Easynvest terá fundos de previdência e foca em traders e educação para mulheres investidoras
O cenário atual de bolsa de valores em alta é bom para as corretoras pois provoca volatilidade e aumento dos negócios, diz Amerson Magalhães, sócio diretor da Easynvest, hoje a maior corretora independente do mercado depois que a XP Investimentos passou a ter como sócio o banco Itaú Unibanco. “A alta dos preços das ações sempre é boa, pois as pessoas físicas se animam e isso cria mais negócios do que na baixa, quando as pessoas se retraem”, diz. Aproveitando esse movimento, a corretora, que usa o sistema “self-service”, pelo qual o cliente escolhe e faz suas operações por conta própria, sem agentes autônomos ou assessores ou indicações, está se preparando para ampliar a clientela. Entre as estratégias, estão a montagem de uma plataforma para negociação de ações mais voltada para os profissionais de mercado, os “traders”. “Hoje, nossos clientes são mais ‘buy and hold’, compram e carregam o papel por um tempo, e queremos atender os investidores que fazem mais day-trade, o giro diário, de compra e venda ao longo do dia”, diz.
Outras estratégias são oferecer previdência privada e incentivar a educação financeira para mulheres. A Easynvest está abrindo uma corretora de seguros para oferecer fundos de previdência e criou um grupo fechado para mulheres que querem começar a investir ou aprender a investir melhor, o “Nós Mulheres Investidoras”. A ideia é que a plataforma para traders e a oferta de previdência privada comecem no primeiro trimestre do ano que vem.
Aumento de 20% na abertura de contas
Junto com a alta da bolsa, houve um aumento na abertura de contas, de cerca de 20% em relação ao ano passado, para mais de mil por dia este ano, afirma o executivo. A maior procura, porém, ainda é pelo Tesouro Direto, sistema de venda de títulos públicos pela internet e que é o carro-chefe da Easynvest, uma das primeiras a isentar de taxas as compras e vendas de pessoas físicas.
Sem agente autônomo nem indicações
A estratégia é oferecer um sistema simples, amigável para o investidor, que faz por conta própria as operações. Por isso, a Easynvest não oferece indicações de ações ou investimentos, mas educação financeira, também sem agentes autônomos, muito presentes na concorrência. “O foco é o cliente mesmo cuidar do seu dinheiro e, como temos uma estrutura com custo mais baixo, não podemos dividir os ganhos com um terceiro nem oferecer consultoria”, explica Magalhães. Segundo ele, o modelo da XP, que tem hoje cerca de 3 mil agentes autônomos, não interessa à Easynvest também porque o vínculo do cliente é com o agente, não com a corretora. “E, com o custo do agente, não poderíamos oferecer a melhor taxa para o cliente.”
Retorno de 30% sobre o patrimônio
O modelo vem dando certo, uma vez que a corretora hoje já dá lucro. Este ano, a estimativa é de um lucro de R$ 11 milhões a R$ 12 milhões, para um patrimônio de R$ 30 milhões, o que representa um retorno de mais de 30%. “O lucro vai ser igual ao do ano passado, mas no ano que vem devemos ter um ganho maior”, acredita Magalhães. Como o Tesouro Direto é isento, o forte do retorno vem da renda fixa privada, na qual a corretora recebe parte da remuneração dos bancos e financeiras que usam seu serviço para vender CDBs, LCIs e LCAs para os investidores. “Hoje, os clientes começam aplicando em Tesouro Direto e, depois percebem que podem ter mais retorno em papéis privados com proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e migram para esses papéis”, explica.
Abrir capital depois
Apesar do lucro, Magalhães diz que a empresa ainda não pensa em abrir o capital na bolsa, como ensaiou a concorrente XP antes de se associar ao Itaú. “Devemos fechar o ano com um faturamento de R$ 80 milhões a R$ 85 milhões, precisamos engordar um pouco mais antes de pensar em abrir o capital”, diz.
Clientes cresceram 50%, para 300 mil
Hoje, a Easynvest tem cerca de 300 mil clientes ativos, um crescimento de 100 mil ou 50% em relação aos 200 mil do ano passado, e conta também com mais de um milhão de clientes cadastrados. E a expectativa é atrair mais de 100 mil clientes no ano que vem. “Talvez não dê 150 mil, mas mais de 100 mil é fácil”, diz Magalhães. Segundo ele, o potencial de crescimento das corretoras independentes no Brasil ainda é grande. “O mercado de pessoas físicas investidoras é estimado em 10 milhões, dos quais 60% tomam conta do próprio dinheiro pela internet”, afirma o executivo. “Isso dá 6 milhões a 7 milhões de pessoas, sendo que hoje não temos nem 1,5 milhão nas corretoras independentes”, diz.
