Eleições 2022

Eleições: Evangélicos podem “abandonar” Bolsonaro em 2022?

07 fev 2022, 16:20 - atualizado em 07 fev 2022, 16:20
Sergio Moro
Moro apresenta carta para lideranças religiosas na noite desta segunda-feira (7) (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O pré-candidato à presidência da República Sergio Moro (Podemos) apresenta nesta segunda-feira (7) uma “carta de princípios para os cristãos” durante evento com lideranças religiosas em Fortaleza (CE).

O aceno do candidato considerado a “terceira via” a uma parcela do eleitorado que votou majoritariamente em Jair Bolsonaro (PL) em 2018, no entanto, não é novidade.

O Partido dos Trabalhadores (PT) pretende lançar no mês de março um podcast com foco em “temas importantes para a comunidade evangélica”, a fim da capitanear mais votos para a eleição presidencial deste ano, que tem Lula como principal ameaça a uma possível reeleição de Bolsonaro.

Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação da legenda, declarou que a ideia é “abrir um espaço de diálogo do partido com os membros das igrejas sem necessariamente passar pela cúpula”.

O último levantamento que mapeou a população religiosa do país foi realizado pelo Datafolha no início de 2020 e mostrou que os evangélicos representam um terço da população da brasileira.

A maioria da população, contudo, segue sendo católica (50%).

Uma pesquisa divulgada nesta segunda pelo PoderData, empresa do grupo Poder 360 Jornalismo, mostrou que o atual presidente da República ainda é o escolhido de 42% dos eleitores desse grupo. Ou seja, se dependesse dos evangélicos, Bolsonaro venceria a eleição já no primeiro turno.

Já Lula fica em segundo lugar, com 35%. O dado aponta crescimento em relação ao mês de dezembro, quando o petista era preferência entre 26% dos fiéis.

Para Carlos Melo, cientista político do Insper, ainda que Bolsonaro lidere entre os religiosos, o voto dos evangélicos é um campo de disputa que não tem, necessariamente, um dono.

“As pesquisas mostram que esse campo não é necessariamente bolsonarista. Uma parte está com Bolsonaro, uma outra parte já está com Lula, e Moro está entrando [na disputa] agora, começando a fazer o discurso, com essa carta aos cristãos.”

Melo avalia que, dessa forma, a divisão do eleitorado é possível, mas ainda é difícil prever como ela se dará.

“Com relação ao Moro, vamos precisar ver como isso decanta, ele é noviço na política e está chegando agora, é um nome que não foi testado ainda, diferente do Bolsonaro e do Lula.”

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Discurso conservador

Situação econômica do país será o “calcanhar de Aquiles” de Bolsonaro na eleição, avalia cientista político (REUTERS/Ueslei Marcelino)

É esperado que Moro utilize a carta para aproximar seu discurso de opiniões que os evangélicos já possuem sobre alguns temas.

Segundo o jornal O Globo, que teve acesso ao material,  a “precoce erotização infantil” será um dos assuntos tratados.

Paulo Niccoli Ramirez, cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), avalia que a aproximação a um discurso mais conservador deve acontecer não apenas por parte de Moro, mas também deve ser o caminho seguido por seus concorrentes.

A provável formação de uma chapa Lula-Alckmin não deixaria de ser um aceno a grupos mais conservadores, já que Alckmin sempre circulou bem nesse meio.

Ramirez lembra que Ciro Gomes (PDT), por exemplo, esteve na última semana em um culto em Fortaleza (CE) ao lado de Cabo Daciolo e do Apóstolo Luiz Henrique.

Para o cientista político, essa parcela do eleitorado pode ser essencial para decidir a eleição — inclusive no primeiro turno.

Ainda que o discurso ideológico seja um fator de peso, ele pondera que questões econômicas serão sempre mais relevantes para o eleitor.

“Entre o primeiro e o segundo mandato de Lula, o Brasil estava em ritmo de crescimento econômico, mesmo com as acusações de corrupção no governo [Mensalão]. Lula conseguiu um segundo mandato e eleger Dilma em seguida. O calcanhar de Aquiles de Bolsonaro será justamente a questão econômica, independente de ter uma pauta conservadora ou liberal. O eleitor está se divorciando de Bolsonaro exatamente porque seu discurso não coincide com a realidade econômica.”