Delação da JBS

“Efeito Joesley” já aparece em dados econômicos

23 jun 2017, 12:08 - atualizado em 05 nov 2017, 14:01

Delação JBS

O Brasil, que já não é mais o mesmo há um tempo, mudou um pouco mais no último dia 17 quando os primeiros trechos da delação dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, foram divulgados ao público. As gravações, posteriormente reveladas, indicavam a conivência do presidente Michel Temer com a compra do silêncio de Eduardo Cunha em um enredo que ainda não chegou ao fim.

A notícia veio como um balde de água fria sobre aqueles que surfavam em um otimismo de curto prazo e em projeções mais agradáveis para a economia, principalmente para 2018 e adiante. Em 19 de maio, o relatório Focus apontava que os economistas esperavam um crescimento de 0,5% em 2017 e de 2,5% em 2018. A última leitura do levantamento traz 0,4% para este ano e, após cortes em todas as edições da análise desde a delação, 2,2% para o próximo.

O Ibovespa, que estava em 67.540 pontos em 17 de maio, hoje está em 61.272 – queda de 9,2%. O dólar subiu 6% e foi de R$ 3,13 para R$ 3,34. Já o risco-país, medido pelo CDS (Credit Default Swap), disparou de 258 pontos a 302 pontos. “As pessoas estão percebendo é que o ajuste econômico em curso tem limitações e no curto prazo ele é recessivo. A atividade econômica vai continuar enfraquecida”, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

Desconfiança

Outros dados divulgados na quinta-feira (22) corroboram a piora do cenário.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu para 51,9 pontos em junho, uma redução de 1,8 ponto na comparação com maio. O indicador cai pela primeira vez após quatro meses de estabilidade, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A pesquisa foi feita entre 1º e 12 de junho, com 2.958 empresas.

A prévia do Índice de Confiança da Indústria para junho, cujos dados foram coletados até o dia 20, mostra uma queda de 2,3 pontos na comparação com o resultado consolidado de maio. Os empresários estão menos confiantes em relação tanto ao presente quanto ao futuro. O Índice de Expectativas recuou 3,2 pontos e o Índice da Situação Atual (ISA) diminuiu 1,3 ponto.

O próprio Banco Central, em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem, admite que os efeitos da incerteza sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade e, portanto, desinflacionário. Por outro lado, o impacto da incerteza sobre a formação de preços e sobre as estimativas da taxa de juros estrutural pode ter direção oposta.

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, é exatamente este efeito que levou ao “temor deflacionário” presenta no relatório. Segundo ele, tudo virou motivo para adiamento de decisão de investimentos, o que vai se refletir em uma demora adicional para a recuperação do emprego. Com isso, é cada vez maior a chance que o Brasil volte a recuar após o respiro de 1% no primeiro trimestre.

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