BusinessTimes

É uma boa comprar as ações da Sabesp para ganhar com a privatização?

17 jul 2020, 9:17 - atualizado em 17 jul 2020, 17:55
Estação de tratamento da Sabesp
Vale lembrar que no Brasil, 35,7% da população não têm acesso aos serviços de saneamento básico (Imagem: Sabesp/Divulgação/Facebook)

Durante esta quarta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro surpreendeu a todos ao assinar a nova lei de saneamento, com 11 vetos, em uma grande reviravolta na pauta. Dentre os artigos não aprovados está o de número 16, que permite a renovação de contratos de programa com prazo máximo de vigência de 30 anos.

O próximo e último passo da dança política é que, nos próximos 30 dias, o Congresso Nacional decidirá se tenta anular os vetos do presidente ao projeto de lei, para o qual seria necessária uma maioria simples em ambas as casas (257 votos na Câmara dos Deputados e 41 no Senado).

A Ágora Investimentos enfatiza que a nova lei de saneamento elaborada no Congresso e aprovada pelo presidente Bolsonaro é a melhor legislação possível que os brasileiros poderiam esperar para resolver a questão de décadas de serviços de saneamento insuficientes.

Vale lembrar que no Brasil, 35,7% da população não têm acesso aos serviços de saneamento básico, cerca de 75 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região Norte, oito de cada 10 domicílios não dispõem de esgoto sanitário, conforme dados de 2018.

Mas a pergunta que não quer calar: o governo de São Paulo finalmente será mais assertivo ao privatizar a Sabesp (SBSP3)?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como fica a Sabesp

A capital paulista sozinha já corresponde a 50% da receita da companhia de saneamento (Imagem: Instagram/Sabesp)

Na visão da casa de análises, os obstáculos que poderiam impedir a privatização da Sabesp parecem ter sido removidos.

“Até recentemente, as autoridades governamentais estaduais vinham analisando cuidadosamente seus comentários a respeito da privatização, pois não estava claro se o consentimento dos municípios seria necessário”, pontuam os analistas Francisco Navarrete e Ricardo França.

A maioria dos municípios paulistas é politicamente alinhado com o governo Doria.

Considerando uma análise do UBS, à qual o Money Times teve acesso, a estatal paulista atua em 369 municípios paulistas e as 20 principais cidades correspondem a 75,5% da receita total (a capital sozinha equivale a 50% da receita).

“O governador João Doria tem o suporte de 75% dos prefeitos das principais cidades, que coincidentemente são do mesmo partido político ou aliados, para a renovação dos contratos de saneamento em linha de privatizar a companhia de saneamento”, pondera o banco suíço.

Ainda segundo o UBS, a privatização da Sabesp pode alavancar a ação a R$ 98. Além de injetar R$ 35 bilhões aos cofres públicos do Estado de São Paulo.

O governador João Doria tem o suporte de 75% dos prefeitos das principais cidades (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

“Os players privados desejam garantir que seus principais clientes estejam satisfeitos com a Sabesp privatizada antes de emitir um cheque; e o governador João Doria dificilmente gostaria de criar atrito com as centenas de municípios antes das eleições “, observam a dupla da Ágora em relação ao cenário de negociações sobre a privatização.

Momento e modelo de privatização

Não está claro e definido ainda. Contudo, se o governo paulista decidir vender a empresa, talvez prefira realizar um leilão de privatização para maximizar seu valor de saída, já que o Estado detém 50,1% de participação na Sabesp, que para a casa de análises rende cerca R$ 40 bilhões.

Uma alternativa possível seria São Paulo vender parte de sua participação no mercado e transformar a Sabesp em uma verdadeira corporação. O Estado poderia sair parcialmente com esse movimento, mantendo uma boa quantidade de ações da Sabesp.

Esse modelo foi utilizado pelo governo federal no caso da BR Distribuidora (BRDT3) em 2019 e teve várias vantagens.

Retorno atraente

Uma Sabesp privatizada decolaria 70% na Bolsa (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Considerando que a nova lei de saneamento é ainda mais voltada para privatizações do que que o esperado, a Ágora defende que o risco/retorno permanece atraente.

No cenário da Sabesp privatizada, as ações podem valer R$ 104 (70% de alta). No cenário em que a empresa permanece como estatal, o valor seria de R$ 54 por papel.