Efeito Petrobras (PETR4)? Aposte contra Banco do Brasil (BBAS3) e demais estatais listadas, diz Goldman Sachs
As recentes interferências do governo na Petrobras (PETR3; PETR4) deixaram o mercado em alerta quanto às demais estatais listadas na bolsa de valores. Recentemente, o conselho de administração deu novos direcionamentos sobre dividendos e o presidente Lula voltou a cutucar os acionistas.
A companhia comunicou a decisão de não realizar o pagamento de proventos extraordinários no começo de março. Além disso, o presidente Lula disse que a petroleira não poderia ficar presa à “choradeira do mercado” e defendeu que os recursos destinados a dividendos sejam aplicados em investimentos.
Os analistas observam que o aumento dessa apreensão pode fazer com que os investidores abandonem investimentos em outras estatais. “O governo vem fazendo pressão no sentido de influenciar a governança de diversas empresas estatais (e também ex-estatais)”, afirma Larissa Quaresma, da Empiricus Research.
“Isso acaba pesando sobre qualquer companhia sujeita a essa pressão, não somente pelo temor de diminuir o pagamento de dividendos, mas na interferência nas decisões estratégicas de uma forma mais ampla”, conclui.
Os analistas do Goldman Sachs avaliam ainda que as empresas públicas negociam com avaliações históricas elevadas em comparação com os pares privados. No entanto, à medida que os ciclos de cortes nos Estados Unidos e no Brasil se desenrolam, as estatais podem ser ultrapassadas.
“Embora os fundamentos estatais pareçam sólidos, os múltiplos dispendiosos deixam-nas mais suscetíveis a uma potencial desvalorização no caso de novas intervenções governamentais”, dizem Jolene Zhong, Nathan Fabius e Caesar Maasryum.
Entre as empresas que entraram no leque de alerta dos analistas está o Banco do Brasil (BBAS3). Para a analista da Empiricus, eventuais interferências do governo no banco podem se traduzir em concessões de crédito com taxas artificiais ou expansão de linhas de crédito desvantajosas, por exemplo.
“Não significa que vai acontecer, mas o risco está maior, diante do movimento claro do governo no sentido de interferência”, afirma Quaresma.
Devido ao risco de governança, a casa se mantém cautelosa quanto a tese. A recomendação para Banco do Brasil — e também para Petrobras — é neutra, apesar do momento operacional relativamente bom.
Estatais vs. empresas privadas
Diante do risco de intervenções governamentais, o Goldman mudou sua postura quanto às empresas públicas. “Iniciamos uma recomendação para operar comprados em empresas brasileiras do setor privado e vendidos em estatais, com uma meta de 28% e um stop de -14%”, recomendam.
Os analistas destacam que as estatais têm superado o desempenho dos pares do setor privado desde a pandemia de Covid em 2020. Isso foi impulsionado pelo baixo desempenho das empresas privadas, que são historicamente mais sensíveis às taxas elevadas, e pelo fato de as estatais permanecerem na defensiva em meio ao ciclo agressivo de altas.
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No entanto, à medida o início do ciclo de cortes da Federeal Reserve se aproxima, os riscos negativos migram para as empresas públicas. “No caso de uma maior intervenção governamental no setor público, isso deixaria as empresas estatais brasileiras mais vulneráveis a potenciais riscos de desclassificação”, avaliam.
Do ponto de vista fundamental, o desempenho superior das estatais é apoiado pelos elevados retornos sobre o patrimônios líquidos (ROE) — liderado pelas ações de commodities, que se beneficiaram da alta lucratividade do aumento dos preços do petróleo. Em contraste, o ROE do setor privado tem sido limitado, mas está começando a melhorar na margem.
“No futuro, esperamos que os ROEs das empresas estatais brasileiras se moderem e convirjam com o setor privado em um cenário de taxas mais baixas e de maior intervenção estatal”, finalizam.