Política

É um ponto a ser estudado, diz Bolsonaro quando indagado se Onyx usa cargo para fins eleitorais

06 fev 2020, 12:42 - atualizado em 06 fev 2020, 12:42
Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni
“É um ponto a ser estudado”, disse aos jornalistas na saída do Palácio da Alvorada (Imagem: REUTERS/Diego Vara)

Apesar de ter mantido o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no cargo, o presidente Jair Bolsonaro tem dado sinais de que o auxiliar não está tão firme quanto o próprio Onyx anunciou.

Ao ser questionado nesta quinta-feira se o ministro, que concentra boa parte da sua agenda em receber políticos do Rio Grande do Sul e privilegia os veículos da região ao dar entrevista, não estaria pensando em uma possível eleição em 2022, Bolsonaro não saiu em defesa do ministro, como fez em outros casos.

“É um ponto a ser estudado”, disse aos jornalistas na saída do Palácio da Alvorada.

“Qualquer ministro que, por ventura, queira usar o ministério e, em vez de atender o Brasil, atender seu Estado, seu município, está fadado a levar um cartão vermelho. Eu não vou confirmar o que você falou aí, mas em havendo… os ministros sabem que eu fico ligado em quase tudo. Percebendo, não conta com minha simpatia.”

Em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo, o presidente havia afirmado que não queria saber de ministros envolvidos nas eleições deste ano, para prefeito e vereador. Bolsonaro ressaltou que não sabia de nenhum caso, mas disse que o ministro que usar o cargo para isso iria ganhar “cartão vermelho”.

Deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Onyx não esconde sua intenção de tentar se eleger governador do Estado em 2022. Seu partido, o DEM, tem pouca expressão no Estado e o próprio ministro não era um político de peso na região. No entanto, sua visibilidade no governo de Bolsonaro reavivou o sonho.

Uma rápida olhada na agenda de Onyx mostra que apenas nos 16 dias úteis deste ano –o ministro tirou férias de 18 a 31 de janeiro–, ele recebeu seis representantes do seu Estado, entre prefeitos, deputados e executivos da região.

Um levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo com as agendas do ministro em 2019 mostrou que, de 650 encontros oficiais, 155 foram com pessoas ligadas ao Rio Grande do Sul.

Bolsonaro afirmou ainda que “até o momento” não notou esse comportamento do seu ministro, mas que seus auxiliares sabem que ele sempre diz que quando eles começarem a se preocupar com política “não vai dar certo”.

No entanto, em dezembro, o próprio presidente reclamou de um evento criado por Onyx no final da Cúpula do Mercosul, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Sem qualquer relação com a cúpula, quando os demais presidentes estavam indo embora, o ministro colocou Bolsonaro em um encontro com dezenas de prefeitos do Estado que iriam receber recursos federais para a saúde.

Além de um longo discurso, Onyx anunciou o valor que cada prefeitura iria receber, deixando o presidente impaciente. Ao terminar a fala do ministro, Bolsonaro abriu mão de discursar e disse que precisa ir “assistir o jogo do Flamengo”, no Rio de Janeiro.

Na semana passada, era dado por certo no Palácio do Planalto que Onyx não ficaria por muito tempo no cargo.

A decisão do presidente de demitir o secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini – que foi indicado pelos filhos de Bolsonaro – por ter usado um avião da FAB causou desgaste ao ministro. Especialmente porque Santini foi readmitido em outro cargo por ordem do presidente, mas demitido em seguida pela reação das redes sociais.

Bolsonaro colocou na Casa Civil a culpa pelo desgaste. Onyx antecipou o fim das suas férias para tentar apagar o incêndio e, depois de uma conversa com o presidente, garantiu que ficava no cargo.

No entanto, Bolsonaro não o tem defendido publicamente como faz com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, atacado pelos vários problemas existentes em políticas gerenciadas pela pasta, ou mesmo seu secretário de comunicação, Fábio Wajngarten, investigado pela Polícia Federal por peculato, corrupção passiva e advocacia administrativa.

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