EIA estaria superestimando a produção semanal de petróleo nos EUA?
Por Barani Krishnan/Investing.com
Será que a produção de petróleo nos EUA realmente está na máxima histórica?
Ou a estimativa da Agência de Informações Energéticas do país (EIA, na sigla em inglês) não está em linha com o que está acontecendo em campo, principalmente diante do colapso que temos visto a cada semana no número de sondas em operação?
São questões intrigantes que acabam surgindo de vez em quando, e por boas razões.
“Relatório Petrolífero Mais Acompanhado do Mundo”
Como ressaltou Keith Schaefer, da Oil & Gas Investments, quando a questão surgiu há três anos, o relatório semanal de oferta e demanda de petróleo da EIA é o mais acompanhado do mundo.
Como ressaltou Keith Schaefer, da Oil & Gas Investments, quando a questão surgiu há três anos, o relatório semanal de oferta e demanda de petróleo da EIA é o mais acompanhado do mundo.
Emitido às 10h30 (horário local) toda quarta-feira, o relatório movimenta os preços do setor de energia como um todo, ao revelar os níveis de estoques petrolíferos nos EUA, bem como os de combustíveis, como gasolina e destilados.
Além dos números de armazenamento em seu sumário principal, o relatório da EIA contém um Balanço Geral do Petróleo que analisa o equilíbrio do produto de acordo com as diferentes zonas dos EUA.
Dentro dessa sessão existe uma entrada para os estoques no ponto de entrega de Cushing, Oklahama, referente aos contratos futuros de West Texas Intermediate.
Os números de Cushing geralmente movimentam o mercado, assim como os dados sobre importações e exportações de petróleo.
Estimativa de Produção: o Dado Mais Controverso
Mas talvez a estatística mais importante no Balanço Geral de Petróleo seja a estimativa semanal de produção petrolífera feita pela agência. E possivelmente também seja a mais controversa de todas.
Desde a ascensão do óleo de shale nos EUA em 2014 – antes da sua queda espetacular em 2016, quando o crash nos preços do petróleo levou à falência dezenas de produtores – o relatório semanal publicado pela EIA tem sido fonte de disputa, principalmente entre os investidores que acreditam que os números são superinflados e não correspondem devidamente à atividade de perfuração.
É preciso destacar que esse número de produção petrolífera divulgado pela EIA a cada semana é simplesmente uma estimativa: nada mais, nada mesmo que isso.
Schaefer, da Oil & Gas Investments, observou que se trata de “uma estimativa totalmente modelada, o que é uma forma rebuscada de dizer que não contém qualquer dado novo da semana anterior”.
Mesmo assim, esses números vêm do órgão que publica os dados de pesquisa mais transparentes do mundo a respeito da produção e armazenagem de petróleo. E não existe nenhuma outra instituição que publique dados tão respeitados no setor. Por isso, o mercado aceita essas informações como se fossem verdadeiras.
E isso não é ruim. O fato é que os números de produção da EIA são comparados aos de outro relatório semanal altamente respeitado sobre sondas em operação, emitido pela Baker Hughes, uma empresa prestadora de serviços a campos petrolíferos dotada de excelente reputação.
Estimativa de Produção Recorde da EIA Contrasta com a Queda na Contagem de Sondas da Baker Hughes
Os dados semanais da Baker Hughes, publicados na última sexta-feira, mostram que há apenas 696 sondas em operação neste momento, a menor quantidade desde abril de 2017. No entanto, a EIA estima que a produção nos EUA está há três semanas inalterada e atingiu o recorde de 12,6 milhões de barris por dia (bpd).
Com base no histórico da contagem de sondas da Baker Hughes, o número de plataformas está 56,7% menor do que em outubro de 2014. Mas essas sondas estão produzindo 3.725.000 barris de petróleo por dia, ou 42% a mais do que há cinco anos.
Se tanto a EIA quanto a Baker Hughes estiverem certas, então a eficiência da produção petrolífera norte-americana saltou mais de três vezes em cinco anos, e agora cada sonda produz 18.103,00 bpd, contra 5.515,85 bpd em outubro de 2014. Alguns analistas resistem a acreditar nisso.
Phil Flynn, do Price Futures Group, em Chicago, um analista que geralmente tem uma visão altista para o petróleo, está estarrecido com o fato de a estimativa de produção petrolífera da EIA permanecer estagnada no recorde de 12,6 milhões de bpd há três semanas, quando a atividade produtiva do shale como um todo estar despencando.
Segundo Flynn:
“Acreditamos que a produção petrolífera nos EUA terá que ser ajustada para baixo. Está ocorrendo uma redução no número de sondas em operação diante da falência de muitas empresas que estão se dando conta de que não é possível compensar o prejuízo em cada barril extraído pelo volume de produção.”
Se a produção semanal publicada pela EIA está sendo questionada, em que fonte/número o mercado poderia confiar?
A resposta é o relatório Mensal de Oferta de Petróleo que, ironicamente, também é fornecido pela EIA.
Schaefer, da Oil& Gas Investments, mais uma vez respondeu por que é assim:
“O relatório mensal contém dados reais e é incrivelmente preciso. Você pode levar esses números mensais ao banco quase toda semana.”
Tudo se Encaixa, Acredite ou Não
Schaefer reconheceu que, com o tempo, a EIA pode superestimar ou mesmo subestimar a produção semanal em razão da dinâmica do mercado. Mas a agência geralmente corrige a diferença ao final de cada mês.
Para defender essa visão, Schaefer fez uma média da produção diária a partir dos dados publicados mensalmente pela EIA ao longo de 2017.
Conclusão? Ele obteve um número muito próximo da produção semanal estimada pela EIA.
Fizemos as contas no Investing.com também, só para termos certeza, considerando o número de produção mensal mais recente – o de 365.992.000 barris em julho – e o dividimos por 30 dias. A resposta arredondada foi de 12,2 milhões de bpd.
E a estimativa de produção semanal da EUA ao final de julho?
Também 12,2 milhões de bpd.
Nada mais resta a dizer.