Opinião

E se tudo der errado em 2022?

31 dez 2021, 14:30 - atualizado em 30 dez 2021, 10:56
2022 é ano de eleição e a farra será menor, adverte Paulo Battistella Bueno, gestor e sócio na Santa Fé Investimentos (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Por Paulo Battistella Bueno

Entramos 2021 otimistas com as perspectivas para os mercados de ações aqui no Brasil e também lá fora, a eleição de um presidente democrata nos EUA, os trilhões de dólares injetados como estímulo e a chegada das vacinas contra o Covid-19 embasavam nossa convicção.

Para 2022 o desafio é o final do “Tapering” ou recompra de títulos pelo FED e a calibragem do aumento de juros por lá. Covid não parece mais fazer preço nos mercados, apesar da variante Ômicron mais contagiosa, mas menos letal.

Mas essa primeira semana do ano nos forçou a fazer algumas reflexões e lembrar de tempos longínquos que nem todos os gestores da moda se quer vivenciaram, os tempos de inflação elevada e consequente perda de valor da moeda, a forte depreciação do real e o stress na curva de juros realmente acendem uma luz amarela.

A luz amarela ficou vermelha em 2021 e segue preocupando em 2022. Inflação, fiscal e barulho político serviram para pressionar o dólar cuja alta também provocou inflação.

Resta saber se em ano de eleição o BC conseguirá retomar o controle da inflação, mesmo com um governo que com uma péssima comunicação e que, ao quebrar o Teto Fiscal, teve sua credibilidade abalada.

Na verdade, nesse início de ano tivemos uma mensagem clara dos mercados, estamos em um ciclo longo de alta nas commodities refletido na alta do minério de ferro, aço, soja, milho, petróleo, bitcoin e ouro, em parte a causa disso é a gigantesca liquidez mundial causada pelos estímulos para combater a crise da Covid-19 tendo como consequência principal inflação pela frente.

Para 2022, o ciclo de alta das commodities, com destaque para o petróleo e agrícolas, segue em alta e vai continuar pressionando a inflação.

Todavia, agora os BCs mundo afora começam a enxugar o excesso de liquidez. Se errarem a mão, teremos problemas por aqui.

Aqui no Brasil o quadro se agrava muito com a nossa fragilidade fiscal e com a incapacidade dos políticos de avançar com as reformas tão necessárias

2022 é ano de eleição e a farra será menor, mas se o atual governo não conseguir recuperar sua popularidade, um eventual desespero poderia pegar forte no fiscal e prejudicar os mercados.

Mas o que fazer diante desse cenário? O que muda na nossa visão de longo prazo?

Para responder essas perguntas precisamos voltar ao final da década de 80 e a toda a década de 90 onde a inflação reinava por aqui, mas com uma grande diferença os juros praticados eram estratosféricos, e mesmo assim a consequência que víamos a um cenário de inflação e descontrole fiscal era sempre a mesma, fuga para os ativos reais (ouro, dólar, imóveis e ações).

Muitos dos que fazem o mercado hoje não viveram nessa época, não sabem o que um cenário desses significa, nós sabemos.

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Mas afinal o que muda no nosso cenário?

Não muda muita coisa, seguimos acreditando que estamos em pleno ciclo de alta de commodities e também do mercado de ações principalmente aqui no Brasil, um eventual descontrole do fiscal que ainda nos parece improvável não mudaria esse quadro pois provocaria inflação e fuga para os ativos reais, desta feita muito mais agressiva pois os juros estarão em níveis bem mais comportados.

Aqui nada mudou e, em caso de descontrole, esse sempre será o cenário principal e é importante ter ele em mente aqui no Brasil.

Resumindo, a luz amarela que vimos acender essa semana com a desconfiança do mercado em relação ao fiscal é gasolina para alta das commodities e das ações.

Não foi em 2021 que o descontrole aconteceu. Romperam-se alguns paradigmas, como por exemplo a quebra do Teto de Gastos, precedente perigoso.

Um candidato pirotécnico poderia ativar esse modo descontrole, mas na nossa visão qualquer que seja o próximo presidente haverá necessariamente um alinhamento ao centro e com o mercado, portanto acreditamos que mesmo com muita turbulência as coisas voltarão para o eixo.

Seguimos otimistas!”

Difícil ser otimista em momentos em que reina o pessimismo nos mercados, mas é justamente nesses momentos que se encontram as melhores oportunidades, portanto somos otimistas sim com o ano de 2022!

Que venha!

Paulo Battistella Bueno é gestor e sócio na Santa Fé Investimentos.