Economia

Economia brasileira começa a sentir impactos do coronavírus, dizem analistas

03 abr 2020, 20:40 - atualizado em 03 abr 2020, 20:43
Dinheiro Real
“Em linha com a queda dos indicadores de confiança, os dados têm apresentado recuos relevantes no mês passado”, disse o Bradesco em nota (Imagem: Pixabay)

A economia brasileira já começa a sentir os primeiros sinais de impacto da propagação do coronavírus, a julgar por dados recentemente divulgados, disseram analistas de bancos nesta sexta-feira.

“Em linha com a queda dos indicadores de confiança, os dados têm apresentado recuos relevantes no mês passado”, disse o Bradesco (BBDC3) em nota.

O Bradesco citou em relatório queda em março no número de emplacamentos de veículos na comparação ao mês de fevereiro, segundo dados da Fenabrave.

Os licenciamentos de veículos novos no país no mês passado recuaram 18,6% na comparação com fevereiro e desabaram quase 22% frente a março de 2019.

Ainda de acordo com o banco, outros indicadores devem apontar declínios semelhantes em março, o que é “compatível” com retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre.

Para a próxima semana, o Bradesco chamou atenção para dados da Anfavea sobre produção de veículos em março e para o IPCA, com ambos devendo mostrar efeitos do coronavírus.

O UBS ressaltou o tombo de 15,9 pontos no Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) para o setor de serviços do Brasil no mês de março, uma queda recorde. O dado veio depois de números do PMI industrial, que mostraram contração no setor pela primeira vez em 8 meses.

“Para março, prevemos fortes quedas mensais nas vendas do varejo, setor de serviços e atividade econômica como um todo”, disseram em relatório os economistas Fabio Ramos e Tony Volpon.

Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, o impacto do Covid-19 sobre os PMIs, indicadores de confiança do consumidor e empresarial e dados de alta frequência (com mais divulgações) para a atividade é “vísível e grande”.

“À frente, esperamos que os PMIs diminuam ainda mais, já que a economia, particularmente os setores de serviços, sofre os ventos contrários de uma recessão global e doméstica devido ao impacto econômico e social do surto de Covid-19”, disse Ramos em nota.

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Projeções para 2020

Com os impactos do Covid-19 começando a mostrar as caras, algumas instituições têm reduzido ainda mais suas estimativas para a performance da economia durante o ano.

O UBS informou nesta sexta revisão de sua estimativa para o desempenho do PIB deste ano, prevendo agora contração de 2%, ante prognóstico anterior de expansão de 0,5%.

Na quinta, o Bank of America piorou a estimativa para o desempenho da economia brasileira em 2020, de uma projeção que já era negativa, passando a ver retração de 3,5%, ante redução de 0,5% prevista anteriormente.

Em meados de março, JPMorgan (-1,0%), Goldman Sachs (-0,9%), Itaú Asset Management (-0,3%) e Itaú Unibanco (ITUB4) (-0,7%) previam encolhimento da economia neste ano.

Também em março, estudo da FGV apontou que o PIB poderia retrair 4,4% em 2020 por causa dos efeitos do coronavírus. O Ipea projeta declínio de até 1,8%.

No mercado, a expectativa é que o PIB caia 0,48%, pela mediana das estimativas da última pesquisa Focus do Banco Central.

O governo (+0,02%) e o Banco Central (zero) veem crescimento nulo. Mas o BC já admitiu que revisará seu cenário.