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Eleições 2022: como candidatos devem ver as pesquisas eleitorais além das intenções de voto

05 jun 2022, 17:00 - atualizado em 06 jun 2022, 22:30
Jair Bolsonaro
Nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro tem desvantagem entre mulheres e mais pobres (Imagem: Flickr/Alan Santos/PR)

Com as próximas eleições presidenciais no Brasil se aproximando, cada vez mais olhos recaem sobre o que têm dito as pesquisas de opinião.

Retrato de momento de quem tem mais ou menos pretensões de votos por parte dos eleitores brasileiros, os levantamentos também trazem informações sobre como a população reage a diversos temas econômicos, políticos e sociais, e, principalmente, como o seu voto pode ser influenciado a partir da postura dos candidatos diante cada tópico.

Money Times conversou com especialistas para saber o quê anda pensando o eleitorado brasileiro e quais os temas mais sensíveis que podem ser utilizados para candidatos conseguirem votos até o pleito, em outubro.

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Cruzamento de dados traz impressões…

Pesquisas como a BTG/FSP, Datafolha e a Ipespe, divulgadas ao longo da semana, trazem informações de percepções importantes da visão dos eleitores sobre a corrida eleitoral e sobre o Brasil no geral que podem ser usadas pelas campanhas.

Antônio Lavareda, cientista político e diretor do Ipespe, afirma que as pesquisas, mais do que informar sobre a probabilidade de determinado candidato vencer, são um termômetro social sobre temas e percepções diversas dos eleitores enquanto cidadãos.

“Pesquisas ajudam nessa direção pois são importantes para caracterizar o clima da eleição. Ler como eleitores estão se sentindo, saber quais os sentimentos que estão dominando. Os candidatos, na suas estratégias, devem levar em conta, além dos aspectos demográficos, como a sociedade se divide com relação a orientações e valores” disse.

A última Ipespe divulgou dados, na sexta-feira (26), sobre atributos dos candidatos, na visão dos eleitores. Diante da pergunta “qual desses candidatos tem mais cada característica que vou ler”, os eleitores se agruparam nas seguintes porcentagens:

LULA JAIR BOLSONARO CIRO GOMES SIMONE TEBET OUTROS NÃO SABE/NÃO RESPONDEU
HONESTIDADE 35 30 11 6 2 16
PREOCUPAÇÃO COM AS PESSOAS 45 24 8 4 2 18
COMPETÊNCIA 43 31 13 4 2 8
INTELIGÊNCIA 35 28 18 4 3 13
EQUILÍBRIO 40 25 11 10 3 11
PULSO FIRME 33 36 15 2 2 13
IDEIAS NOVAS E MODERNAS 30 20 18 7 3 23
EXPERIÊNCIA 46 29 11 1 1 11

“O mais importante que a pesquisa mostrou foi exatamente a percepção de atributos dos candidatos. Torna mais fácil para  população compreender o grid de largada da campanha eleitoral”, diz Lavareda.

Lavareda vê Jair Bolsonaro (PL) liderando como “pulso firme”, única variável na qual ganha de Lula (PT), pelas posturas públicas e discursos do presidente do que sua capacidade de articular e impor pautas.

“Esse pulso firme mostra que ele próprio de tanto afirmar que é valente e imexível termina convencendo, esse estilo briguento”, complementa.

O cientista político e professor da ESPM Paulo Ramirez também acredita que o atributo de Bolsonaro se dá muito mais em um campo discursivo do que prático.

“Esse pulso firme pode ser a forma como se comunica, gritarias, mandando jornalistas calar a boca. Mas esse pulso firme até agora não resultou em práticas políticas, em nenhum momento algum o pulso firme mudou a política de preço da Petrobras (PETR4) e nem mudou nada com relação à necessidade de apoio do centrão“, diz.

… e desabafos

Outro exemplo é o dado trazido pela última edição da BTG/FSB, divulgada na segunda-feira (25) de que 62% dos eleitores entrevistados encaram a redução da maioridade penal para 16 anos como algo importante de ser feito pelo próximo presidente do Brasil.

