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E agora, o que fazer com as ações da Petrobras?

01 jun 2018, 18:23 - atualizado em 01 jun 2018, 18:23

As ações da Petrobras (PETR4) despencaram 14,86% nesta sexta-feira, para R$ 16,16, após o pedido de demissão do CEO, Pedro Parente, incomodado com a influência governamental sobre o rumo da estatal. Os papéis ordinários (PETR3) recuaram 14,9%, para R$ 18,88. A forte baixa veio também acompanhada de uma série de revisões do mercado. Os analistas temem o crescimento da intervenção do governo sobre a companhia.

O Conselho de Administração da Petrobras convidou Ivan de Souza Monteiro para presidir interinamente a estatal. Monteiro é o atual diretor executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores. Chegou à Petrobras junto com ex-presidente Aldemir Bendine, nomeado pela então presidente Dilma Rousseff.

O JPMorgan rebaixou hoje a recomendação de overweight (alocação acima da média) para neutra. Em comunicado em enviado a clientes, o banco destacou que o momento é para ficar de lado e esperar uma maior clareza quanto a situação da companhia. Os analistas do JP, contudo, acreditam que o impacto foi neutralizado pela manutenção da diretoria

Outras grandes casas também revisaram as projeções durante os últimos dias. No último dia 24, o Credit Suisse cortou a indicação de outperform (desempenho acima da média) para neutra. Hoje, o analista Regis Cardoso disse que a saída de Parente é muito negativa, e que o executivo mencionou em confissões recentes que partiria caso o governo interferisse na administração da empresa, particularmente na política de preços. Tememos que possa ser o caso”, pontua.

O Itaú BBA rebaixou a recomendação de outperform para market perform e cortou o preço justo da ação (PETR4) de R$ 32,00 para R$ 27,00. O analista Andre Hachem entende que os riscos para a tese de investimento aumentaram e, portanto, elevou sua suposição de Custo de Capital de 15% para 17%. O Santander também revisou para baixo a recomendação de compra para manutenção da Petrobras e rebaixou o preço-alvo estimado para as ações (PETR3) de R$ 27 para R$ 25.

Segundo o analista Gustavo Allevato, a reestruturação da Petrobras tem sido expressiva, e a empresa deve continuar a apresentar sólida geração de fluxo de caixa, redução da alavancagem e desinvestimentos de ativos não relacionados ao refino. “Contudo, acreditamos que os ajustes temporários recentes na política de preços do diesel, aliados às eleições presidenciais no país neste ano”, explica.

A XP Investimentos, que ao lado da Rico e Guide retirou os papéis da carteira recomendada para junho, avalia que com a maior percepção de risco para a política de preços com os anúncios de reduções no preço de diesel, existem muitas incertezas quanto ao impacto dos anúncios nas margens de refino e nos resultados da empresa como um todo, o que deve gerar volatilidade no curto prazo.

Oportunidade?

Mesmo com o aumento das dúvidas, o BTG Pactual entende que a desvalorização extrema das ações da estatal abriu um espaço para o posicionamento. “Políticas incertas não ajudam, mas a esse nível seríamos compradores da Petrobras”, destacam os analistas Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira em um relatório recente.

A Spinelli, que manteve a Petrobras em sua carteira mensal, reconhece o aumento do  risco político, porém entende que até o momento o governo e a diretoria da Petrobrás mostraram que a política de preços continua inalterada e que não caberá prejuízo financeiro a Petrobras, visto que o governo ressarcirá perdas temporais.

“Além disso, acreditamos que após a redução da arrecadação federal via eliminação dos impostos PIS/COFINS e Cide, poderá gerar um forte incentivo para o governo executar o leilão excedente do pré-sal, localizado na Bacia de Santos, que deve resultar em uma significativa receita extraordinária para o governo, mesmo após o pagamento do crédito a Petrobras que conforme algumas estimativas poderá receber até o valor de US$10 bilhões (equivalente R$2,50/PETR4)”, ressalta a corretora.

Em uma entrevista concedida para a newsletter de Luciana Seabra da Empiricus, o gestor da Alaska, Henrique Bredda, disse que decidiu aumentar a posição em meio à queda depois de fazer contas: “Para a Petrobras, isso vai custar 100 milhões de reais, o que é 0,03 por cento do valor da companhia”, disse. Pelos cálculos dele, a queda nos preços ultrapassaria cem vezes a justificada pelo prejuízo. “Não muda nada nossa opinião sobre o case”, disse já no primeiro dia de derrocada na Bolsa.

Ou seja, este é um momento de inegável crescimento das incertezas e de possíveis oscilações fortes no curto prazo. A decisão sobre o que fazer com as ações cabe ao investidor, enquanto vale a pena acompanhar de perto a visão dos analistas: maior cautela, mas uma aposta mantida de crescimento no longo prazo.