Brasil

Eleições: a seis meses do pleito, qual é o cenário que temos hoje?

01 abr 2022, 18:00 - atualizado em 01 abr 2022, 17:57
João Doria; eleições
João Doria anunciou na última quinta-feira (31) que continuará concorrendo à presidência nas eleições (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Neste sábado (02) o Brasil passa a estar a seis meses do primeiro turno das eleições presidenciais, que ocorrerá no dia 2 de outubro.

Hoje (01) é último dia da chamada “janela partidária”, período em que pré-candidatos ainda podem trocar de legenda para a disputa.

Especialistas ouvidos pelo Money Times concordam que, ainda que muita coisa possa acontecer, tudo aponta para um segundo turno disputado entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Dados do última pesquisa do Datafolha indicam o petista com 43% das intenções de voto, e Bolsonaro com 26% na pesquisa estimulada. Os outros levantamentos mostram cenários semelhantes.

Na espontânea, em que eleitores citam seu voto ser a apresentação das opções, a margem entre o atual e o ex-presidente diminui. Lula saiu de 32% para 30%, dentro da margem de erro, enquanto Bolsonaro subiu de 18% para 23%.

Para o cientista político e professor da FGV Claudio Couto, a disputa ente o atual e o ex-presidente tem sido movida muito mais pela aversão do que pela afeição dos eleitores.

”Lula é o mais anti-bolsonarista dos anti-bolsonaristas, e o anti-bolsonarismo se tornou mais forte do que o anti-petismo”, diz.

Alessandra Ribeiro, sócia-diretora na área de macroeconomia e análise setorial na consultoria Tendências, também enxerga uma “batalha de rejeições”.

“A eleição polarizada sempre foi cenário, e trabalhamos com viés de vitória para Lula no segundo turno”, afirmou.

Lula, em manobra pragmática de aceno ao mercado e setores da centro direita, deve escolher Geraldo Alckmin (PSB) para ser seu vice.

A aliança é tida como certa, mas ainda não foi oficializada. Os antigos adversários, que chegaram a disputar entre si o segundo turno das eleições em 2006, abraçaram a ideia de uma união por uma “causa maior”.

O ex-tucano deu mais um passo rumo à parceria ao se filiar ao PSB no dia 23 de março. A união inusitada é vista pelo mercado com um otimismo cauteloso, segundo Ribeiro: “Um benefício da dúvida”, diz.

Bolsonaro, por sua vez, ainda não tem um vice para chamar de seu — ao menos de forma oficial. Seu atual, Hamilton Mourão, deve concorrer ao Senado pelo Republicanos, partido ao qual se filiou no dia 17 de março.

Apesar de não seguir na chapa presidencial, o general reiterou apoio ao atual presidente no pleito. Por outro lado, especula-se que Walter Braga Netto, ex-ministro da defesa exonerado na última quinta (31), esteja na esteira pra ser candidato a vice de Bolsonaro.

Lula e Alckmin chegaram disputar entre si no segundo turno das eleições em 2006 (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Braga Netto já se filiou ao PL na expectativa de compor a chapa “puro sangue”, inteiramente militar e de um único partido, de Bolsonaro.

O general entrou no governo em fevereiro de 2020, quando foi anunciado para a Casa Civil. No posto, se tornou um dos ministros mais próximos e leais ao presidente.

Ele migrou de pasta em março de 2021, para assumir a Defesa após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva. A troca foi seguida pela saída dos três comandantes das forças armadas, em protesto.

O general foi exonerado junto a mais nove ministros que deverão concorrer a cargos nas eleições.

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Debandada

Na quinta (31), foi anunciado que dez dos ministros de Bolsonaro deixam o governo para disputarem as eleições.

Onyx Lorenzoni (Trabalho), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e João Roma (Cidadania) devem concorrer aos governos dos Estados do Rio Grande Do Sul, São Paulo e Bahia, respectivamente.

Tereza Cristina (Agricultura), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Gilson Machado (Turismo) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) devem pleitear vagas no Senado pelo Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Distrito Federal.

Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) diz ter destino indefinido, enquanto Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) tentará ser deputado federal por São Paulo.

Terceira via: números desanimam

O terceiro lugar das eleições é atualmente disputado por nomes que não chegam a pontuar dois pontos nas pesquisas, como os brancos e nulos.

Mesmo assim, a ideia de que um candidato possa ser uma alternativa tanto a Lula como a Bolsonaro ainda resiste, pelo menos por meio de algumas candidaturas.

A então batizada “terceira via” tem seus votos pulverizados em diversos candidatos, como Ciro Gomes (PDT), ex-ministro de Lula, o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), o deputado federal André Janones (Avante), a senadora Simone Tebet (MDB) e Felipe D’Ávila (Novo), empresário e cientista político.

Ciro Gomes, político de carreira, entra na corrida presidencial pela quarta vez. Ex-prefeito de Fortaleza e ex-governador do Ceará, Ciro também já foi deputado e ministro nos governos de Itamar Franco e Lula.

Na última eleição, em 2018, ficou em terceiro lugar, tendo obtido pouco mais de 13,3 milhões de votos.

Janones foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2018, com 178 mil votos. O advogado mineiro, que já foi cobrador de ônibus, ganhou destaque nas redes com vídeos gravados em meio à greve dos caminhoneiros no mesmo ano, movimento do qual acabou se tornando porta-voz.

Suas bandeiras giram em torno do discurso anticorrupção, da defesa do SUS, da renda básica universal e da isenção na escolha entre Lula e Bolsonaro.