Ativos de R$ 16 bilhões
A Easynvest tem R$ 16 bilhões sob custódia, dos quais R$ 7 bilhões em Tesouro Direto, R$ 6 bilhões em papéis privados, R$ 1,5 bilhão em ações e R$ 1,5 bilhão em fundos de investimentos. O valor representa um crescimento de 23% sobre os R$ 13 bilhões de custódia do ano passado e 22 vezes mais que os R$ 700 milhões que a corretora tinha em 2015, quando ainda se chamava Título e foi comprada por um grupo de investidores, entre eles Magalhães. Mais tarde, recebeu um aporte do fundo de investimentos americano Advent.
Renda variável representa pouco na receita
A parte de renda variável ainda é pequena no negócio da Easynvest, representando 15% a 20% do faturamento, estima Magalhães. São 30 mil clientes investindo em bolsa, ou 10% do total. Esses percentuais devem melhorar com o aumento dos preços das ações e dos negócios, especialmente dos “traders”, investidores que operam o dia inteiro tentando ganhar com as oscilações dos preços dos ativos. Por isso a corretora está investindo na plataforma mais profissionalizada de negócios.
A corretora também aposta nos fundos de investimento, que criam um “colchão” de receita recorrente vinda da parcela de taxas de administração cobrada pelos gestores. No ano passado, a corretora tinha 20 fundos e agora já são 70. “Não vamos crescer muito o número de fundos porque fazemos uma pré-seleção das carteiras”, diz.
Tarifa menor dos bancos não impede migração
Ele considera que o impacto da concorrência dos grandes bancos, baixando tarifas, não deve ser tão grande para corretoras como a Easynvest. “Parte dos clientes é sensível a preços, mas a maior parte sai dos bancos pela qualidade do serviço e pela maior oferta de opções”, diz. Por isso, a corretora investe em uma plataforma variada e com uma linguagem acessível para os investidores que querem cuidar do próprio dinheiro.
Magalhães diz que não há mais espaço para consolidação no mercado de corretoras independentes via compra de concorrentes. “As maiores já foram compradas pela XP e poucas estão crescendo bastante, e o público mesmo está nos bancos”, afirma. Ele acredita que a entrada de estrangeiros, como a chinesa Fosun, que comprou a Guide Investimentos, ajuda a ampliar o mercado de corretoras independentes. “Elas ajudam a divulgar um mercado que ainda é desconhecido no Brasil e ajuda a tirar investidores dos grandes bancos”, diz.
O papel das corretoras como distribuidoras de papéis de bancos menores também deve se ampliar com a retomada da economia e do crédito, lembra Magalhães. “Há cinco anos, os pequenos e médios bancos ficaram na dependência de grandes investidores, family offices, que quando resolviam sair de uma instituição provocavam problemas”, lembra. “Hoje, o banco pode pulverizar sua base de captação, com aplicações a partir de R$ 3 mil em um CDB, e o investidor pode encontrar dezenas de papéis de bancos diferentes, com vários prazos e tipos de correção que permitem também uma diversificação maior da carteira do cliente e do banco”, afirma.
Corretora de seguros
A ideia da corretora agora é aproveitar a discussão sobre a reforma da Previdência para oferecer também fundos de previdência privada. Para isso, é preciso ter uma corretora de seguros, explica Magalhães. “A discussão sobre a reforma trará um grande apelo para a previdência privada e já estamos conversando com algumas seguradoras para oferecer esses fundos”, afirma. “Estamos abrindo a corretora de seguros e esperamos no começo do ano começar a oferecer previdência”, diz.
Grupo de mulheres investidoras
Já o projeto para mulheres, além de aumentar o número de investidores, é trazer o público feminino para o mercado com uma linguagem especial. “As mulheres muitas vezes não entendem os termos do mercado, não têm o hábito de lidar com os investimentos, apesar de cuidarem do dinheiro da família, pagarem as compras e as contas e se preocuparem em guardar para a educação dos filhos”, lembra Magalhães. A proposta é ter um grupo fechado, em que elas possam trocar experiências e aprender com especialistas mulheres que usem uma linguagem mais acessível, diz o sócio da Easynvest.