É a inflação que está reduzindo o poder de compra e destruindo o país? Na realidade, não
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Inflação sem controle não é nada bom. Quem viveu nos tempos da hiperinflação, nos anos 1980, sabe muito bem do que estou falando.
No entanto, estamos muito longe de uma hiperinflação, pelo menos até o momento.
É verdade que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do país, encerrou 2024 em 4,83%, ou seja, acima do teto da meta estipulada que era de 4,5%. O centro da meta era 3%.
Não que isso seja bom. Lembremos que a alta dos preços aconteceu mesmo com a taxa Selic nas alturas.
E como a expectativa para os próximos meses não é tão positiva, o Banco Central, agora presidido por Gabriel Galípolo, indicado do presidente Lula, elevou a taxa de 12,25% para 13,25%.
Se a decisão fosse sob o presidente anterior, Campos Neto, certamente haveria reclamação. Mas isso é outra história.
Pois bem, voltando a questão inflacionária e focando em 2025, o IPCA subiu 0,16% em janeiro, alinhado às projeções, com desaceleração impulsionada pela queda de 15% nos preços da energia.
No acumulado de 12 meses, a inflação caiu de 4,83% para 4,56%. A inflação dos alimentos subiu 1,07%, com alta nos alimentos frescos e deflação nos cereais (-0,86%).
Bens industriais registraram alta de 0,45%, abaixo das expectativas, enquanto o setor de vestuário teve deflação. Serviços aumentaram 0,78%, com desaceleração na alimentação fora do domicílio.
Como vemos, no acumulado de 12 meses houve até uma queda. É claro que a alta dos preços sempre impacta na renda das pessoas, na rentabilidade dos investimentos, no lucro real das empresas etc.
Mas no nível que está, não dá para afirmar categoricamente que é a única razão para que as pessoas tenham a sensação de perda de poder de compra.
Para a maioria da população essa percepção está diretamente ligada à inflação dos alimentos, que é o que mais impacta no orçamento das classes sociais mais baixas.
Mas devemos considerar outros fatores, como o dólar em um patamar muito alto, além de problemas externos como as guerras em andamento que contribuem para o aumento de preços em nível global.
Porém, o que pesa mesmo, é o descontrole fiscal. O governo insiste em gastar mais do que pode. E enquanto isso acontecer, a economia brasileira continuará a ser um poço de incertezas.
Já falei sobre isso e reforço neste espaço que é preocupante o fato de a economia estar sendo acelerada da forma errada, com estouro do fiscal e sem os investimentos necessários do setor privado.
A taxa de investimento privado está caindo e como o governo gasta muito de forma irresponsável, injetando dinheiro na economia e inflando um crescimento onde a demanda aumenta, mas a oferta não cresce na mesma proporção, temos aí uma inflação maior do que gostaríamos.
Tudo bem, o Brasil não tem como fugir dos eventos externos negativos, que acabam por gerar impactos nos preços daqui. Mas poderíamos melhorar muito a situação com um controle fiscal responsável.
Sem controle, os investidores da economia real sentem medo de arriscar. Então, um controle responsável das contas públicas teria o efeito contrário, com o aumento da confiança e a entrada de mais capital no setor produtivo.
Mais dinheiro na economia real é igual a mais produtos e serviços disponíveis para atender a demanda crescente sem resultar em aumento de preços. E isso responde à pergunta feita no título deste artigo.
A inflação não é a causa da queda do poder de compra das pessoas e do afundamento do país. É apenas consequência de diversos fatores, sendo a falta de uma política fiscal responsável o principal deles.