Economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, não descarta uma possível recessão nos Estados Unidos; saiba mais sobre a influência do país para o Brasil
O mundo acompanha de perto as transformações econômicas dos Estados Unidos (EUA). Para 2024, são aguardados os cortes nas taxas de juros do país, propostos pelo Federal Reserve (Fed). Mas o que isso significa para o país, e para o Brasil?
Em entrevista ao Money Times, Danilo Igliori, economista-chefe da fintech Nomad, respondeu esses e outros questionamentos.
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Abaixo você confere alguns trechos da entrevista, que abordou também a influência das eleições dos Estados Unidos no país e as influências da crise da economia chinesa para o Brasil.
Money Times: Dando um passo para trás na história da economia dos Estados Unidos, como o país chegou ao patamar atual das taxas de juros?
Danilo Igliori: O que está acontecendo agora é o pós-crise do subprime entre 2008 e 2009, depois do evento que gerou uma recessão global para o mundo inteiro. O que acontece desde 2022 é um excesso de liquidez, os juros reais ficaram negativos nas principais economias e elas demoraram para reagir.
A coisa muda completamente com a pandemia, com uma elevação global da inflação. Há um choque enorme de oferta e demanda, com dois choques negativos em março de 2020 que trazem retração da oferta e da demanda, com essa segunda muito concentrada em bens, já que os serviços ainda não podem ser consumidos.
No fundo, o fenômeno inflacionário que a gente viu agora é totalmente vinculado com a pandemia, e é de certa forma a grande justificativa para os erros de previsão do ano passado. O mundo que está emergindo da pandemia, ele é diferente, e a gente não sabe exatamente o quão diferente ele é e como as coisas vão evoluir depois que os ajustes transitórios acabarem.
Além disso, o processo de dependência excessiva de China e Ásia para o fornecimento de bens, com os custos menores e escalas de produção maiores, gera uma pressão inflacionária.
Também, a participação do Governo gastando mais do que gastava antes da pandemia, com uma resposta fiscal muito forte na hora da crise, é um outro fator. Essa nova realidade basicamente aumentou a nossa ignorância sobre o funcionamento da economia.
Money Times: A recessão é um temor que ficou no passado?
Danilo Igliori: Não dá para descartar completamente a hipótese de uma recessão nos Estados Unidos. A inflação já reduziu bastante, mas nossa maior preocupação atualmente é a volta da inflação, não o início de uma recessão.
Money Times: Durante a última ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), alguns participantes se mostraram preocupados com uma demora nos cortes nas taxas de juros. É possível que o Fed “erre a mão” na hora de realizar os cortes?
Danilo Igliori: Esse é um temor que vem se enfraquecendo ao longo das atas, no começo do segundo semestre do ano passado ele estava mais presente. Eles passaram um semestre inteiro observando a política monetária restritiva, com o mercado de trabalho surpreendendo o tempo todo e a inflação vindo para baixo, mas o tom é diferente.
No primeiro semestre do ano passado teve uma estremecida nos bancos regionais, o que foi superado, e por conta dessa crise o tema ficou presente nas atas de dezembro e janeiro. Além de tirar o setor bancário da última ata, eles retiraram a possibilidade de subir as taxas de juros.
Até dezembro eles deixavam em aberto a possibilidade, mas agora a questão é quando vamos começar a afrouxar, reconhecendo a melhora no contexto do segundo semestre.
Eles falam, não com essas palavras, mas basicamente que estamos na última milha. Agora a questão é saber como será essa última milha: uma estradinha “tapetinho” ou uma estrada cheia de buracos.
Money Times: Por que olhar para a economia dos Estados Unidos?
Danilo Igliori: Os Estados Unidos sempre foram importantes para a economia brasileira por ser um grande balizador do que acontece em qualquer lugar fora desse país. É uma grande economia, então quem busca menor risco vai para lá, e é muito importante para a Bolsa.
Quando há um aumento de juros básicos nos Estados Unidos, o impacto é geral, não apenas localizado dentro do país. A partir do momento em que os juros caem lá fora, é muito bom para o Brasil também.
Se você olhasse até novembro, a Bolsa no Brasil estava perdendo de lavada do CDI, de repente, só a expectativa de que ia começar a cair os juros em março gerou a subida de mais de 20% na Bolsa. Foi o melhor investimento de todos em 2023 por conta de uma expectativa de queda de juros.
Agora, olhando para a realidade interna, acho que 2023 tem uma história muito clara de recuperação de credibilidade do governo e entramos em 2024 com um esforço muito grande do Ministério da Fazenda de não perder o bom relacionamento com o Congresso.
Existe uma visão construtiva em relação à economia brasileira, para usar um termo que o mercado gosta, porque os juros dos Estados Unidos vão começar a cair na metade do ano em algum momento. A partir da troca do presidente do Banco Central no final desse ano, é um momento de pressões para a próxima eleição.