É dado como certo que muitas usinas precisarão moer já em março em cenário incerto quanto ao mix
A abertura da safra 23/24 da bioenergia do Centro-Sul está com dias contados para ser em março e, mais que planejamento, é quase necessidade mesmo. O problema que envolve as usinas não é esse, pelo excesso de cana. O que fazer com o mix – e qual mix – com as dúvidas sobre o etanol e, por tabela, sobre o açúcar.
Começa a processar antes boa parte dos maiores grupos, conforme o mercado projeta, tendo que aguardar para acionamento da ‘chave’ industrial na virada de fevereiro para março, quando deverá se saber oficialmente se o PIS/Cofins e Cide sobre os combustíveis voltam a ser cobrados ou seguem desonerados.
“Vamos ver as condições de mercado em março em relação aos preços do etanol, que também é um motivador importante [de safra]”, diz Alexandre Figliolino, consultor da MB Agro.
A gasolina tem maior competitividade que o etanol hidratado sem impostos. E mais migração das indústrias para o açúcar não motiva preços em Nova York, pela oferta maior.
Desconsidera-se versões da Índia de que poderá produzir 4% menos adoçante na safra que caminha para o fim, em comunicado do governo publicado nesta terça, atribuindo às falhas nas chuvas entre outubro e novembro, informação que Maurício Muruci, da Safras & Mercado, contesta.
Para o lado que forem, fato é que Figliolino, mais análise da Datagro feita ao Money Times, além de expectativa demonstrada em nota pela Unica, apontam para muitas operações marcando o ritmo já a partir da primeira semana de março.
Ricardo Pinto, da RPA Consultoria, é o que está mais reticente quanto a uma antecipação mais generalizada da safra. “Isso [moagem antes de abril] acontece de forma generalizada somente quando as usinas percebem que terão mais cana do que sua capacidade de moagem no período normal”. Não será o caso, complementa ele.
Cana ‘velha’ e ‘nova’
Em linhas gerais, para as demais fontes, se dá como definitiva a sobra da cana em 2022, com as chuvas atrapalhando a moagem em vários momentos até final de novembro. A própria Unica registrou várias usinas ainda trabalhando na segunda quinzena de dezembro, o que só raramente acontece nessas mesmas ocasiões.
A Datagro, por exemplo, informa que, “vale recordar, que a região Centro-Sul passou a receber volumes normais de chuva desde outubro de 2021, favorecendo, sobretudo, os canaviais a ser colhidos a partir da segunda metade da safra 22/23”.
Janeiro e fevereiro tendem a permanecer chuvosos, a cana de início de safra está em bom desenvolvimento, e já há muitas reclamações de produtores que estão vendo os custos aumentarem. Gastam mais com controle de fungos e manejo contra o mato competição.
Se essas plantas – a cana ‘velha’ (chamada de bisada) e a ‘nova’ – passarem do tempo, também tem potencial produtivo ameaçado.
Com alguma normalização da precipitação esperada para março, Alexandre Figliolino, ex-diretor do Itaú BBA e frequentador de conselhos de vários grupos, vê boas condições para as indústrias rodarem as esteiras e as moendas.
Março mata o 1º trimestre
A consultoria Datagro vai mais longe na análise, embora não tenha um número claro do total de usinas que anteciparão abril: “Caso as condições climáticas permitam, as usinas ainda poderão moer um pouco mais de 10 milhões de toneladas durante o primeiro trimestre de 2023, das quais 9 a 9,5 milhões de toneladas apenas em março”.
Caso o cenário se concretize, vale lembrar que o que será moído em março acabará entrando nas estatísticas oficiais da safra 22/23, pois a partir do conceito estabelecido no Centro-Sul o ano-safra vai de abril a abril.
O Pecege, centro de estudos setoriais de Piracicaba, acredita em ciclo de 576,7 milhões de toneladas, alta que seria de mais de 5% sobre a temporada oficial, portanto, ainda vigente. Para a Unica, no acumulado de janeiro a dezembro, o processamento somou 541,5 milhões/t, mais 3,63% que nos 12 meses de 2021.
Na prática, não quer dizer nada para qual estatística irá a parte da cana-de-açúcar de março.
Será mais etanol e mais açúcar saindo, grosso modo, faltando menos de 1,5 mês e meio, e com a régua ainda na mão do presidente Lula, como afirmou um inseguro Fernando Haddad, ministro da Fazenda, quanto ao fim da isenção dos impostos em 28 de fevereiro.