Dow Jones cai até 6% e fecha em baixa de 4,6%, maior queda desde 2011
Os mercados americanos tiveram uma forte queda hoje, em meio a uma onda generalizada de vendas de ações iniciada pelo receio de alta dos juros nos Estados Unidos. O Índice Dow Jones chegou a cair mais de 6% durante a tarde, recuperando depois parte das perdas, mas ainda assim fechou em baixa de 4,6%, a maior perda em um dia desde agosto de 2011.
Maior perda em pontos da história do Dow
Em número de pontos, o Dow Jones teve hoje a maior perda durante o pregão, o chamado “intraday”, de 1.600 pontos. No fechamento, a perda de 1.175 pontos também foi a maior da história, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor de Operações da Mirae Asset.
Ganho no ano vira perda
O Dow zerou os ganhos no ano e agora já perde 1,51% em 2018. Já o Standard & Poor’s 500 bateu -5% e depois reduziu as perdas para fechar em baixa de 4,1%, acumulando agora perda de 0,92% no ano. E o Nasdaq fechou em queda de 3,78%, preservando um ganho no ano de 0,92%.
Movimento de zeragem de perdas
A baixa dos mercados começou logo de manhã se acentuou no fim da tarde, quando o Dow Jones passou a cair mais de 2,5% e zerou os ganhos no ano. “No momento em que o Dow zerou os ganhos em 2018, o mercado veio abaixo com stops de grandes investidores”, explica Pablo Stipanicic Spier, diretor de operações da Mirae Asset.
Assim, a queda do Dow de 6% teria sido provocada por ordens automáticas de venda de ações para interromper perdas de grandes investidores, que dispararam uma reação em cadeia, acentuando a baixa. Depois, o mercado recuperou um pouco de racionalidade e a queda diminuiu, mas ainda assim a perda é expressiva. “Uma queda de mais de 4% no Dow Jones e no S&P é muito forte”, diz.
Volatilidade dispara e juros caem com busca por proteção
A grande oscilação provocou também uma disparada no índice de volatilidade do S&P 500, o índice VIX, que passou de 17,31% para 35,73%, uma alta de 102% na variação esperada para o principal indicador da bolsa americana. Depois, o índice recuou para 32,85%, ainda assim em alta de 90% sobre o dia anterior, mostrando o forte nervosismo do mercado americano.
Outro sinal da fuga dos investidores para longe do risco ocorreu no mercado de renda fixa americano. Os títulos do Tesouro dos Estado Unidos, vistos como porto seguro para os investidores que saem das ações, receberam um volume expressivo de recursos, o que puxou os preços dos papéis e derrubou as taxas de juros, de 2,81% para 2,70% ao ano.
O movimento de hoje é desdobramento do receio dos investidores com a alta da renda dos trabalhadores americanos divulgada na semana passada e que pode levar a um aumento da inflação e forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a subir o juros e reduzir a liquidez global. A queda foi mais severa nos Estados Unidos, mas atingiu todas as bolsas. Na Europa, o Índice Euro Stoxx 50 caiu 1,26%, o Financial Times 1,46%, o DAX, de Frankfurt,0,76% e o CAC, de Paris, 1,48%. Nos emergentes, o IPC do México cai 0,39% e o Ibovespa fechou em baixa de 2,59%, aos 81.861 pontos.
Novo presidente do Fed
Para Spyer, o mercado ficou nervoso e a volatilidade aumentou como novo presidente do Fed, Jerome Powell, tomando posse hoje. “Sábado foi o último dia de Janet Yellen, que já saiu dando notícia de que a alta de juros pode ser maior que a esperada esse ano, o que provocou realização de lucros globais”, afirma o diretor da Mirae, lembrando que os mercado estavam em suas máximas históricas.
Para ele, a alta forte do VIX mostra que a turbulência não é momentânea, mas pode ser passageira. “Devemos enfrentar mais volatilidade daqui pra frente até o mercado se acostumar e ou entender a cabeça do novo presidente do Fed”, afirma Spyer, lembrando que Powell declarou que “os EUA estão espalhando a bolha da renda fixa para todo o espectro, o que resultará em grandes perdas quando as taxas subirem mais à frente”.
O diretor da Mirae acrescenta que o mercado ainda vai digerir as falas e atitudes de Powell por algumas semanas. “Tudo que é novo gera zona de desconforto e demora um pouco para turbulência passar, mas com mais de 7% de queda em 2 dias fica bastante desconfortável entrar na bolsa sem aguardar um pouco mais…”