Eduardo Belotti: Uma reflexão sobre filas de supermercado e estratégias de investimento
Ando meio sumido porque coloquei na cabeça essa ideia maluca de só fazer textos trazendo analogias do mundo real com o mercado financeiro. A tarefa parecia ser mais fácil do que está sendo.
Mas sem muita enrolação. Vamos ao texto.
Filas em supermercado
Sabe quando você está num supermercado e já terminou de buscar os artigos que foi lá comprar? Agora é hora de se dirigir ao caixa. Mas nuuuunca tem um caixa vazio.
Por isso, você dá uma rápida olhada em todas as filas dos caixas para escolher a menor.
A lógica é simples: a menor fila é a que tende a ser a mais rápida.
Tem uma inferência sutil aqui: você está levando em consideração que todas as filas diminuem na mesma velocidade.
Em pouco tempo você percebe que essa inferência foi errada.
A fila que você escolheu por ser a menor empaca.
Às vezes dá problema na maquininha. Às vezes o cliente reclama que um desconto que estava na prateleira não está refletido no preço da tela. Às vezes o cliente não acha o seu cartão.
Enfim, são diversos os motivos que fazem a sua fila empacar. Mas uma coisa é certa: ela vai empacar. E você vai olhar para o lado e ver uma pessoa que chegou na fila bem depois de você que já está em vias de ser atendido.
Agora vem uma reflexão difícil.
Fico nessa fila ou vou para outra?
Não tem resposta certa. Tudo depende de uma quantidade insana de variáveis que a gente nem pensa.
Às vezes a raiva é tanta que mudamos de fila e dane-se.
Às vezes você está tão envolvido com o smartphone na mão que não quer nem saber: fica na fila sem problemas.
Essa dinâmica se repete em vários lugares no cotidiano.
No pedágio, sua fila sempre demora mais que as outras. No trânsito, a faixa que você está sempre é mais lenta do que as outras, etc etc.
Filas de supermercado no mundo de investimentos
Com investimentos existe um fenômeno parecido.
Existem diversas estratégias para gerar riqueza no mercado. Cada uma tem as suas vantagens e as suas fraquezas. Nem os mega investidores conseguem chegar a um consenso sobre qual é a melhor forma de se fazer dinheiro.
Dentre as macro estratégias vencedoras, existem várias:
- Value investing
- Swing trade
- Derivativos
- Investindo em startups
- Diversificar para reduzir risco
- Não diversificar, mas sim escolher poucos ativos para maximizar retorno se estiver certo
- Operar comprado
- Operar vendido
Além de várias outras e/ou uma combinação dentre essas.
Pense nessas estratégias como as filas do supermercado.
Como diria o Chorão do Charlie Brown Jr, cada escolha é uma renúncia.
Ao escolher uma estratégia, você está abrindo mão das outras. Assim como ao escolher uma fila do supermercado, está abrindo mão das outras.
Como disse antes, se você escolher uma fila do supermercado e ficar nela, invariavelmente chegará ao caixa. Nem sempre vai ser a fila mais otimizado, mas sempre chegará no caixa.
O problema com a fila não é a fila em si. É ficar trocando a todo momento que você enxerga mais oportunidade em outra.
Gosto de ir ao limite em meus exemplos porque fica mais fácil de observar o fenômeno, então releve o exagero do próximo exemplo:
Se uma pessoa trocar de fila toda vez que vê uma fila indo mais rápido, por exemplo, ele pode ficar trocando de fila até o supermercado fechar.
Com investimentos é análogo: O problema com investimentos não é a estratégia em si. É ficar trocando de estratégia quando se depara com perdas.
Não é raro um investidor começar com uma estratégia em mente e, no momento que começa a ter perdas (ou enxergar mais potencial de ganho em outras), decide partir para outra para recuperar.
O investidor começa a investir ao ler que buy and hold é uma boa estratégia. Por isso, passa a seguí-la a ferro e fogo.
Passam-se 4 meses e ele está negativo. Ao olhar para o lado, vê um amigo do colégio sendo lucrativo no swing trade. Depois de conversar com o amigo, percebe que na verdade, o melhor caminho é o Swing Trade e não o Buy and Hold. Por isso, passa a adotá-lo.
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Mais adiante acontece um fenômeno de cauda que faz com que os investidores da estratégia do pózinho façam muito dinheiro. Muito mais do que os investidores que estão focados no swing trade. Mais uma vez, nosso amigo muda de estratégia.
Esse comportamento pode se repetir ad eternum, sendo que geralmente se tem melhores resultados ao se escolher e se ater a uma estratégia vencedora (e escolher bons ativos, obviamente) ao invés de trocar sempre.
Pensar no curto prazo pode levar a mudanças desnecessárias.
Conclusão
A grande verdade é que não existe a melhor estratégia para investir. O problema é ficar mudando de uma para a outra.
Note que não estou falando de trocar de ativos em custódia, afinal essa é uma dinâmica normal em qualquer estratégia.
Estou falando de mudar o sistema de princípios que o investidor usa para montar uma carteira: a estratégia de investimentos.
Se você escolher uma fila no supermercado e ficar nela, você vai chegar no caixa invariavelmente.
Se ficar trocando sempre para uma que parece ser melhor, é possível (teoricamente) nunca chegar ao caixa.
Nos supermercados e no mercado financeiro a gente costuma ter pouca paciência.
Na fila, a pouca paciência pode te custar alguns minutos, na pior das hipóteses, horas. No fim do dia muda pouca coisa.
No mercado financeiro, a pouca paciência pode te custar milhares de reais. Vale a pena ter paciência nesse caso.
Escolha uma estratégia vencedora, escolha bons ativos seguindo essa estratégia e tenha paciência.
Mais importante do que escolher a melhor fila é chegar em casa com os produtos que você precisava comprar.