Eficácia geral da CoronaVac fica em 50,38% e supera por pouco mínimo exigido por Anvisa
A CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac, tem uma eficácia geral de 50,38% apontada em estudos clínicos de Fase 3, disse nesta terça-feira o Instituto Butantan, ao apresentar um número bem abaixo da eficácia clínica de 78% informada anteriormente e que supera por pouco o mínimo recomendado para que uma vacina seja considerada eficaz.
O número da eficácia geral confirma que a vacina está acima dos 50% requeridos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para considerarem um imunizante viável.
O dado, no entanto, é significativamente menor ao anunciado na semana passada pelo Butantan, que disse em entrevista coletiva na quinta-feira que a eficácia da CoronaVac era de 78%. Na ocasião, a falta da divulgação de dados sobre o estudo clínico provocou um forte questionamento da comunidade científica.
Nesta semana, o instituto esclareceu que aquele dado se referia à eficácia clínica da vacina, não à sua eficácia geral, que considera toda a população do estudo clínico, incluindo casos muito leves, que não precisaram de ajuda clínica.
A pressão gerada pela falta de dados levou o Butantan a realizar uma nova entrevista coletiva nesta quinta para detalhar os dados do estudo e divulgar a eficácia geral da vacina, que há meses vem sendo parte da disputa envolvendo o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro, que são desafetos políticos.
Durante a entrevista coletiva desta terça, o diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palácios, reiterou que a CoronaVac mostrou ter 78% de eficácia contra casos leves que precisaram de alguma assistência clínica por causa da Covid-19 e 100% contra casos graves e moderados da doença, o que significa que nenhum voluntário do estudo que recebeu a vacina desenvolveu este tipo de quadro mesmo quando infectado e que nenhum precisou de internação hospitalar.
Mas, quando considerados também os voluntários que se infectaram e desenvolveram a doença, inclusive os classificados como muito leves e que não precisaram de assistência clínica, a eficácia global ficou em 50,38%.
“Precisamos de melhores comunicadores”, disse à Reuters o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto, indagado sobre a diferença de divulgação de quinta e desta terça.
Para a bióloga e diretora do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, que participou da entrevista coletiva desta terça-feira, a CoronaVac “não é a melhor vacina do mundo”, mas uma “boa vacina”, que precisa ser rapidamente aplicada no maior número de pessoas.
“Como todo resultado de um estudo clínico, esse resultado tem os seus sucessos e as suas limitações. E tanto os sucessos quanto as limitações têm que ser comunicados de uma forma clara”, disse ela ao parabenizar o Butantan por ter atendido o pedido dos cientistas por maior clareza nos dados.
“Nós temos uma boa vacina, não é a melhor vacina do mundo, não é a vacina ideal. É uma boa vacina, que tem a sua eficácia dentro dos limites do aceitável pela comunidade científica, pela Organização Mundial de Saúde, por parâmetros internacionais”, acrescentou.
“A gente não precisa dizer que essa é a melhor vacina do mundo. A gente tem que dizer que essa é a nossa vacina, é a vacina possível, é uma boa vacina e é uma vacina que certamente vai iniciar o processo de nós sairmos da pandemia.”
A eficácia de 50,38% da CoronaVac ficou bem abaixo dos 78% anunciados na semana passada, e também foi bastante inferior aos dados anunciados por fabricantes de vacinas como Pfizer para seu imunizante contra a Covid-19. Ao contrário da vacina da farmacêutica norte-americana, no entanto, a CoronaVac pode ser armazenada em temperatura de geladeira comum, o que facilita a logística de distribuição.
Ao comentar os dados de eficácia da CoronaVac, Palácios argumentou que, ao contrário de estudos com outras vacinas, o Butantan incluiu apenas profissionais de saúde entre os voluntários do teste, por se tratar de uma população que tinha contato com o vírus na linha de frente do combate à Covid-19 e que sabe identificar os sintomas da doença em si mesmos.
Ele afirmou também que os critérios de definição de casos adotados pelo estudo do Butantan foram os mais rigorosos, o que aumentou a incidência em relação a outros testes, com o objetivo de colocar a vacina em uma situação de estresse. Segundo ele, isso não deve se repetir quando o imunizante for aplicado na população em geral, o que deve aumentar a eficácia.
“Dentre toda a população, selecionamos aquela que pudesse testar a vacina com a barra mais alta, isso é importante salientar”, disse Palácios.
“Se a gente quer comparar os diferentes estudos, isso é mais ou menos como comparar alguém que faz uma corrida de 1km em um trecho plano com uma pessoa que faz uma corrida de 1km em um trecho absolutamente íngreme e cheio de obstáculos. E isso foi o que fizemos, colocar esses obstáculos”.
Palácios também destacou os resultados que apontaram que a CoronaVac é 100% eficaz na prevenção de casos moderados, que levam à hospitalização, e de casos graves, que levam à internação em unidades de terapia intensiva (UTI).
“Se a gente consegue que a vacina controle os atendimentos no sistema de saúde, seja ambulatorial, seja hospitalar, o impacto vai muito além da Covid-19”, disse, ao lembrar que atendimentos de outras doenças ficaram represados durante a pandemia por causa da prioridade dada à Covid.
De acordo com a apresentação feita pelo Butantan na coletiva, de uma amostra de 9.242 voluntários dentro do estudo, 252 contraíram a Covid-19, sendo 167 que tomaram placebo e 85 que tomaram a vacina, o que fez com que se chegasse ao número de eficácia global de 50,38%.
Além disso, pelos dados apresentados, 38 voluntários contraíram a forma leve da doença, e precisaram de algum atendimento, sendo 31 que tomaram placebo e 7 que tomaram a vacina, o que levou à eficácia de 77,96% contra casos leves da doença. Sete voluntários tiveram quadros graves e moderados de Covid-19, todos do grupo placebo.
O Butantan, que está envasando doses da CoronaVac em suas instalações, já tem 10,8 milhões de doses da vacina no Brasil e deu entrada com um pedido de autorização para uso emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O instituto também fechou acordo para vender 46 milhões de doses do imunizante ao Ministério da Saúde, com a opção de mais 54 milhões de doses, para serem incluídas no Programa Nacional de Imunização.