Economista-chefe do Banco Central Europeu alerta para impactos de euro forte
O economista-chefe do Banco Central Europeu, Philip Lane, alertou que a valorização do euro neste ano amorteceu o cenário de inflação, em linguagem mais dura que a da presidente da instituição, Christine Lagarde, sinalizando que mais estímulos monetários podem ser necessários.
A inflação permanecerá negativa pelo resto do ano e as revisões de alta para o núcleo de preços por causa da recuperação econômica foram “significativamente silenciadas” pela taxa de câmbio mais forte, escreveu Lane em blog na sexta-feira.
“Deve ficar bem claro que não há espaço para complacência”, escreveu. “O Conselho do BCE está pronto para ajustar todos os seus instrumentos, conforme apropriado, para garantir que a inflação caminhe rumo à meta de forma sustentada.”
As declarações ocorrem um dia depois de Lagarde ter dito apenas que o impacto da taxa de câmbio sobre a inflação deve ser monitorado, o que levou economistas e investidores a questionarem se o BCE não considera os ganhos alarmantes.
O BCE diz repetidamente que não visa a taxa de câmbio, mas uma moeda mais forte pesa sobre os preços ao reduzir custos de importação. Também prejudica a produção, tornando as exportações menos competitivas.
O presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, disse em discurso logo após Lane que a taxa de câmbio “importa para a inflação e para a política monetária” e será monitorada.
A moeda única subiu mais de 10% desde março e ultrapassou US$ 1,20 na semana passada pela primeira vez em dois anos.
A preocupação de Lane com a moeda não parece ser compartilhada por todos os membros do Conselho do BCE, que na quinta-feira concordou que não havia motivo para uma reação exagerada, de acordo com pessoas a par do assunto.
Vitas Vasiliauskas, membro do Conselho do BCE, disse na sexta-feira que a apreciação não é especialmente significativa. “Devíamos monitorar, mas historicamente não é tão excepcional”, disse a repórteres em Vilnius.
“Se o euro acelerar mais rápido, os argumentos a favor de aumentar o estímulo se tornarão ainda mais fortes”, disse Joerg Kraemer, economista-chefe do Commerzbank, cuja previsão é de que o programa de compra seja elevado na virada do ano.
Lane sinalizou que os próximos passos do BCE ainda não estão claros, observando a elevada incerteza e os riscos de queda para a recuperação econômica.
“A inflação permanece muito aquém do objetivo, e houve apenas progresso parcial no combate ao impacto negativo” da pandemia, escreveu. “Nos próximos meses, um conjunto mais rico de informações estará disponível, o que ajudará a informar a calibração da política monetária.”