Já Simone Tebet é veterana na política, tendo passado por cargos em diferentes poderes e níveis de governo no Mato Grosso do Sul, além de ter sido prefeita do município de Três Lagoas (MS) durante três mandatos.

A senadora, que já foi líder da Bancada Feminina, ganhou destaque em 2021, na CPI na Pandemia, onde assumiu protagonismo nas sessões em diversas ocasiões.

Tebet, que viralizou na internet por adotar postura rígida contra os interrogados, chegou a ser chamada de “descontrolada” pelo ministro-chefe da CGU Wagner do Rosário, após ter feito perguntas sobre suspeitas no contrato de compra da vacina Covaxin.

Tebet votou à favor da reforma trabalhista, em 2017, e contra a flexibilização do porte de armas, em 2019.

A senadora ganhou destaque em 2021, na CPI na Pandemia, onde assumiu protagonismo nas sessões (Imagem: Agência Senado /Marcos Oliveira)

Já o candidato pelo Partido Novo, Felipe D’ávila, nunca ocupou um cargo público.

O “outsider”, entretanto, vem de uma família de políticos, no mínimo, inusitada: seu irmão, Luiz Felipe d’Ávila (PSL) é deputado estadual por São Paulo e aliado do governo Bolsonaro, enquanto sua prima, por outro lado, é a ex-deputada Manuela D’Ávila, filiada ao PCdoB e vice da chapa de Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.

D’Ávila, com mestrado em Administração Pública em Harvard, fundou em 2008 o Centro de Liderança Pública (CLP), ONG dedicada à formação de líderes políticos.

Ele diz que sua candidatura vem para “romper com o populismo de direita e de esquerda”, prometendo a privatização de empresas contando com o mercado para a resolução de “muitos problemas públicos”.

Mais à esquerda, se encontram as outras duas candidatas femininas esperadas para concorrer à eleição.

O PSTU confirmou a socióloga Vera Lúcia como candidata. Vera foi operária na indústria calçadista, ingressou na política através do movimento sindical e já foi lançada pelo PSTU na disputa à presidência em 2018, tendo 0,05% dos votos, e à prefeitura de São Paulo em 2020 com 0,06%.

A professora universitária Sofia Manzano foi lançada pelo PCB. Ela é economista e doutora em história econômica pela USP, além de militante pelo partido desde os 17 anos. Manzano foi candidata a vice-presidente da república em 2014, em chapa liderada por Mauro Iasi (PCB), atingindo 0,05% dos votos.

Outros nomes até pouco tempo atrás especulados, como o do presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM), e do senador Alessandro Vieira (PSDB, ex-Cidadania), já anunciaram publicamente que não entrarão na disputa pelo Executivo.

Saída de Moro

Na tarde da última quinta-feira (01), no entanto, a terceira via perdeu o seu candidato mais “forte”: o ex-juiz Sergio Moro, terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, oscilando entre 8% e 10%.

Moro deixou o Podemos, partido ao qual era filiado desde novembro, para ir para a União Brasil, de Luciano Bivar. Com isso, retirou a sua candidatura.

Segundo a CNN, dirigentes da União Brasil não garantem a Moro a vaga pela corrida presidencial, apesar do partido ainda não ter oficialmente lançado um nome à presidência.

A especulação é a de que Moro poderá, com a manobra, concorrer a uma vaga no legislativo, ou, ainda, ser lançado pelo União Brasil à presidência, já que é atualmente o terceiro colocado nas pesquisas.

O líder do Podemos no Senado, Álvaro Dias disse à Jovem Pan que entende a decisão do ex-juiz como uma maneira de preservar sua candidatura. “Ele […] entendeu que seria necessário uma estrutura maior”, disse, após ter conversado com Moro por telefone.

Em meio às movimentações de Doria e Moro nesta quinta, Ciro Gomes se manifestou, afirmando que se mantém firme na corrida. “Muitos vão ceder, mas não serei eu”, afirmou.

Briga no ninho dos tucanos

Em pronunciamento na tarde de quinta-feira (31), o atual governador de São Paulo João Doria anunciou que irá continuar na corrida pela presidência pelo PSDB, em meio a rumores de que abandonaria o pleito.

Doria venceu uma acalorada disputa interna dentro de sua legenda contra o então governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, com 53,99% dos votos do partido.

Mesmo assim, o paulista não conta com o apoio absoluto dos tucanos.

Existem especulações de que Leite tentará se lançar à presidência mesmo diante o resultado negativo nas prévias, hipótese que tomou força com a sua renúncia ao governo do Rio Grande do Sul, com um discurso em tom eleitoral e sem definir seus próximos passos.

“Não é um projeto individual, mas muita gente acredita que eu deva estar na liderança”, disse, acrescentando que “outras forças políticas que não foram consultadas” no momento das prévias vão trabalhar para encontrar “um caminho comum”.

Para Claudio Couto, da USP, mesmo que Leite consiga uma articulação capaz de passar por cima das prévias e se lançar como o candidato do PSDB, as chances de vitória são mínimas.

Leite, entretanto, teria feito uma escolha estratégica ao renunciar ao governo do estado, já que, posteriormente, pode decidir concorrer a uma cadeira no legislativo.

“Assim, ele mantém todas as possibilidades em aberto e ganha visibilidade nacional”, pontuou Couto.

De qualquer forma, o cientista político não acredita que Dória deixará de ser confirmado pelo partido. “Seria uma solução traumática”, especula.

Existem especulações de que Leite tentará se lançar à presidência mesmo diante o resultado negativo nas prévias (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)