Eleição de Trump deve pressionar Lula a aceitar medidas fiscais ‘mais duras’, diz diretor do Eurasia Group
Para o diretor geral para as Américas do Eurasia Group, Christopher Garman, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos (EUA) está gerando preocupação no Palácio do Planalto e deve corroborar com medidas fiscais mais duras no pacote que está para ser anunciado pelo Governo.
“Existe, sim, um diagnóstico de que o mundo está mais incerto e isso está facilitando a capacidade do ministro Haddad de convencer o presidente Lula a adotar um pacote de medidas fiscais mais duras”, disse Garman no Fórum de Estratégias de Investimentos, do Bradesco Asset e do Bradesco Global Private.
O executivo afirmou que, se o país não cortar gastos agora, ficará mais difícil de baixar a taxa Selic no futuro, diante de um cenário externo possivelmente mais desfavorável para países como o Brasil no governo Trump.
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Se o próximo presidente dos EUA, de fato, colocar em prática suas propostas de protecionismo comercial e deportação, o dólar deve se fortalecer, dificultando a capacidade dos bancos centrais de vários países de reduzirem juros.
No Brasil, o real deve se desvalorizar e a inflação pode subir, jogando o Banco Central em um “corner“. “Juros reais mais altos por períodos mais longos podem derrubar a economia. Isso pode reduzir a popularidade de Lula”, afirmou Garman.
Segundo ele, as próximas semanas serão “absolutamente decisivas” para pensar no Brasil de 2025 e 2026. “O que o Trump vai fazer de um lado e o que vai sair desse anúncio de pacote [de corte de gastos] vai definir o perfil para a segunda metade do mandato [de Lula]”.
O que esperar do pacote de medidas fiscais?
No evento do Bradesco Asset e do Bradesco Global Private, o diretor geral para as Américas do Eurasia Group disse estar “mais otimista” com o pacote de gastos do que há um mês. As medidas devem ser divulgadas depois da reunião do G20, que acontece na próxima semana.
Garman espera que seja anunciada uma economia fiscal de R$ 35 bilhões a R$ 50 bilhões, com impacto em 2026. Além disso, ele disse que o pacote “está com cheiro de medidas mais estruturais”.
Segundo ele, a equipe econômica parece ter o intuito de colocar todas as rubricas de gastos dentro das regras fiscais.
“Estamos há um passo de atacar as rubricas de gastos obrigatórios, mas talvez não vai ser suficiente e provavelmente vai ter que fazer uma segunda rodada depois das eleições de 2026”, afirma.
Do lado de cortes, o executivo espera movimentações em: educação, saúde, abono salarial, seguro desemprego, Benefício de Prestação Continuada (BPC), salário mínimo e previdência.