Eleições 2018

E para deputado? Aplicativo ajuda a encontrar o seu “match” no legislativo

11 set 2018, 15:56 - atualizado em 11 set 2018, 15:56

Com a promessa de ajudar o eleitor a melhor escolher seu voto, o site Tem Meu Voto surgiu da iniciativa de 20 organizações e centenas de voluntários e, com um questionário sucinto, apresenta uma lista com os candidatos que mais se alinham às questões que o usuário priorizou, sejam elas saúde, educação, emprego ou saneamento básico. Além do Tem Meu Voto, outros sistemas semelhantes buscam fazer o mesmo, como o Match Eleitoral, da Folha, e o Appoie.

Feita com base em tecnologia open source (o grupo já informou que vai publicar o código-fonte no site GitHub), a plataforma também usa a ideia de crowdsourcing, ou seja, colaboração espontânea, para popular seu banco de dados: a iniciativa entra em contato com os candidatos frequentemente para pedir que eles enriqueçam seus dados na plataforma, a fim de melhorar a precisão das respostas.

A ideia é que, depois das eleições, os resultados captados pelo site sejam utilizados como objeto de estudo por jornalistas, estudantes e especialistas. O gerente de relações institucionais da iniciativa, Christian Miguel, deu uma entrevista ao Money Times, onde explicou o papel de uma plataforma que usa a tecnologia para dar agência ao voto, sem guiar o eleitor a um candidato de interesse.

Christian Miguel, gerente de relações institucionais do Tem Meu Voto

Money Times: De onde surgiu a ideia do #TEMMEUVOTO?

Christian Miguel: A plataforma surgiu da iniciativa de alguns grupos de ação política e sociedade civil, que se juntaram para criar um sistema para ajudar o eleitor a escolher melhor o voto para o legislativo. Neste ano, são muitos candidatos com pouquíssimo tempo, o que dificulta o processo de decisão por parte do eleitor. O sistema atual favorece a escolha de candidatos do executivo.

Money Times: Qual foi a inspiração por trás do projeto? Alguma iniciativa específica fora do país?

Christian MiguelTem outras plataformas lá fora, mas o cenário é muito diferente aqui no Brasil. Nossa justiça não é automatizada, então todo aplicativo ou plataforma com um propósito parecido encontra dificuldade na hora de reunir os dados. Aqui no Brasil tem várias plataformas, mas é realmente muito difícil concentrar tudo em um lugar só.

Money TimesPor que vocês escolheram ter 7 perguntas?

Christian Miguel: Antes de começar a desenvolver a plataforma, juntamos grupos de estudo com eleitores, que falaram sobre o que achavam mais importante na hora de votar. Daí, olhamos para os bancos de dados disponíveis para cruzar as informações.

Percebemos que os eleitores não queriam, por exemplo, uma plataforma que desse apenas um resultado — eles achavam que isso tirava a agência de escolha. As sete perguntas que estão na plataforma tocam justamente nos focos mais sensíveis a esses eleitores. 85% das respostas são automáticas, com base no banco de dados. As outras 15% foram preenchidas de forma manual pelos candidatos que optaram por participar.

Money TimesTem alguma pergunta que vocês decidiram tirar?

Christian Miguel: Uma que não precisamos tirar, mas que foi difícil de colocar foi a que falava de condenação. Isso porque é um tema complexo: você não pode chamar de condenado sem ser julgado em todas as instâncias cabíveis. A própria pergunta de condenação já cria um viés negativo. Todo mundo tem direito a se defender. Nessa categoria, a gente só olha para processos contra a ordem pública, mostrando o status na justiça.

Essa foi a pergunta que mais nos desdobramos para formular, até porque foi difícil encontrar informação sobre os candidatos nos bancos de dados. O sistema da justiça é pouco automatizado e não é feito para leigos.

Money TimesHá algum paralelo interessante entre os dados captados por vocês em relação às pesquisas oficiais?

Christian Miguel: Basicamente, é uma questão de dados que não podemos abrir para a imprensa. A lei diz que qualquer dado divulgado a respeito disso constitui uma pesquisa eleitoral, então não podemos mostrar nada por enquanto.

Ainda assim, posso adiantar que, depois das eleições do legislativo, vamos contar com a participação de jornalistas, estudantes e especialistas para estudar os resultados da nossa plataforma como objeto de pesquisa.

Money TimesVocês pretendem fazer algo a respeito do segundo turno?

Christian Miguel: Não vamos cobrir o segundo turno. Nosso foco é legislativo. Por isso, nossa missão se cumpre em 7 de outubro. Quando lançamos a plataforma ontem, algumas pessoas até perguntaram qual era o filtro entre legislativo e executivo. Nosso foco é o legislativo.

(Tem Meu Voto)

Money Times: Apesar de ser uma iniciativa apartidária, alguns dos grupos que formam a iniciativa têm parcerias com partidos como o Acredito, que tem candidatos na REDE. Algum usuário reclamou da possibilidade dessas parcerias afetarem a metodologia do teste?

Christian Miguel: Na concepção do projeto, sabíamos que essa questão poderia surgir, então abrimos a plataforma para que todos os movimentos de ação coletiva pudessem participar.

Todo movimento que divulgou a iniciativa entrou como parceiro, porque alguns grupos são candidatos ou tem parceria com alguns partidos.

Mas temos vários órgãos de vários lados da política. Todos os movimentos envolvidos tem gente de outros partidos.
Foi uma preocupação desde o início. Todos os partidos foram convidados, e convidamos periodicamente os candidatos a participarem da plataforma.

ferminovictorio@gmail.com