Brasil

Dom Phillips e Bruno Araújo: exterior assiste a “inacreditável desorganização” brasileira

15 jun 2022, 19:02 - atualizado em 15 jun 2022, 19:02
Policiais e membros da equipe de resgate durante operações de busca pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira
Suspeitos confessaram à PF o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo (Imagem: REUTERS/Bruno Kelly)

Um suspeito pelo desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo confessou ter participado no assassinato da dupla, que desapareceu no dia 5 de junho em região da Amazônia.

A informação passada por fontes ao portal CNN Brasil nesta quinta-feira (15).

Nos últimos 11 dias, olhares diversos da comunidade internacional recaíram sobre a atuação do estado brasileiro para encontrar os desaparecidos.

A suspeita, desde o início, era de que o desaparecimento estivesse ligado a denúncias de atividades ilegais na região amazônica — e para o internacionalista e professor da USP Leonardo Trevisan, toda a questão envolvendo o desaparecimento de Phillips e Bruno colocam o Brasil em péssima posição diplomática.

Visão no exterior

“O isolamento internacional agrava-se ainda mais por essa constatação: o Estado brasileiro reconhece que não controla seu próprio território. E se não há estado, como vou saber que o produto que estou comprando é confiável? O agronegócio, que depende muito da manutenção de sua imagem em questões internacionais, sabe perfeitamente o dano que uma situação dessa provoca”, diz Trevisan.

O professor também lembra que, no contexto geral, tudo ocorre em um lugar que já recebia atenções por problemas anteriores ao desaparecimento, a Amazônia.

“É uma região do país que recebe todos os holofotes. Assim como se fala de futebol, a bossa nova nos anos 50, ou da imagem de povo gentil, você tem no exterior, atualmente, a associação da imagem do Brasil ao desmatamento. Se você conversa com um garoto americano de 16 anos de idade, ele pode não saber direito o que é o Brasil, mas ele sabe que a Amazônia está sendo desmatada”, afirma.

Situação é ruim, “inclusive para os negócios”

No a segunda-feira (13), a imprensa divulgou que os corpos dos desaparecidos haveriam sido localizados, após uma confirmação por parte da família de Phillips.

A informação, que haveria sido passada pela Embaixada do Brasil na Inglaterra aos familiares do jornalista, foi posteriormente desmentida pela Polícia Federal.

Trevisan, da USP, considera que o episódio passa uma imagem de desorganização “inacreditável” por parte da diplomacia brasileira, que afirmou na terça que passou informação equivocada à família de Phillips.

O professor também relembra que, em um cenário de avanço de pautas de ESG (sigla associada à valorização do meio ambiente, social e governança por parte das empresas) no mundo corporativo, investidores podem ter mais aversão ainda ao ambiente de negócios nacional.

“Isso, além de todo o resto, contamina o arcabouço institucional de certificação do Estado Brasileiro. O investidor estrangeiro, quando for justificar qualquer pauta de investimentos no Brasil, vai lembrar deste episódio e vai lembrar da na Amazônia. E vai ter que justificar o investimento para seu board”, afirma.

Bolsonaro se posiciona

O presidente Jair Bolsonaro (PL)  disse, nesta quinta, que Phillips era “malvisto na região”.

“Naquela região, que é uma região isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais que redobrado a atenção para consigo próprio. Ele resolveu fazer uma excursão. A gente não sabe se alguém foi atrás dele”, afirmou, em entrevista à jornalista Leda Nagle.

Bolsonaro afirmou que, no local onde a dupla desapareceu, existem “piratas” e “tudo o que se possa imaginar”, e que o jornalista foi imprudente ao andar pela região sem armamento.

“Apareceram vestígios, pedaço de víscera de corpo humano, está sendo feito [exame de] DNA aqui em Brasília. Já se levantou local onde poderiam ter pego esses caras e levado para a margem do rio. Pelo o que tudo indica, se mataram os dois, eu espero que não, eles estão dentro da água. E, dentro da água, pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha lá no Javari”, disse.

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Estagiária
Graduanda em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com enfoque acadêmico em Finanças Públicas. Tem experiência em empreendedorismo e novos negócios, tendo atuado na aceleradora de startups FGV Ventures. Participou da produção de podcasts sobre políticas públicas e atualidades, como "Dos dois lados da rua", "Rádio EPEP" e "Impacto FGV EAESP Pesquisa". Atuou como repórter na revista estudantil Gazeta Vargas.
laura.intrieri@moneytimes.com.br
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Graduanda em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, com enfoque acadêmico em Finanças Públicas. Tem experiência em empreendedorismo e novos negócios, tendo atuado na aceleradora de startups FGV Ventures. Participou da produção de podcasts sobre políticas públicas e atualidades, como "Dos dois lados da rua", "Rádio EPEP" e "Impacto FGV EAESP Pesquisa". Atuou como repórter na revista estudantil Gazeta Vargas.
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