É precipitado dizer que o IRB realizou “contabilidade criativa”
A polêmica em torno das demonstrações contábeis da resseguradora IRB (IRBR3) pode estar em um campo muito exagerado, avaliam os analistas da consultoria Capital Research em um relatório divulgado nesta semana.
Na segunda-feira (3), a gestora de recursos Squadra, que possui uma posição vendida sobre os papéis (aposta em queda) desde maio de 2018, publicou uma carta e um relatório questionando alguns pontos do balanço da companhia.
As ações despencaram 9,06%, terminando negociadas a R$ 40,77.
De acordo com a Squadra, os investidores e o mercado estariam, erroneamente, incorporando uma estimativa muito otimista sobre os lucros futuros da empresa com base em números que não são recorrentes. Ou seja, o IRB estaria induzindo o mercado ao erro.
Os analistas Samuel Torres e Felipe Silveira argumentam, contudo, que é normal e faz parte do negócio realizar os lucros de investimentos feitos no passado com os prêmios recebidos para obter ganhos. No caso do IRB, as apostas foram realizadas em shoppings.
“Em 2019, aproveitando o bom momento do mercado imobiliário, a empresa vendeu boa parte desses ativos, impulsionando o lucro daquele ano, o que faz parte do modelo de negócio das seguradoras”, explicam Torres e Silveira.
Além deste ponto, a Squadra levantou a hipótese de que as seguradoras brasileiras estariam reportando sinistros recuperados (que deveriam ser pagos pelo IRB) acima das correspondentes despesas que o IRB está reportando e que o IRB estaria muito otimista em relação ao reconhecimento de “receitas” referentes a expectativas de recuperações de sinistros e de despesas de sinistros esperados.
Sobre os sinistros, a Capital entende que a diferença pode ter sido causada pelo descasamento entre o recebimento do aviso do sinistro pela seguradora e a comunicação à resseguradora, além de diferentes opiniões quanto ao valor do sinistro que efetivamente será pago e por reavaliações de reservas de sinistros reportados em anos anteriores.
Acerca das expectativas de recuperações de sinistros, que estão estimados em 30% para os seguros contratados em 2019 (contra um histórico de 70%), os analistas reconhecem que ainda não há uma resposta da companhia em relação a esse ponto, mas que, por outro lado, ela é altamente regulada e auditada pela PWC.
“Achamos precipitado chegar à conclusão de que a empresa estaria fazendo alguma espécie de ‘contabilidade criativa’ antes de saber o outro lado”, concluem. Apesar de entender que o risco do investimento cresceu, a Capital mantém a visão de que a relação risco/retorno ainda é atrativa.