jato, sustentado por pautas conservadoras de costumes e um discurso de outsider, que o apresentava como anti-sistema e contra tudo o que a política tradicional representava. Sua ascensão também ajudou a eleger nomes de perfis semelhantes não apenas no Congresso, mas também nos Estados, numa verdadeira onda bolsonarista.

A pergunta mais importante das eleições de outubro, portanto, é se um eventual fracasso de Bolsonaro também tirará de cena figuras que chegaram ao poder em 2018.

Para especialistas ouvidos pelo Money Times, mesmo que Bolsonaro, eventualmente, continue a ser o principal nome da direita no Brasil fora da presidência, seus aliados que desejam prosperar na vida política precisarão deixar de lado pautas do núcleo duro do movimento bolsonarista e se “socializar” com a elite política local.

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A tropa bolsonarista se reagrupa para outubro

Junto com Bolsonaro, foram eleitos expoentes do conservadorismo e do lavajatismo que aderiram à candidatura do ex-capitão. Chegaram ao Congresso, entre outros, Carla Zambelli (PL-SP), Daniel Silveira (PTB – RJ), Helio Lopes (PL – RJ), Bia Kicis (PL – DF), Felipe Barros (PL – PR), Caroline de Toni (PL – SC) e também Joice Hasselman (PSDB – SP), que veio a romper com o presidente tempo depois.

Zambelli, Kicis se filiaram ao Partido Liberal, partido do presidente, em março, deixando expectativas de que disputarão cargos pela legenda em outubro.

Silveira, que recentemente protagonizou a ruidosa polêmica envolvendo condenação do Supremo Tribunal Federal a 8 anos e 9 meses de prisão por ameaças a ministros da corte e posterior perdão presidencial de Bolsonaro, deve ser lançado pelo seu partido ao Senado pelo Rio.

Já Felipe Barros mantém pré-candidatura ao governo do Paraná, enquanto De Toni concorrerá à reeleição.

Nas assembleias estaduais, nomes como Janaina Paschoal (PRTB – SP) e Ana Campagnolo (PL – SC) ganharam protagonismo.

Atualmente, Paschoal, que acabou acumulando dissidências com o presidente ao longo do mandato, é pré-candidata ao Senado por São Paulo, enquanto Campagnolo tentará a reeleição.

Joice Hasselman é atualmente rompida com o presidente Jair Bolsonaro (Imagem: Câmara dos Deputados/Cleia Viana)

Pandemia trouxe mais expoentes

Aliados do presidente também ganharam notoriedade durante a pandemia do novo coronavírus, principalmente por se juntarem a Bolsonaro na militância contra medidas sanitárias, como o uso de máscaras e a vacinação obrigatória.

Durante a CPI da Pandemia, Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou supostas irregularidades nas ações do governo federal no combate à crise de saúde, senadores como Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (PL-RO) ganharam holofotes durante as sessões por seus posicionamentos a favor da gestão Bolsonaro. Ambos os senadores são pré-candidatos a governador de seus Estados.

Além disso, os defensores de tratamentos ineficazes contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina, ganharam notoriedade e, com ela, convites de partidos para disputar vagas no legislativo nas próximas eleições. Entre os nomes, estão a médica Nise Yamaguchi (PROS), Mayra Pinheiro, Raíssa Soares (PL), Roberta Lacerda (PL) e Maria Emília Gadelha (PRTB).

CPI da Pandemia jogou holofote a senadores de situação e oposição (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Chance pequena do “bolsonarismo-raiz” sobreviver

Para o cientista político e sócio da consultoria Tendências Rafael Cortez, a chance do bolsonarismo conseguir caminhar com suas próprias pernas, sem se atrelar à figura de Jair Bolsonaro, é pequena. Ele observa, contudo, que o presidente ainda possui força. “A chance de Bolsonaro ainda ser o nome da direita é muito alta”, diz.

Cortez também acredita que os nomes que surfam na onda bolsonarista precisarão continuar o processo de “mescla” com a elite política — até pouco tempo, tão criticada pelos aliados do presidente — para conseguir prosperar.

“Bolsonaro ainda vai ser uma força política importante, mas o modus operandi precisa ser alterado para que nomes consigam se manter na política. Aquela figura, idêntica ao Bolsonaro das eleições, com discurso antipolítica, não terá futuro próximo. Quem sobrevive é quem conseguir se socializar com a elite política”, afirmou.

O também cientista político e professor da FGV Marco Antônio Carvalho Teixeira é descrente quanto à capacidade de bolsonaristas angariarem votos nas próximas eleições, já que, diferentemente de 2018, eles agora são parte do sistema e tiveram pelo quê ser avaliados pelos eleitores.

“A grande janela do bolsonarismo foi em 2018, quando Bolsonaro não era avaliado por nada. Agora, ele está como presidente, e tem pelo quê ser avaliado. E se todas as pesquisas mostram alta rejeição, a capacidade dos apoiadores de surfar na onda é muito menor. As próprias eleições municipais mostraram isso”, afirmou.

Nas eleições municipais de 2020, partidos de centro-direita como  o MDB, DEM, PSD e Podemos foram apontados como os grandes expoentes, contrariando expectativas de que nomes do núcleo duro bolsonarista viriam com mais força. O MDB chegou a eleger 10 prefeitos no conjunto das 100 maiores cidades do país.

“Nas próximas eleições, os campeões de votos não devem ser os bolsonaristas”, cravou Teixeira.

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