Economia

Economias de Brasil e México enfrentam déficits imensos devido a choque do coronavírus

23 abr 2020, 10:30 - atualizado em 23 abr 2020, 10:30
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A visão pessimista para o Brasil agora está associada a temores emergentes sobre o “Orçamento de guerra” de Bolsonaro contra o vírus (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

As maiores economias da América Latina, o Brasil e o México, provavelmente enfrentarão aumento do déficit este ano dado que os governos são forçados a combater recessões provocadas pela pandemia de coronavírus, mostrou uma pesquisa da Reuters.

Mas qualquer recaída na frouxidão fiscal no longo prazo pode ameaçar a recuperação futura, adicionando um novo risco às preocupações existentes sobre as atitudes do presidente Jair Bolsonaro e seu colega mexicano, Andrés Manuel López Obrador, em relação à emergência global.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil recuará 2,5% em 2020, de acordo com a mediana das estimativas em uma pesquisa realizada com 45 analistas entre 13 e 21 de abril, afundando novamente a maior economia da América Latina em recessão após três anos de crescimento fraco.

A visão pessimista, um rebaixamento ante uma previsão de expansão marginal de apenas 0,3% em uma pesquisa preliminar no mês passado, agora está associada a temores emergentes sobre o “Orçamento de guerra” de Bolsonaro contra o vírus.

Maiores gastos e menores receitas resultantes da crise reverteriam anos de austeridade e fariam o déficit primário do Brasil subir para 6,0% do PIB, elevando a dívida bruta a um recorde de 85% até o final de 2020, de acordo com as respostas dos analistas a uma pergunta separada.

Autoridades dizem que essas métricas extremas ainda são administráveis, ​​e uma maioria de 10 economistas entre 15 na pesquisa concordou em princípio, afirmando que medidas de emergência fiscal, combinadas com cortes na taxa de juros pelo banco central, devem impulsionar o crescimento em 2021.

No entanto, 12 de 14 analistas que responderam a uma pergunta diferente viram riscos para a economia se o país não for capaz de mostrar claramente como vai restabelecer a austeridade quando o pior do episódio do coronavírus terminar.

“Precisamos entender por quanto tempo haverá pausa nas reformas que estavam levando os mercados a precificar mudanças estruturais positivas e qual será o desvio nos gastos”, disse Rafael Silotto, gerente de portfólio da Brasilprev.

A mais recente recessão do Brasil, atualmente em seu primeiro e pior trimestre, com uma perda estimada de 5,7% do PIB no período, deve elevar a taxa de desemprego para 13,1% no final do ano, de 11,6% em fevereiro.

No entanto, se o cenário básico se realizar, seria mais brando do que a contração de 2015 e 2016, quando o Brasil enfrentou a mais profunda crise econômica de uma geração em meio a turbulências políticas domésticas.

As tensões relacionadas ao tratamento geral da pandemia são outra fonte de ansiedade, pois Bolsonaro entra em conflito com poderosos governadores estaduais sobre seus planos de reabrir a economia rapidamente, minimizando a doença que ele chama de “gripezinha”.

Como Jair Bolsonaro, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, foi alvo de críticas por minimizar a pandemia (Imagem: Reuters/Henry Romero)

México

Assim como Bolsonaro, López Obrador, presidente do México, também foi alvo de críticas por minimizar a pandemia, após suas sugestões iniciais no mês passado de que as pessoas deveriam continuar indo a restaurantes e gastando dinheiro para manter a economia em movimento.

Como no Brasil, as contas públicas do México estão em uma condição delicada. O déficit primário deverá subir para 2,5% do PIB este ano, ante superávit de 1,4% em 2019, enquanto a dívida bruta está prevista em 54% do PIB, cerca de 9 pontos percentuais a mais.

López Obrador “tem uma corda bamba difícil de andar”, disse Christian Lawrence, estrategista de mercado do Rabobank. “O estímulo é necessário, mas não pode ser oferecido sem arriscar o rating de grau de investimento do México.”

Enquanto alguns dizem que o México está entrando em sua maior recessão desde a chamada “crise da tequila” do início dos anos 1990, ou pior, a pesquisa apontou para uma contração de 5,1%, um pouco menor do que a queda de 5,3% em 2009.