Na segmentação por candidatos, que engloba Bolsonaro, Tebet, Ciro e Outros, só Lula tem menos do que 60% dos eleitores favoráveis à proposta, com 52%.

Para o professor da FGV e especialista em segurança pública Rafael Alcadipani, isso é explicado porque eleitores estão generalizadamente assustados com o aumento no número de crimes contra o patrimônio, como o furto.

“Tanto a esquerda quanto a direita não ficam felizes em ter o celular furtado”, afirmou.

“Os eleitores não conseguem ver a solução do problema. O atual governo disse que ia fazer e não fez, a esquerda também não tem pauta clara de segurança pública, tem agenda de direitos. Não é uma disputa efetiva no campo das ideias. Nada nos planos de governo me chama atenção do lado positivo”, diz.

Sobre isso, Ramirez tem uma ideia de o por quê a pauta dificilmente será abordada com profundidade sobre as candidaturas.

“O tema está sendo menos trabalhado nas eleições pois revela um paradoxo, pois envolve a crise econômica, mas as acusações e prisões incidem mais sobre uma população mais pobre e negra. Isso torna delicado o trato do assunto sobre a redução da maioridade penal”, diz

Economia deve ser protagonista na decisão de eleitores (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

No segundo turno, menos temas quentes e mais “geografia”

Para Marcelo Coutinho, professor de marketing político na FGV e ex-diretor executivo do Ibope Inteligência, a maior diferença entre a leitura que candidatos fazem sobre as pesquisas de opinião entre o primeiro e o segundo tuno é o abandono de pautas polêmicas e quentes, levando o novo foco para a “geografia dos votos”.

Em outras palavras, o professor acredita que candidatos estarão atentos à distribuição dos votos no primeiro turno, que são registrado de acordo com todo o território nacional, para identificar quais partes do país devem receber mais atenção na parte final da campanha.

“Em um cenário do segundo turno, quando já se tem os resultados do primeiro turno, os candidatos já vêm os resultados do primeiro turno, município a município, estado por estado. Provavelmente o que vai ter o maior impacto é ver como a campanha foi em cada estado, mais do que olhar como foi entre sexos ou grupos etários”, afirmou.

Lula e Bolsonaro são os candidatos com mais chances de ir ao segundo turno (Imagem: Bloomberg)

Mas, ao final de tudo, uma variável dá as cartas

Todos os especialistas ouvidos pelo Money Times concordam que a pauta econômica, ao final, deve ser protagonista na escolha do próximo presidente do Brasil.

“Se 2018 foi o ano da indignação, em 2022 chamo atenção para a ansiedade e angústia com relação a problemas concretos do país. Temos a economia, mais inflação, os juros“, afirma Lavareda.

Para Ramirez, o fato de que os candidatos com mais chances de ir ao segundo turno têm “vitrine” de feitos enquanto presidentes faz com que os eleitores já tenham convicção de que tipo de Brasil querem mais.

“É a primeira eleição desde a redemocratização que temos dois presidentes concorrendo. Então, o pleito funciona como um plebiscito em que dois modelos serão julgados, seja por questões de ordem moral, com Bolsonaro e os segmentos conservadores e evangélicos, ou econômica, com Lula e o histórico de ação social e combate à miséria e à fome” diz Ramirez.

Coutinho, ex-CEO do Ibope, também acredita que, na mente do eleitor, os feitos econômicos do governo do PT ocupam lugar de séria importância.

“Do ponto de vista do marketing, o Auxílio Brasil tem três meses, enquanto o Bolsa Família tem 15 anos. Seria interessante fazer essa pergunta nas pesquisas: ‘O auxílio que você recebe do governo chama Bolsa Família ou Auxílio Brasil?’ É uma questão de marca, você tem uma marca de 15 anos e uma de 3 meses”, diz.

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