É cedo para avaliar impacto das chuvas no setor elétrico, comentam especialistas
O início do período de chuvas no Brasil traz um pouco de alívio para as empresas do setor de energia elétrica, bastante afetadas pela crise hídrica que o assombra desde o ano passado, considerada uma das piores do país nos últimos 90 anos.
No Sudeste e Centro-Oeste, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê que as hidrelétricas podem atingir 40% de capacidade, o maior nível de armazenamento para janeiro desde 2016. As duas regiões concentram os principais reservatórios de usinas do país.
Em setembro, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste registraram a mínima do ano passado, operando com 17% de capacidade. Os baixos níveis levaram o governo a adotar medidas para contornar a insuficiência de oferta de energia, dentre eles a aplicação da bandeira de escassez hídrica na conta de luz, criada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no fim de agosto do ano passado.
Cedo demais para comemorar?
Analistas da Genial Investimentos começam a enxergar uma luz no fim do túnel para as elétricas. Eles destacam que as chuvas devem trazer uma “pressão deflacionária considerável”, diminuindo o preço da energia.
Ariane Benedito, economista da CM Capital, diz, no entanto, que o período sazonal de chuvas melhora o nível dos reservatórios, mas não para níveis satisfatórios.
“A gente ainda precisa melhorar muito os níveis para ter um impacto para o consumidor final, que é o que realmente importa”, afirma.
Segundo Benedito, o mercado deve esperar o período chuvoso passar para entender se de fato houve melhora no clima e ficar de olho em projetos de infraestrutura de canalização dessas chuvas.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, e Marcel Andrade, head de Renda Variável da Vitreo, também acham que talvez ainda seja cedo para ter uma leitura definitiva sobre o assunto.
“A notícia é positiva para a inflação, mas ainda não traz benefícios para as empresas, que dependerão das políticas que serão feitas a partir dessa boa surpresa”, comenta Andrade.
Empresas que se beneficiam com a recuperação
As ações do setor foram penalizadas no período mais agudo da crise. Andrade reconhece, no entanto, que é melhor aguardar os próximos passos do governo e sua política energética para entender melhor o impacto sobre os papéis.
Na avaliação da Genial e da CM Capital, quem ganha em um ambiente hidrológico melhor são as geradoras.
“Elas devem ter seus fluxos de caixa menos afetados por gastos com GSF (fator de balanceamento do risco hidrológico), como ocorreu em 2021”, explica a Genial, que tem a Cesp (CESP6 – recomendação de compra e preço-alvo de R$ 35) como principal beneficiária dentro deste cenário.
A CM Capital costuma ter empresas de energia na carteira, já que o setor se encaixa na categoria de consumo básico e possui boas opções em distribuição de dividendos. A corretora opta pela diversificação no setor, com foco em empresas com atuação nas áreas de geração, transmissão e distribuição, e não só geradoras de energia.
Galdi, da Mirae, tem as transmissoras como mais indicadas no momento, tendo em vista os contratos corrigidos pelo Índice Geral de Preços (IGP-M) e as receita garantidas. Dois nomes do segmento se destacam: Transmissão Paulista (TRPL4) e AES Brasil (AESB3).
Para o Inter Research, a recuperação dos reservatórios, embora em fase inicial, leva a crer que 2022 terá um cenário melhor do que 2021.
Os dois principais papéis sugeridos pela instituição para o ano são Energias do Brasil (EDP Brasil – ENBR3), dada a sua diversificação e atuação em toda a cadeia, e Equatorial (EQTL3), pelos seus processos de turnaround e investimentos em novos mercados, como saneamento.
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