E-commerce da Via Varejo tem batismo de fogo com Covid-19, e impõe respeito
A esta altura, você já sabe que a Via Varejo (VVAR3) lucrou R$ 30 milhões no primeiro trimestre, revertendo as perdas de R$ 50 milhões de um ano atrás. Já viu, também, que as ações reagiram favoravelmente no pregão de hoje (14).
Então, vamos ao que interessa: a pandemia de coronavírus provou que a companhia está pronta para brigar, de igual para igual, no varejo online.
A avaliação é compartilhada por todos os analistas que já se pronunciaram sobre seu desempenho, desde a divulgação do balanço, na noite de ontem (13). O consenso representa uma mudança digna de nota do mercado, que desconfiava que a Via Varejo tivesse demorado demais para entrar no e-commerce.
De um lado, os analistas viam nativas digitais, como o Mercado Livre (MELI34) e a B2W (BTOW3), consolidarem suas posições no varejo digital. De outro, o Magazine Luiza (MGLU3) acelerava o passo na direção de se tornar uma empresa multiplataforma, ou omnichannel, no jargão do setor.
Alguns analistas, inclusive, já ignoravam a Via Varejo como um ator relevante neste mercado, e esperavam uma guerra entre o Magazine Luiza, o Mercado Livre e a B2W.
Força das circunstâncias
Mas, eis que a pandemia de coronavírus impõe o fechamento de lojas físicas e o isolamento social. E a empresa reage com força. “Acreditamos que a Via Varejo está rapidamente encurtando o gap existente entre ela e os principais players do canal online”, afirma Georgia Jorge, que assina o relatório do BB Investimentos.
Georgia acrescenta que tal avanço “traz maior segurança quanto à sua capacidade de ser um grande ominicanal do varejo, focado também em soluções digitais como meios de pagamento e super app.”
Em relatório obtido pelo Money Times, o UBS vai na mesma linha, ao destacar o forte crescimento das vendas online da empresa. Além de lançar um novo app (o Via+), os canais já existentes apresentaram um salto nas últimas semanas.
O canal 1P (venda online direta, em que o consumidor adquire produtos do estoque da Via Varejo) cresceu 260% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2019. Já o marketplace (3P) aumentou 130%.
Nele, outras empresas utilizam o ambiente criado pela companhia para vender seus produtos aos clientes, e a Via Varejo recebe uma comissão.
Para o Credit Suisse, é hora de todos prestarem atenção na concorrência da Via Varejo no mundo digital. Victor Saragiotto e Pedro Pinto, que assinam o relatório conseguido pelo Money Times, afirmam que “o abrupto crescimento das vendas online, em abril, provavelmente chamará a atenção dos investidores, que poderiam começar a incluir a Via Varejo na cesta do e-commerce”.
Os analistas acrescentam que ainda há um longo caminho pela frente, mas “a disposição da companhia em preservar seu capex para a transformação digital e os resultados já entregues nos deixam bem otimistas.”
Roteiro
Parte desse caminho já está mapeado e deve ser percorrido nos próximos meses, ainda sob o impacto da quarentena. Guilherme Assis e Felipe Reboredo, que respondem pelo relatório do Banco Safra, observam que a Via Varejo divulgou também um plano para o varejo digital, que será iniciado em 60 dias.
Ele prevê uma série de melhorias e novos serviços e funcionalidade para os clientes, maior integração entre os estoques dos canais 1P e 3P, com o objetivo de aumentar o poder de vendas de sua equipe, histórico de compras dos clientes e crédito pré-aprovado, entre outros.
“Também destacamos a rápida adaptação ao cenário da Covid-19”, acrescentam os analistas. Para se ter uma ideia, ferramentas simples, como uma hashtag no WhatsApp (#mechamanozap), permitiram que seus vendedores continuassem atendendo, mesmo em casa.
Segundo a Via Varejo, o resultado foi alcançar 70% da meta de vendas em abril, mesmo com 80% das lojas fechadas. Se havia alguma dúvida de que a Via Varejo não está no mundo digital para brincar, os números são um bom argumento para os rivais (e analistas) mudarem de ideia.