Eduardo Girão teme que CPI da Covid acabe em pizza para alguns e em fígado para outros
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) questiona acordo que já definiu postos-chave da CPI da Covid e, ao se colocar como alternativa para a presidência da comissão, diz que irá equilibrar o jogo, dar condução independente, e indicar um relator isento.
Autor do requerimento que ampliou o escopo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) –inicialmente ela tinha como objeto as ações e omissões do governo federal na área da saúde, mas passou a incorporar também, a pedido de Girão, repasses da União a entes federativos para o combate à pandemia–, o senador defende que o colegiado não se torne um palanque das eleições de 2022.
“O objetivo é que tenha isenção, que preste serviço como prestaram outras CPIs. Algumas acabaram em pizza, e o meu receio é esse, é que essa (CPI) de alguma forma enverede por um caminho de acabar em pizza para alguns e fígado para outros. Que seja uma coisa equilibrada”, disse o senador à Reuters.
Girão, que diz não ter sido consultado por colegas para acordo que resultou na indicação de Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) para a presidência e o líder da Oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para a vice-presidência, argumenta que se colocou na disputa para oferecer uma “alternativa”.
“Eu acho que a ela já começaria, essa CPI, sem credibilidade, até pelo conflito de interesse que existe no comando da CPI. O senador Renan tem um filho que é governador”, argumentou.
“A própria imagem do Senado está em xeque para decidir com relação aos rumos que vai tomar essa CPI”, alertou.
Na segunda-feira, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente Jair Bolsonaro, apresentou ação à Justiça Federal com pedido de liminar na intenção de impedir que Renan Calheiros assuma a relatoria da CPI. A peça questiona a reputação, o posicionamento e a imparcialidade do senador.
“Eu dei uma acompanhada na postura de alguns colegas e a gente vê pré-jugamentos, a gente vê conflitos de interesse, que tem filho governador, tem algum parente, e também que não esteja como figura central de uma articulação para a Presidência da República”, avaliou Girão, acrescentando que corre-se o risco de uma politização da CPI criar “frustração”.
“Seria uma grande covardia com o povo em um momento de dor, de sofrimento, se fazer palanque político para 2022. É tudo o que a gente não precisa no Brasil neste momento, então eu queria que fosse realmente uma CPI técnica.”
Sobre a escolha de um relator, caso seja eleito presidente da CPI, o senador afirmou que já vem avaliando a postura dos colegas, de olho em um nome que seja imparcial.
“Estou debruçado sobre duas coisas: analisando o perfil de cada um, vendo declarações que fizeram, vendo essa questão se tem conflito de interesse com parente no governo, alguma coisa desse tipo… e também vendo o plano de trabalho”, disse, calculando que a proposta de atividades da CPI fique pronta durante o feriado de 21 de Abril.
“Estou analisando isso. Se porventura eu ganhar a presidência, que a gente possa escolher um relator isento.”
Ao defender que a CPI não investigue apenas “parte” do problema, Girão criticou minuta de plano de trabalho que já circula entre senadores, por considerar que ele dá pouca importância aos repasses da União aos entes da Federação.
“Eu vi o plano de trabalho lá dos colegas do acordão e o plano de trabalho minimmiza Estados e municípios evidentemente, de forma assim, clara”, comentou.
Armas
Girão argumentou ainda que não se posiciona como um parlamentar governista e negou ter sido procurado por representantes do Executivo para tratar de sua candidatura. Afirma, pelo contrário, que partiu dele a iniciativa de informar o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que iria colocar seu nome na disputa.
Lembra que apresentou ainda no início de março requerimento para ampliar a CPI, assinado inclusive por parlamentares da oposição.
Citou, como exemplo, posição fortemente contrária a uma das pautas mais caras ao bolsonarismo: a flexibilização do acesso a armas de fogo. A família do senador viveu, em 2018, uma tragédia relacionada ao assunto quando moravam nos Estados Unidos. Os filhos do parlamentar estavam em escola que foi alvo de um atirador.
“Eu estava morando nos Estados Unidos e aí entrou um atirador, um ‘cidadão de bem’ que comprou uma arma legal e no dia dos namorados ele entrou na escola que meus filhos estudavam e metralhou todo mundo”, relatou.
“Foram dezenas de mortos e por um milagre a minha filha que, estava na classe que o professor foi abatido, ela viu as colegas dela no corredor mortas e tudo, ela foi poupada por um milagre.”
Ainda assim, eventual eleição de Girão poderia ser preferível ao governo, que pode ter trabalho com a composição desenha pelo acordo com Renan, Omar e Randolfe.