Saúde

Duramente atingida pela Covid-19, América do Sul agora lidera corrida global da vacinação

28 dez 2021, 9:36 - atualizado em 28 dez 2021, 9:36
Vacinas
A América do Sul é hoje a região mais vacinada do mundo, com 63,3% da população totalmente imunizada (Imagem: Pixabay/KitzD66)

Ao longo de grande parte de 2020 e início de 2021, a América do Sul foi o foco na luta global contra a Covid-19.

O estoque de oxigênio estava baixo no Peru. Coveiros trabalharam noite adentro em São Paulo. Corpos foram colocados em contêineres em Guayaquil, no Equador.

O Brasil viu seu número de mortes por coronavírus saltar para o segundo maior total do mundo, enquanto Argentina e Peru registraram alguns dos números mais expressivos ​​de mortalidade per capita no planeta.

Mas, nos últimos meses, apesar dos serviços de saúde desiguais e níveis de renda mais baixos do que na Europa ou nos Estados Unidos, a região emergiu como uma surpreendente vencedora na corrida da vacinação.

A América do Sul é hoje a região mais vacinada do mundo, com 63,3% da população totalmente imunizada, segundo projeto do site Our World in Data, que coleta dados oficiais de governos em todo o mundo.

A Europa vem em segundo lugar, com 60,7%. Na África, apenas 8,8% da população completou o esquema de vacinação.

As taxas de infecção e mortalidade despencaram em comparação com meados do ano, quando a América Latina e o Caribe eram responsáveis ​​por quase metade das mortes e infecções globais. Agora é a Europa onde o contágio está voltando com força devido à disseminação da variante Ômicron.

Os epidemiologistas apontam vários fatores que explicam a rápida campanha de vacinação. Mas o mais importante, dizem eles, foram décadas de campanhas de vacinação bem-sucedidas que criaram a infraestrutura necessária para a distribuição de doses em massa, ao mesmo tempo que inspiravam confiança entre a população.

O sucesso na vacinação contra a varíola, meningite, poliomielite e sarampo no último meio século mostra que poucas pessoas são contra a vacinação no Brasil, disse Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo.

Em algumas grandes cidades, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo, mais de 99% da população adulta recebeu pelo menos uma dose, segundo as autoridades. Os brasileiros comumente afirmam com orgulho que o país tem uma “cultura de vacinação”.

O mesmo pode ser dito de várias outras nações latino-americanas, que já haviam lançado grandes campanhas de imunização após surtos de doenças infecciosas traumáticos nas últimas décadas.

“Essa confiança foi construída ao longo de vários anos, é baseada nos benefícios de nosso extenso esquema de vacinação”, disse Leda Guzzi, especialista em doenças infecciosas de Buenos Aires.

Mensagens eficazes de saúde pública também têm sido essenciais, disse Albert Ko, professor da Escola de Saúde Pública de Yale e pesquisador colaborador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro.

No Brasil, por exemplo, o mascote conhecido como “Zé Gotinha” tem sido muito usado por autoridades de saúde para promover a vacinação, apesar de o próprio presidente Jair Bolsonaro se recusar a ser vacinado.

No início deste ano, o cantor de funk “MC Fioti” lançou um vídeo viral com a versão modificada de um de seus “hits” em homenagem ao Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, que envasou no Brasil a CoronaVac, o imunizante que deu largada à campanha de vacinação contra a doença no Brasil em janeiro.

Tempestade se aproxima

A região, no entanto, está longe de estar completamente segura, principalmente porque a variante Ômicron vem se espalhando pelo globo.

Mesmo com impressionantes 63,3% da população vacinada, a América do Sul permanece abaixo do limite que a maioria dos cientistas afirma ser necessário para oferecer uma proteção em massa. A Ômicron agora está se espalhando em grande parte da Europa, apesar dos níveis semelhantes de imunização.

Entre as crianças, as taxas de vacinação na América Latina também variam dramaticamente de país para país, com as autoridades no México e no Brasil relativamente lentas para aprovar as vacinas aos mais novos.

Outro problema potencial são as vacinas utilizadas.

Muitos países, como Chile, Uruguai e Brasil, confiaram fortemente na CoronaVac, vacina contra Covid-19 produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, particularmente na fase inicial de seus esforços de vacinação.

Embora se acredite que a vacina estimule rapidamente uma defesa, sua eficácia é inferior à de seus pares, e pelo menos um estudo inicial indicou que ela pode não produzir anticorpos contra a variante Ômicron. No início de dezembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que aqueles que receberam a CoronaVac –assim como todas as outras vacinas feitas a partir de vírus inativado– devem receber doses de reforço.

Epidemiologistas também dizem que a Ômicron pode ser mais hábil em driblar a imunidade gerada por infecções anteriores por Covid-19.

“Muitas pessoas, especialmente em comunidades vulneráveis ​​no Brasil, foram infectadas”, disse Ko, epidemiologista de Yale. “Vemos esse vírus infectando pessoas que já haviam se infectado antes.”

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