Política

Doria defende que Congresso avalie pedidos de impeachment de Bolsonaro

05 fev 2021, 8:49 - atualizado em 05 fev 2021, 8:49
João Doria
Já a atenção reservada por Bolsonaro a Doria atualmente indica que ele vê no tucano um adversário que pode atrair pelo menos parte dos eleitores que o escolheram em 2018 (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defendeu em entrevista à Reuters que o Congresso analise pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que preferiu não opinar se Bolsonaro deve ser destituído da Presidência por causa de sua gestão da pandemia de Covid-19.

“Essa é uma colocação que tem que ser feita pelo Congresso Nacional. A Câmara tem mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro por diferentes razões. Entendo apenas –como cidadão e não como governador– que cabe ao Congresso Nacional analisar aspectos que são importantes na obediência à Constituição”, disse Doria à Reuters na quinta-feira.

“Mas não cabe a mim, como governador do Estado de São Paulo, fazer considerações a esse respeito. Espero sim que o Congresso tenha responsabilidade, tenha altivez, tenha independência e discuta todos os temas que são relevantes para o Brasil e para os brasileiros.”

Doria é atualmente o principal crítico de Bolsonaro, especialmente pela atuação do presidente na pandemia, e a troca de farpas pública entre ambos é frequente.

O governador paulista também é amplamente visto como provável candidato à Presidência em 2022, quando Bolsonaro buscará a reeleição.

Ele, no entanto, não se coloca como principal antagonista do presidente, mas sim como um escolhido por Bolsonaro para ser seu principal inimigo político.

O governador paulista também é amplamente visto como provável candidato à Presidência em 2022, quando Bolsonaro buscará a reeleição (Imagem: Facebook/Joao Doria)

“O presidente Bolsonaro me coloca nessa condição. Há mais de um ano, aliás, ele indica que eu sou o seu principal adversário, adversário mais perigoso, e me oferece os piores comentários, os piores palavrões, as piores manifestações”, afirmou.

Na eleição de 2018, a situação era diferente. Diante da força de Bolsonaro no segundo turno do pleito, Doria procurou mostrar proximidade política com o então candidato para se fortalecer na disputa estadual, pregando o voto “BolsoDoria”. O governador afirma estar arrependido do apoio e do voto dado a Bolsonaro.

Já a atenção reservada por Bolsonaro a Doria atualmente indica que ele vê no tucano um adversário que pode atrair pelo menos parte dos eleitores que o escolheram em 2018.

Um dos principais pontos de embate entre Doria e Bolsonaro nos últimos meses foi a CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac, que está sendo envasada no Brasil pelo Instituto Butantan, vinculado ao governo paulista.

Após Bolsonaro criticar a origem chinesa da vacina, afirmando que ela não inspirava confiança, e garantir que o imunizante não seria adquirido pelo Ministério da Saúde, a CoronaVac foi comprada pelo governo federal e 8,7 milhões de doses foram entregues pelo Butantan ao Programa Nacional de Imunização (PNI), parte do total de 46 milhões de doses acertadas para entrega até abril.

Até o momento, além da CoronaVac, o Brasil conta somente com 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, desenvolvida em conjunto com a Universidade de Oxford, para vacinar contra uma doença que já matou quase 230 mil pessoas no país.

Sem colocar-se publicamente como candidato à Presidência no pleito do ano que vem, Doria avaliou que a CoronaVac, cuja aplicação começou em janeiro em São Paulo em evento com a presença do governador que deu a largada na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19, ajudou a nacionalizar seu nome.

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal liderança histórica do PSDB, afirmou que Doria precisa tornar-se um nome nacional para se credenciar à disputa ao Planalto.

“Veja como a dinâmica da política é muito rápida. Três meses atrás não se imaginaria que eu pudesse ter o nome nacionalizado tão rapidamente sem sequer viajar”, disse.

“Mas o meu nome se nacionalizou rapidamente em todo o país, dadas as circunstâncias de que nós defendemos a ciência, a vida e a vacina. E conseguimos, e devo dizer, vencemos também, porque foi essa a tese vencedora, vitoriosa, de termos uma vacina, de iniciarmos a vacinação.”

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Aliança para 2022

Eleito prefeito de São Paulo em 2016 em primeiro turno, algo inédito na capital paulista em eleições com possibilidade de dois turnos, Doria prometeu que cumpriria o mandato até o final, mas renunciou à prefeitura em 2018 para disputar o governo do Estado e, na ocasião, argumentou que foi compelido por aliados a fazê-lo. Ele não descartou deixar o Palácio dos Bandeirantes no ano que vem nas mesmas circunstâncias para enfrentar Bolsonaro.

“Pode ser”, disse. “É cedo para oferecer essa resposta”, respondeu o governador, apontando que a prioridade agora deve ser o combate à pandemia.

Ao mesmo tempo, ele aposta que PSDB, MDB e DEM estarão juntos na disputa eleitoral do ano que vem e não descarta ampliar este campo à esquerda.

O vice de Doria, Rodrigo Garcia, é do DEM, ao mesmo tempo que na eleição municipal do ano passado na capital paulista, Bruno Covas (PSDB) foi reeleito tendo um vice do MDB.

Doria declarou apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados em uma postulação patrocinada pelo ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Baleia foi derrotado ainda em primeiro turno por Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro que o apoiou abertamente.

O DEM desistiu de participar do bloco partidário de apoio ao emedebista e o PSDB flertou com essa possibilidade, mas acabou decidindo manter-se formalmente no grupo. O episódio teria levado Maia a aventar a possibilidade de deixar o DEM.

“Eu confio que, para as eleições de 2022, nós teremos de fato uma aliança entre o PSDB, o MDB sob liderança do deputado Baleia Rossi, e o DEM, ou o sucessor do DEM. O DEM vive uma situação anômala, uma situação diferenciada neste momento, talvez com a saída de alguns de seus líderes”, avaliou,

“Mas seja num novo partido decorrente disso, ou estabilizado e pacificado o próprio DEM, eu acredito que estaremos juntos para formar uma grande aliança pelo Brasil para as eleições presidenciais de 2022”, acrescentou.

Sobre seu próprio partido, Doria defendeu que a legenda se reúna nos próximos meses para deliberar sobre os posicionamentos da sigla “para que tenhamos princípios, altivez e sobretudo a história e a biografia do PSDB preservadas”.