Opinião

É pouco provável que as ações da Uber se recuperem em 2020

29 nov 2019, 11:44 - atualizado em 29 nov 2019, 11:47
Autoridades de trânsito de Londres cancelaram a licença de operação da Uber por questões de segurança dos passageiros

Por Haris Anwar/Investing.com

Uber Technologies (UBER), maior empresa de contratação de motoristas particulares do mundo, está vivendo uma espécie de cerco ultimamente. Seus problemas, além de sérios e generalizados, não têm uma solução rápida.

Nesta semana, as autoridades de trânsito de Londres cancelaram a licença de operação da Uber por questões de segurança dos passageiros, o que pode fazer com que a companhia perca seu maior mercado europeu, caso seus recursos contra a decisão sejam rejeitados pelo poder judiciário.

O órgão regulador encontrou usuários não licenciados se passando por motoristas da Uber, por meio do uso de identidades falsas em pelo menos 14.000 corridas. Antes desse novo revés, a empresa já vinha enfrentando dificuldades em outras grandes jurisdições para convencer as autoridades de que está tratando bem seus motoristas e realizando devidamente seus negócios.

Uma nova lei da Califórnia concedeu aos trabalhadores autônomos que prestam serviços recorrentes a uma empresa o direito a um salário mínimo. Uma batalha similar em breve terá início em Nova York, onde parlamentares estão planejando aprovar uma nova lei de trabalho autônomo no ano que vem, de acordo com uma reportagem da Bloomberg.

As autoridades tributárias também estão indo para cima das start ups de contratação de motoristas. Em novembro, Nova Jérsei declarou que a Uber  devia ao estado US$ 650 milhões em taxas de seguro-desemprego e seguro-invalidez, alegando que a empresa estava falseando a identidade dos motoristas como prestadores de serviços independentes.

Em meio a todo esse cerco à contratação de motoristas particulares em todo o mundo, os maiores prejudicados têm sido os investidores da Uber. As ações da companhia já se desvalorizaram mais de 30% desde a sua estreia na bolsa, quando estavam cotadas a US$ 45 e agora custam US$ 29,59 cada. Por causa de todos esses problemas e da fraca posição de caixa da companhia, é impossível dizer quando a empresa finalmente se tornará lucrativa.

Uber semanal

Em seu balanço do terceiro trimestre divulgado neste mês, a Uber novamente desapontou os investidores, ao registrar números mais fracos de reservas e usuários ativos no mês, duas métricas acompanhadas de perto por Wall Street. A companhia espera ter um prejuízo entre US$ 2,8-2,9 bilhões neste ano.

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Evolução da plataforma da Uber 

As perdas da empresa de tecnologia, que se encontra em fase de crescimento, não são surpreendentes. Mas o que está gerando dúvidas sobre a companhia sediada em São Francisco (EUA) é a falta de uma estratégia claramente articulada capaz de tornar esse unicórnio em uma empresa lucrativa, capaz de superar seus desafios regulatórios.

A ameaça de cancelamento da sua licença de operação em Londres surgiu justamente no momento em que alguns analistas começavam a dizer que o preço das ações da Uber tinha atingido o fundo após uma profunda correção. Mas é muito arriscado fazer essa previsão agora, sem que a empresa saia vencedora dessa batalha jurídica que pode se arrastar por anos.

Apesar dos contratempos, o CEO da Uber quer que os investidores valorizem a força da sua “plataforma” em evolução

Apesar desses contratempos, o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, quer que os investidores valorizem a força da sua “plataforma” em evolução que, segundo ele, um dia criará o maior ecossistema de transportes modernos, que incluirá seu serviço de contratação de corridas, seu negócio de entrega de comidas em franco crescimento, o Uber Eats, scooters elétricas, entrega de cargas, veículos autônomos e até mesmo carros voadores.

A última inclusão em seu portfólio de serviços em expansão é a Cornershop, que ajuda supermercados, farmácias e varejistas de alimentos a entregar seus produtos.

Tudo isso parece excelente e factível para uma empresa movida pela tecnologia e que mudou a forma como as pessoas se deslocam de um lugar a outro.

A empresa, que tem 10 anos de existência, domina mais de 65% do mercado de contratação de corridas nos EUA, Canadá, América Latina, Europa, Austrália e Nova Zelândia.

Porém está ficando mais difícil defender esse predomínio, uma vez que concorrentes muito menores estão gerando novos desafios em todo o mundo.

Para os investidores que desejam ter alguma exposição ao setor de contratação de corridas, acreditamos que a maior rival da Uber  a Lyft Inc. (LYFT), é uma aposta muito melhor. Ao contrário da Uber, a Lyft está focada exclusivamente no transporte e está se aproximando da lucratividade.

A empresa superou as estimativas de receita dos analistas no terceiro trimestre, no mês passado, e elevou sua previsão para 2019, reiterando que terá lucro até o final de 2021.

Resumo

São poucas as chances de que os papéis da Uber  se recuperem da sua forte queda, em 2020, em razão do cerco cada vez maior das autoridades aos seus negócios e diversos obstáculos regulatórios que a empresa deverá superar antes de recuperar a confiança dos investidores. Nesse ambiente incerto, agora não é o melhor momento para apostar nas ações da Uber.