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Eleições 2020, fake news e descentralização das redes sociais

15 fev 2020, 13:00 - atualizado em 30 maio 2020, 18:19
Os algoritmos de seleção de informações afetam a opinião pública? Confira resumo do relatório da Brave New Coin (Imagem: Freepik/rawpixel.com)

Este ano, os EUA terão sua eleição presidencial. A candidata Elizabeth Warren pede por políticas antitruste para essas grandes tecnologias que influenciam a opinião global. Isso porque a mídia centralizada “polariza opiniões em diversas formas de populismo extremo: esquerda, direita e indiferença extrema”.

A criação da internet deveria ter um impacto positivo na hora de informar o público, para que estes tivessem acesso a diferentes tipos de opinião e tomassem decisões com cuidado.

Entretanto, o tiro saiu pela culatra: há muitas informações baseadas em dados de navegação, interesses e redes sociais dos usuários. Essas bolhas de filtro (“filter bubbles”) tornaram as pessoas mais intolerantes a opiniões alheias, pois elas só estão tendo acesso ao que aparece em sua bolha.

A influência das redes sociais na opinião pública é tamanha que, em março de 2019, o Facebook removeu anúncios sobre a candidatura de Elizabeth Warren após ela ter criticado a rede e defender a melhoria da lei antitruste dos EUA. Após críticas, essa situação foi revertida.

Esse acontecimento destaca a necessidade de leis para evitar que essa guerra nas grandes plataformas de tecnologia se alastre, já que essa influência é uma “ameaça à democracia”, conforme declarou o ex-presidente Barack Obama.

Robert Shiller, economista estadunidense, realizou um estudo intitulado “Exuberância Irracional” sobre o preço de ativos. Ele afirmou que a mídia tem um grande papel no feedback positivo entre a percepção pública e o preço dos ativos:

“Dado que seus autores estão em competição para ganhar leitores, ouvintes e visualizadores, contas de redes sociais tendem a ser superficiais e encorajam interpretações errôneas sobre o mercado.

Dentre estas, inclui-se maior cobertura midiática sobre negócios, as previsões otimistas e agressivas de analistas de ações, o surgimento dos planos previdenciários 401k, a explosão dos fundos mútuos e o volume expandido de negociações.”

Assim, esse efeito de informações centralizadas causa o efeito chamado “câmaras de eco” nas mídias sociais”, que é o looping autorreforçado entre informação seletiva e a opinião das pessoas.

Isso resulta na união de pessoas que têm as mesmas opiniões, gerando imparcialidade, e determinadas teorias (até conspiratórias) e narrativas são perpetuadas, como a supremacia branca.

Tecnologias descentralizadas podem evitar que opiniões parciais se espalhem e influenciem cidadãos que só acessam determinados veículos de informação (Imagem: Freepik)

É aqui que entra a descentralização. Há projetos de redes sociais descentralizadas, como Brave, Steemit e Relevant, que podem mitigar essa guerra entre comunidades on-line. Uma das medidas é tornar os usuários responsáveis pela curadoria de conteúdo compartilhado por eles.

Assim, as ideias poderão ser medidas com staking de reputação e as ideias que não passam pelo teste de falsabilidade (uso de pesquisas opostas para tentar provar, cientificamente, que a teoria é falsa) não ganham visibilidade.

Essas câmaras de eco viralizam ódio e intolerância. Essa viralização pode ser comparada a um incêndio florestal, pois tem o mesmo efeito de uma fagulha em um galho seco: fornece combustível para uma pequena chama que pode se alastrar para gravetos maiores, galhos, árvores, engolindo a floresta como um todo.

Assim, as câmaras de eco das redes sociais agem como uma fagulha que se alastra para outras árvores em volta (veículos de comunicação), resultando em um incêndio digital.

Assim, a tecnologia de descentralização pode evitar que opiniões parciais se espalhem e influenciem cidadãos que só acessam determinados veículos de informação.

Um exemplo dessa tecnologia descentralizada é a Wikipédia, o maior mercado de informações descentralizado da internet, que conta com a curadoria de uma comunidade (de pessoas, não de algoritmos) de contribuidores, editores e moderadores.

Mesmo que não haja incentivos monetários, a longevidade da enciclopédia on-line se dá pela melhoria das informações ao longo do tempo, que contrasta com a mídia tradicional e as redes sociais centralizadas, em que a qualidade se deteriorou.