E-commerce: Vale a pena investir no setor queridinho da Bolsa agora?
Quantas vezes você já ouviu a pergunta: “quem será a próxima Magalu (MGLU3)?” Provavelmente várias. Muitos inclusive já arriscaram a chamar a Magazine Luiza, como sendo a próxima Magalu, em uma alusão à capacidade da companhia de continuar crescendo e da consequente valorização dos papéis.
Se antes da pandemia já existia um fascínio sobre a companhia e sobre o setor de e-commerce, ele foi acentuado em 2020, quando ganhou ainda mais destaque na mídia e na conversa entre os investidores. Seja pela comodidade que esse tipo de modalidade oferece para o cliente, pela facilidade de achar os produtos ou simplesmente pelo forte crescimento apresentado nos últimos anos.
Através do gráfico abaixo, fica fácil de entender o motivo do segmento de e-commerce ter virado o queridinho da Bolsa. Em poucos meses de pandemia, sua participação no varejo foi radicalmente acelerada. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve um ganho de 5 pontos percentuais (p. p.) ao longo de 2020, enquanto no Brasil a evolução foi em torno de 3 pontos percentuais.
Fonte: Mastercard Economics Institute
Contudo, o que talvez não esperássemos é que a tendência de crescimento se normalizaria com o fim do isolamento social e volta à normalidade. Existia uma ideia de que os avanços provocados pelo e-commerce seriam mantidos, mas o que temos visto agora é uma desaceleração no crescimento do segmento e desejo das pessoas de sair na rua, de comprar nas lojas físicas, etc.
Independentemente disso, a verdade é que o seu fortalecimento veio para ficar. Até 2019, o volume bruto de mercadorias vendidas (GMV) no país através do e-commerce era de 5,2% do total de vendas do varejo. Com a pandemia, esse número saltou rapidamente.
Olhando para frente, a expectativa de avanço segue alta, apesar de uma provável desaceleração no crescimento. De acordo com as estimativas da Neotrust, o crescimento anual médio do segmento até 2026 deverá ser de 16,5% – contra os 18,9% de 2015 a 2019.
Fontes: Neotrust e BTG Pactual
O rearranjo do e-commerce com o caso Americanas (AMER3)
Com a divulgação do caso Americanas no início do ano, o segmento de e-commerce voltou à pauta. Se antes ele era dominado por poucos players (Magazine Luiza, Americanas, Mercado Livre, Via e Amazon), agora deveremos ter uma concentração ainda maior.
Em função dos receios dos clientes em comprar um determinado produto e não receber ou do fornecedor de entregar e não ser remunerado, foi perceptível a queda no fluxo das lojas e dos sites do grupo Americanas. De acordo com um estudo do Itaú BBA, a companhia perdeu cerca de 57% do fluxo de 11 de janeiro até o fim do mês. Na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, a Americanas teve queda de 56% no tráfego na web.
Essa perda de tráfego já pode ser percebida no estudo abaixo, realizado pela SimilarWeb e pelo BTG. Veja como a participação de mercado da companhia saiu de 12,9% em dezembro do ano passado para 9,5% em janeiro. Ainda não temos os dados oficiais referentes a fevereiro, mas arriscaria dizer que houve mais uma importante queda de participação de mercado da Americanas.
Fontes: SimilarWeb e BTG Pactual
Mas afinal, chegou o momento de investir no setor ou não?
Olhando para o resultado trimestral do 4T22 das companhias, os números não foram animadores. A Via (VIIA3) apresentou crescimento de apenas 6% no volume bruto de mercadorias (GMV) e números muito poluídos por diversos ajustes.
Já a Magalu (MGLU3), que conta com quatro pilares bem-definidos para a formação de seu ecossistema: Commerce, Logística, Magalu Pay e Magalu Ads, apresentou faturamento de R$ 11,1 bilhões no período, crescimento de mais de 18%, mas abaixo da expectativa do mercado. Embora tenha ganhado mercado, o resultado não foi suficiente para deixar os investidores entusiasmados com a tese.
No meu ponto de vista, quem surfou melhor o trimestre foi mais uma vez o Mercado Livre (MELI34), que já provou ter um modelo de negócios vencedor de longo prazo. O GMV do grupo cresceu 35%, enquanto o volume total de pagamentos (TPV) cresceu 80%. Com isso, a receita do grupo avançou 56% no período. Contudo, na minha opinião, o valuation esticado segue sendo um entrave.
Apesar do ganho de participação de mercado que todas terão nos próximos trimestres por conta dos problemas envolvendo a Americanas, acredito que o cenário macroeconômico segue desafiador: juros altos, inflação alta, aumento da taxa de desemprego e redução do poder de compra do consumidor seguirão imperando.
Os dados divulgados pela Cielo referentes a fevereiro já apontam uma queda de -7,3% do segmento de bens duráveis e semiduráveis contra o mesmo mês do ano anterior – um baque importante para Via e Magalu, tendo em vista a concentração de vendas desse tipo de produto. Tendo isso em mente e os desafios para o ano, minha sugestão para o momento é de acompanhar de fora o setor de e-commerce.
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA de Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passou a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série semanal Entre Altas e Baixas.