Educação financeira: Quanto antes o Brasil investir nela, melhor
É sempre difícil atrair a atenção para temas de longo prazo em um contexto em que o país enfrenta tantos de desafios urgentes. Mas a desatenção àqueles assuntos ao longo durante os anos impõe ao Brasil custos imediatos. Este é o caso da falta de educação financeira brasileira.
A deficiência crônica nessa área do conhecimento já traz prejuízos muito claros para a sociedade, os quais têm sido ampliados pela crise do coronavírus.
Entre os 20 países participantes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) em 2018, o Brasil ficou em 17º lugar no tema educação financeira, com média de pontuação bem inferior a geral.
Essa falta de atenção ao tema faz com que eventos econômicos inesperados, como a crise dos últimos anos, prejudiquem a saúde financeira das famílias de forma ainda mais intensa.
O forte impacto econômico no início da pandemia intensificou e muito o uso do crédito, pressionando ainda mais os níveis de endividamento e comprometimento de renda das famílias, ambos em suas máximas históricas atualmente.
Segundo dados da Serasa Experian, de maio deste ano, os estados brasileiros têm, em média, 41,7% dos seus adultos endividados.
Educação financeira é estratégica no longo prazo
A falta de educação financeira, obviamente, não é a principal causa deste problema, e nem a sua promoção seria uma solução única ou rápida para esta situação. Mas o investimento contínuo nesse conhecimento traz frutos importantes ao longo dos anos.
Em estudo divulgado recentemente pelo Banco Central, intitulado “Os impactos de longo prazo da educação financeira no ensino médio”, foi analisado o impacto de um programa amplo de educação financeira, nove anos após a sua implementação, em 2011, e incluindo 16 mil estudantes.
Os resultados mostraram que, no longo prazo, os alunos participantes do programa têm “probabilidade significativamente menor de tomar crédito das categorias mais caras assim como de ter operações em atraso do que o grupo de estudantes de escolas que não participaram.
Os alunos do primeiro grupo também têm maior probabilidade de serem microempreendedores individuais e menor probabilidade de estar formalmente empregados”.
E não é apenas no ensino médio que essa informação é fundamental. As noções sobre dinheiro, consumo e poupança começam a ser absorvidas ainda quando criança e em casa. De acordo com levantamento da OCDE, aproximadamente 90% dos brasileiros aprendem sobre finanças no ambiente doméstico.
Com o objetivo de trazer esse conhecimento também para a sala de aula, foi incluído na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) o ensino da educação financeira, contemplada de forma transversal e integrada no currículo escolar a partir deste ano.
Problemas para implantar ensino nas escolas
No entanto, a realidade do país tem imposto diversas dificuldades de implementação desses assuntos e, por isso, gerado críticas sobre a necessidade de sua inclusão nas grades das escolas.
Problemas como a falta de infraestrutura básica em muitas escolas públicas e a falta de treinamento dos professores, combinados com uma série de desafios à educação infantil impostos pela pandemia, de fato são obstáculos importantes para o avanço de uma educação financeira de qualidade no ambiente escolar.
Mas, novamente, não podemos deixar que os desafios de curto prazo impeçam avanços importantes ao longo dos anos. Neste sentido, uma boa iniciativa do Banco Central é o portal “Aprender Valor”, que traz informações para escolas e professores lidarem com o tema e oferece projetos prontos e ferramentas para formação de professores e gestores da educação.
Escolhas financeiras são, em geral, escolhas intertemporais. Decisões mais sábias no presente implicam resultados melhores no futuro. Mas, para isso, é preciso que se tenha mais informação e conhecimento, e quanto antes isso for aplicado, maiores serão os benefícios ao longo da vida.
A oposição à inclusão da educação financeira nas escolas não pode ser justificada pela existência de outros entraves. Estes, sim, devem servir de incentivos ao setor público e privado para desenvolver modos de avançar com essa agenda de longo prazo, enquanto enfrentamos as atuais.
Carlos Lopes é economista no banco BV desde 2013 e já passou por instituições financeiras como Itaú BBA, Banco Fibra e WestLB. É formado pela Universidade de São Paulo e tem mestrado no Insper.
Entre para o nosso Telegram!
Faça parte do grupo do Money Times no Telegram. Você acessa as notícias em tempo real e ainda pode participar de discussões relacionadas aos principais temas do Brasil e mundo. Entre agora para o nosso grupo no Telegram!