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Efeitos da inflação sobre consumo limitam importação de trigo por moinhos do Brasil

02 set 2022, 16:34 - atualizado em 02 set 2022, 16:34
As importações de trigo do Brasil no acumulado do ano até julho atingiram os menores patamares desde 2017, somando cerca de 3,7 milhões de toneladas (Imagem: REUTERS/Pascal Rossignol)

Os moinhos de trigo do Brasil têm limitado importações do cereal, com representantes da indústria e analistas citando alta nos custos da matéria-prima e impactos inflacionários que afetaram o consumo de massas, biscoitos e pães.

As importações de trigo do Brasil no acumulado do ano até julho atingiram os menores patamares desde 2017, somando cerca de 3,7 milhões de toneladas, segundo dados do governo.

E mantiveram a tendência em agosto, recuando 9,7% ante o mesmo mês do ano passado, para 536,6 mil toneladas, apesar de o período marcar o pico da entressafra, antes da nova colheita ficar disponível para as indústrias.

Já o preço médio da tonelada importada disparou de 276,3 dólares, para 441 dólares, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

“O preço aumentou no exterior por causa da guerra (entre Rússia e Ucrânia), frete e tudo que está acontecendo (inflação e efeitos da pandemia)”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira Indústria Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.

“E vai continuar, porque a guerra está continuando e o preço vai continuar elevado, mesmo que com mais oscilações (de baixa) porque o produto da Ucrânia está sendo escoado”, acrescentou.

De outro lado, ele lembrou que a produção interna do cereal cresceu muito, e poderá alcançar novo recorde de quase 10 milhões de toneladas nesta safra em 2022, após uma máxima histórica de 7,6 milhões de toneladas em 2021.

No entanto, o país deve fechar o ano com cerca de 3 milhões de toneladas exportadas e a demanda interna é de 12 milhões, então ainda será preciso importar.

O analista da consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, comentou que o preço internacional embora elevado está em níveis mais baixos do que no mercado interno, e poderia ter levado moinhos a recorrer mais à oferta externa.

Mas isso não foi necessário porque o consumo interno se enfraqueceu, disse ele.

“O consumidor está trocando massa com ovos, que custa mais caro, por massa instantânea que custa barato, alterando marcas de biscoitos, tamanho de embalagem. Isso mostra a redução na demanda por subprodutos de farinha por causa da inflação”, afirmou o especialista

Segundo ele, agora a indústria está reduzindo a moagem para aguardar a chegada da nova safra nacional.

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O aumento de preços de itens como massas, biscoitos, pães e bolos industrializados veio na esteira de um repasse de custos de produção, puxados por altas na farinha, no trigo, combustíveis e etc.

“O repasse de custo é necessário para a indústria conseguir sobreviver, levando em conta os aumentos dos insumos como a farinha de trigo”, afirmou o presidente-executivo da associação do setor Abimapi, Claudio Zanão.

Ele calcula que, no acumulado do ano, o consumo tenha recuado até 2% em relação ao mesmo período de 2021, em decorrência da inflação.

O balanço mais recente da companhia líder no mercado de biscoitos e massas no Brasil, a M. Dias Branco, referente ao segundo trimestre, indicou queda de 7% nos volumes de vendas do período motivado pelo aumento dos preços médios do portfólio de produtos, que subiu 36% no comparativo anual.

Uma alteração no tamanho das embalagens realizada em toda a cadeia, para tamanho menores, também contribuiu para o recuo nos volumes comercializados pela M. Dias no trimestre.

O analista da consultoria StoneX Jonathan Staudt ressaltou que repassar os preços da farinha para o produto final é mais complicado que repassar as altas do trigo para a farinha.

“Acredito que o mercado tenha buscado se adaptar, mas de maneira geral o que vimos é que a inflação da farinha subiu significativamente, mas dos produtos finais isso não ocorreu na mesma intensidade”, disse ele.

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