‘É a política (…)’ que dita o rumo dos mercados nesta semana
Parafraseando a célebre frase de James Carville durante a campanha presidencial de Bill Clinton contra Bush pai nos anos 90, “é a política, estúpido” que está no foco dos mercados nesta semana. Afinal, soluções econômicas passam por decisões políticas.
E isso vale tanto aqui quanto lá fora. Ainda mais diante da agenda econômica fraca nos próximos dias. A última semana cheia de maio traz apenas a prévia da inflação oficial, o IPCA-15, e a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano. Também sai o índice de preços preferido do Federal Reserve, o chamado PCE.
Com isso, as atenções estão concentradas em Washington em meio ao impasse em torno do teto da dívida nos Estados Unidos. A ansiedade de que republicanos e democratas não vão conseguir evitar um calote antes do prazo de 1º de junho perturba os Wall Street.
Já em Brasília é grande a expectativa pela votação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados. Após a aprovação do pedido de urgência, a proposta que irá substituir o teto de gastos deve ir ao plenário entre terça (23) e quarta-feira (24).
Se aprovado, o texto segue então para o Senado. Em ambos os casos, é necessário o apoio da maioria absoluta das duas Casas do Congresso (41 senadores e 257 deputados). A votação no Senado é feita em turno único, enquanto na Câmara, em dois turnos.
Os mercados, a política e os juros
No entanto, ainda que a pauta política se movimente nos EUA, os investidores seguem em busca da próxima narrativa que irá ditar o rumo dos mercados globais nos próximos meses. Afinal, sobram incertezas frente ao dilema inflação ou recessão no país.
Com isso, os ativos de risco parecem estar subestimando os próximos passos do Fed. Afinal, ou o ciclo de aperto nos juros ainda não terminou ou os cortes na taxa dos Fed Funds serão mais profundos do que o esperado.
No Brasil, o Ibovespa e o dólar resolveram cortar a taxa Selic por conta própria. Embora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não tenha se animado com o impacto dos combustíveis na inflação, está cada vez mais difícil para o Comitê de Política Monetária (Copom) justificar a manutenção em 13,75% por muito tempo.
Isso porque, combinados, a mudança na política de preços da Petrobras e o quadro favorável no Congresso reduzem ainda mais os argumentos do BC, ainda que haja dúvidas sobre a eficácia da nova meta fiscal. Daí porque é a política que volta a dominar os mercados – principalmente no Brasil.
Afinal, a queda de braço entre governo e BC deve aumentar. E não só porque o arcabouço fiscal está se tornando uma realidade, mas porque o Executivo deve voltar a administrar os preços dos combustíveis. E há quem diga que há firme disposição para que a queda da Petrobras seja repassada às bombas de gasolina, provocando um efeito cascata sobre os preços em geral.