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Economia, RenovaBio e ambiente pagarão a conta da “culpa” da soja pela alta do diesel, depois do MME cortar o biodiesel

10 abr 2021, 12:08 - atualizado em 10 abr 2021, 12:28
Soja Grãos Agricultura
Governo alega que soja impacta alta do óleo diesel, em plena oferta de safra do grão (Imagem: Reprodução/Embrapa)

Em plena safra finalizada, com um recorde de mais de 135 milhões de toneladas, o governo culpa a soja pelo aumento do diesel e derrubou de 13% para 10% a mistura do biodiesel. A partir do meio de ano, com as exportações esgotando os estoques e a entressafra no pico, como deverá ser?

“Voltaremos ao B5?”, indaga Miguel Ivan Lacerda, ex-diretor de Biocombustível do Ministério de Minas e Energia (MME).

Não é a primeira vez que o MME criminaliza a soja pela alta do diesel – e ignora as altas do petróleo e os repasses da Petrobras (PETR4) -, já que o grão participa com mais de 70% na formulação do biodiesel. O ministério alegou, no informe desta sexta (9), que a medida é provisória, para suportar a demanda internacional que encarece a principal commodity brasileira.

Há alguns dias, em pleno leilão 79 de biodiesel, interrompido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) sem explicações, o mercado entendeu que haveria mudanças no mandato da mistura.

Para Lacerda, que dirigiu a equipe que desenhou o RenovaBio, a “incongruência na política” de biocombustíveis, levanta de cara uma dúvida. O MME não declarou quando o Brasil voltaria ao B13, mas como a oferta de soja tende a escassear, para compensar a menor disponibilidade o “governo terá que substituir por mais diesel importado, com efeitos negativos para economia”.

E há a perda de geração de receita com menor industrialização local da soja, “incentivando a exportação in natura e com impacto na geração d e emprego e renda”.

Nesse ponto, o ex-presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa, entende “não ser possível o País, maior produtor mundial, líder já em exportação, acabar jogando mais soja no exterior [com o que sobrará do corte], desincentivando a industrialização e criando problemas para pequenas esmagadoras”.

Para o produtor de Canarana (MT), “tecnicamente foi um erro”, pois não vai resolver o problema.

A cereja do bolo é que a redução na mistura do combustível para utilitários implicará diretamente em menor emissão de Crédito de Descarbonização (CBios), os títulos que precificam a venda de biocombustíveis pelas indústrias no RenovaBio.

Para o meio ambiente, não resta dúvida os prejuízos, também criticado por Miguel Lacerda, hoje diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), já que o Brasil vai respirar maior quantidade de emissões com mais diesel consumido.

“Um absurdo”, qualifica, em comentário lacônico, o professor da Unicamp e chefe do Laboratório de Genômica e bioEnergia, Gonçalo Pereira, defensor ferrenho da energia renovável.