Eduardo Belotti: A aula de risco que os sinais de trânsito me deram
Risco é sempre um assunto delicado quando se trata de investimentos. É fácil entender o que é risco: a probabilidade ou possibilidade de algo ruim acontecer com os ativos.
E existe um conceito chamado de risco de ruína que é a probabilidade de um indivíduo perder uma quantia de dinheiro através de investimentos, day-trade, especulação, jogos de azar, etc. a ponto de não ser possível recuperar as perdas ou continuar.
Sendo assim, o risco de ruína é a chance de você perder tudo e não conseguir mais investir para recuperar a grana.
Na vida é análogo. O dia inteiro estamos correndo riscos. O risco de ruína é quando corremos risco de vida.
Ao andar na rua estamos correndo alguns riscos: tropeçar, ser assaltado, encontrar um colega chato do colégio e por aí vai.
Mas também existe risco de ruína, como ser atropelado por um ônibus.
Apesar do conceito de risco ser simples, o ato de medir risco é extremamente complicado. No mercado existem vários modelos, mas nenhum é 100% assertivo.
Mas uma coisa é certa: não importa em qual ramo, reduzir o risco de ruína é sempre bom.
E ao longo dos anos, eu tenho tido uma reflexão sobre o tema toda vez que eu atravesso as ruas do Rio de Janeiro e São Paulo. Calma. Não fiquei maluco. Vou explicar.
A sutil diferença dos sinais de trânsito cariocas e paulistas
Por ter morado grande parte da minha vida na Zona Sul do Rio de Janeiro, uma coisa me chamou muito a atenção ao andar nas ruas de São Paulo.
O sinal de trânsito, ou farol (como os paulistas adoram chamar) é posicionado de forma diferente no RJ e em SP.
No Rio, em um cruzamento, o sinal fica posicionado antes do cruzamento. Nos lugares em que andei à pé em São Paulo, o semáforo fica posicionado do outro lado da rua.
Um detalhe apenas? Talvez.
Mas o que sempre me chamou a atenção é que isso fazia com que fosse necessário ter um sinal de pedestres no Rio. Isso acontecia porque o pedestre não tem visibilidade da luz do sinal da faixa de pedestre.
Para ver qual a cor da luz acesa, é necessário andar pela calçada para longe da faixa de pedestres, na direção contrária à dos carros.
Em São Paulo, o sinal de pedestres, embora útil, não é tão imprescindível. Isso ocorre porque o pedestre consegue olhar para o sinal e ver a mesma luz que está guiando os motoristas a passarem ou a pararem.
De fato é um detalhe bem pequeno.
Inclusive, isso só me chamou a atenção porque eu sempre procurava o sinal aqui em São Paulo e demorava a achar porque eu olhava para onde estava habituado a ver os sinais no Rio de Janeiro.
O risco de ruína atravessando a rua é maior no Rio de Janeiro
A verdade é que essa pequena diferença traz consigo um risco intrínseco diferente. Como estamos falando de pedestres, carros e semáforos, o risco a que me refiro aqui pode ser o risco de ruína. Se você atravessar no momento errado por algum motivo, existe a chance de ser atropelado e acontecer o pior.
Em São Paulo, como o pedestre e o motorista tendem a olhar para o mesmo semáforo, a chance de cada um ver uma luz diferente é zero.
No Rio, o pedestre olha para o sinal de pedestre e o motorista para o sinal de carro. Claro que o sistema é feito para que quando um for vermelho, o outro seja verde e vice versa.
O problema é que vivemos no mundo real e não num mundo ideal. No mundo real, nem sempre as coisas funcionam como deveriam.
E de novo, estamos falando de risco de ruína. O que é bem sério.
Se por algum motivo acontece um desalinhamento de sincronia entre os sinais, existe a possibilidade de estar aparecendo vermelho para os dois, o que tem pouco potencial devastador: os carros e os pedestres vão ficar parados (por um tempo.. até entender o que está acontecendo)
O problema é se a luz estiver verde para os dois. Nesse caso, existe a possibilidade do carro não frear e o pedestre atravessar acreditando que o carro vai frear.
Nesse momento você deve estar pensando que eu sou maluco de ficar pensando nessas coisas. Ou que isso jamais aconteceria.
Mas esse exemplo que eu falei acima aconteceu na vida real com meu pai enquanto ele voltava de uma corrida na praia.
Ele conta que estava esperando o sinal de pedestre abrir e quando abriu, começou a atravessar a rua. Um ônibus que estava vindo não freou e começou a buzinar.
Meu pai voltou à calçada e viu o ônibus passar no sinal que ele julgava estar fechado, afinal o sinal que estava aberto era o de pedestre.
Eis que outros carros também furam o sinal.
Diante dessa situação ele foi ver o sinal dos automóveis e ele estava verde também.
É incrível como a vida é frágil. Se ele não conseguisse voltar à calçada a tempo, poderia ter acontecido um desastre. Mas ele conseguiu e provavelmente nem se lembra mais dessa história que me contou, pois a vida segue. Mas eu nunca me esqueci porque foi uma prova de que aqueles meus pensamentos malucos não eram tão malucos assim.
Diminuindo o risco de ruína
O objetivo desse texto não é trazer a mensuração de riscos. Seria pretensão demais da minha parte.
A minha ideia com o texto também não é criticar engenheiro de trânsito nem nada disso. Apesar de ser engenheiro mecânico, eu não tenho a menor ideia de como funcionam os sinais de trânsito.
Mensurar o risco sem errar é algo que nem os grandes especialistas de investimento conseguem fazer. Mas uma coisa que você pode mensurar facilmente é a performance da sua carteira. O Real Valor ajuda o investidor a conseguir entender em pouco tempo o que está indo bem e o que não está.
O objetivo é só chamar a atenção para esse conceito que é tão importante na vida e nos investimentos, mas que pouca gente conhece: o risco de ruína.
Qualquer diminuição no risco de ruína é extremamente proveitoso porque ele tende a alongar o tempo de vida. Seja como investidor, jogador de poker ou a vida mesmo, como no caso do sinal de trânsito.
É por causa dele que eu sempre prefiro tomar decisões mais conservadoras quando existe risco de ruína. Não entenda errado. Adoro correr risco, mas odeio correr risco de ruína. É um detalhe, mas que faz toda a diferença.
Ao atravessar a rua, eu sempre tento olhar para o sinal que os motoristas olham e também tendo a só atravessar a rua caso não esteja vindo nenhum carro ou depois que os carros já frearam.
É a forma que eu encontro de correr menos risco de ruína ao atravessar a rua. Não gosto de confiar no sinal de pedestres, pois não é para ele que os motoristas estão olhando. Ainda dou um passo além: espero eles frearem, porque pode ser que ele não tenha visto o sinal ou esteja com um problema no freio.
É uma chance pequena? Sem dúvidas. Mas caso aconteça, as consequências são desastrosas.
É tipo brincar de roleta russa. A diferença é que no caso da roleta russa, a chance do acontecimento trágico é maior.
Mas me diz uma coisa: você brincaria de roleta russa caso esse risco fosse bem menor?
Eu certamente não. Não importa se a chance é baixa. O impacto é gigantesco. Prefiro ficar longe.
Na vida e nos investimentos existem infindáveis exemplos análogos. O importante é sempre identificar o que contém risco de ruína e fazer de tudo para evitá-lo ao máximo.
Correr risco pode ser muito bom em muitos casos. Correr risco de ruína não.