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E agora, Cielo? Concorrência coloca modelo da empresa em xeque

03 fev 2018, 19:58 - atualizado em 03 fev 2018, 20:23
Cielo
Analistas avaliam que a concorrência está afetando os resultados da empresa

O resultado da Cielo (CIEL3) no quarto trimestre do ano passado e de 2017 pesou sobre as ações e renovou a preocupação do mercado sobre o rumo da companhia adiante. Após só observar o crescimento da estratégia de venda de “maquininhas” para pequenos comerciantes, como o da concorrente PagSeguro, do UOL, que ganhou campo até ser coroada com um IPO em Nova York que girou US$ 2,7 bilhões, agora a companhia enfrenta um cenário muito mais desafiador do que o visto nos últimos anos.

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O lucro líquido ficou em R$ 1,1 bilhão no último trimestre de 2017, o que representa alta de 4,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recuou 1,3% no período, para R$ 1,378 bilhão, com a margem passando de 44,7% para 45,4%. A receita operacional líquida ficou em R$ 3 bilhões, queda de 2,7%. No ano, a receita da Cielo teve queda de quase 6%, a R$ 11,6 bilhões.

Segundo a companhia, a queda da receita ocorreu diante de redução do preço médio das transações em função de fatores como “ambiente competitivo” e concentração em clientes da área de grandes contas, além de “perdas de clientes do varejo relacionados ao início da captura da bandeira Elo por outras credenciadoras”.

Concorrência

Em um comunicado separado, a Cielo destacou que espera (guidance) para 2018 um crescimento de 5% a 7% no crescimento do volume financeiro e de 2% a 4% nos custos e despesas totais, além de investimentos (compra de terminais de captura) de R$ 300 mi a R$ 400 mi.

“Na nossa opinião, este guidance incorpora não apenas perdas de participação de mercado, mas também um grau de conservadorismo, já que a administração mencionou em teleconferência um crescimento do volume de cartões de apenas 9% para a indústria”, destacam os analistas do Credit Suisse Lucas Lopes, Marcelo Telles, Alonso Garcia e Otavio Tanganelli em um relatório que mantém a recomendação neutra e o preço-alvo de R$ 24.

Já o BTG Pactual optou por cortar a sugestão de compra dos papéis para neutra, porém mantendo o preço-alvo de R$ 27,50. “Como a maioria dos investidores, também temos preocupações/dúvidas sobre o que acontecerá com o modelo de negócio da Cielo com a concorrência mais difícil, regulação, tecnologias disruptivas, etc”, apontam os analistas Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis.

“No geral, os resultados do quarto trimestre reforçam nossas preocupações de que o ambiente competitivo mais forte deve continuar pressionando a receita da Cielo, reforçando a nossa recomendação neutra”, afirmam os analistas Rafael Frade e José Cataldo do Bradesco. O preço-alvo é de 27.

Estratégia

Na metade de janeiro, a Cielo decidiu entrar de cabeça na guerra das maquininhas com a compra de 100% da Stelo por R$ 87,5 milhões. A aquisição abre caminho para uma nova estratégia comercial que busca enfrentar o forte crescimento das “moderninhas” da PagSeguro.

A Stelo, que até a metade do ano passado era uma plataforma online para o e-commerce (similar ao PayPal), começou uma estratégia de vendas de “maquininhas” para os comerciantes. Ou seja, é uma nova seara para a gigante de meios de pagamentos, que trabalha principalmente com o modelo de aluguel.

Com os números da PagSeguro disponíveis publicamente, graças ao processo de abertura de capital, o sucesso da estratégia da empresa ficou mais evidente para todo o mercado. Com um volume de transações de R$ 38,5 bilhões em 2017, o que representa um crescimento de 173% ano a ano e 6% da Cielo, a empresa poderá ter um lucro líquido de aproximadamente R$ 470 milhões. É um avanço expressivo de 268% e que corresponde a 12% do lucro estimado para a Cielo no mesmo período.